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Fôlegos

Fui no fim de semana a Porto Alegre para uma festa de família. A volta pra São Paulo é sempre um choque, e dessa vez, jogado no banco de trás do carro de uma amiga que foi gentil de nos buscar, fiquei pensando que uma das principais características de sampa é o anonimato. E ele tem consequências boas e ruins: de um lado a sensação de insegurança total em qualquer lugar além da própria rua (e também nela) e uma ignorância inevitável a respeito dos mais de 80% da cidade que qualquer pessoa deixa de conhecer. Por outro lado, a sensação de liberdade, de possibilidade de reiniciar a vida, de oportunidades escorrendo pelos bueiros malcheirosos, de que sempre é possível conhecer uma nova pessoa interessante na padaria da esquina.

São Paulo me cansa. Faz mal mesmo. Uma semana em sampa e já preciso de férias. Mas eu sempre volto. Nas palavras de VS, é "uma porra de um ímã". Difícil deixar de orbitar em torno dela, e essa relação chega a ser um pouco doentia, viciante. Mas a gente segue. São Paulo também é uma cidade muito interessante, cheia de história recente amontoada em camadas, transformações mais rápidas do que as pessoas podem acompanhar, ciclos de expansão e decadência acontecendo simultaneamente, às vezes à distância de uma caminhada curta. Novos horizontes de desenvolvimento, antigas promessas abandonadas (e depois retomadas, e então abandonadas mais uma vez). A pujança e a precariedade, o potencial e a desconfiança. Terra de crenças, loucuras, individualismo compartilhado, ignorâncias mútuas, muito medo e muita boa vontade.

E a gente segue. Nem moro mais, mas não abandono. Não vejo outra maneira.

A incrível capacidade de responder o que não perguntaram

Do site do deputado Arnaldo Jardim:

RS (Revista Sustentabilidade): Na logística reversa prevista no programa, por que os eletrônicos e lâmpadas fluorescentes ficaram de fora?

Jardim: Os setores de construção civil e móveis também estão de fora. A logística reversa está prevista e vai ser implantada gradativamente. Por exemplo, a produção de lixo na cidade de São Paulo é de 3000 toneladas/dia, metade deste montante é gerada pela construção civil. Os setores que estão previstos no programa são aqueles que já têm o processo de tratamento adequado, estabelecido pelas normas do Conama. Com a política nacional, teremos maior embasamento para fiscalizar, a lei será muito mais forte, pois a resolução do Conama não tem força de lei, o judiciário não a reconhece como tal.

Manifesto - Lixo Eletrônico

Compartilhando aqui: publicamos no lixo eletrônico um manifesto e o link para um abaixo-assinado pedindo a inclusão (de novo) do lixo eletrônico na política nacional de resíduos sólidos. Por favor, ajudem a divulgar:

http://lixoeletronico.org/manifesto

Vale-tijolo

Pra quem quer nos dar presente de casamento: estamos planejando para os próximos meses começar a constuir nosso quarto na casa aqui em Ubatuba. Pra isso, estamos aceitando ajuda em dinheiro. Não prometemos seu nome em uma placa de bronze, mas vamos te receber de bom grado para visitas, com café fresco e torta feita com as bananas do quintal.

Aceitamos contribuições em múltiplos de R$ 50, e elas são identificadas - nós vamos saber que você nos ajudou! Clique na casinha abaixo para enviar pelo pagseguro.

Casei

No último dia 20, aqui em Ubatuba, sob os olhares de um monte de parentes e alguns amigos, eu e minha cúmplice de vida nos casamos. Algumas pessoas perguntavam "pra quê, depois de nove anos? vocês não precisam disso". Fato é que realmente não precisávamos, mas de fato queríamos. Como já comentei aqui nesse blog, eu me sinto parte de uma geração muito mais livre no sentido de inventar as próprias bases, sem precisar nem se submeter às tradições nem recusá-las totalmente. Preparamos um ritual remixado, dosando bem a reinvenção e a referência. Acho que no fim das contas conseguimos entregar pra pessoas com expectativas diversas o que elas queriam (e talvez só a gente tenha percebido que não era nem só uma coisa, nem outra). O stalker falou da carga irônica, e na hora não soube o que dizer. Eu não chamaria de ironia, mas talvez de representação ritual. A intenção não era a desconstrução, mas uma construção diferenciada.

Em determinado momento, fiz a chamada pelo brinde. Eu tinha anotado alguma coisa, mas não cheguei a ler. Como acredito que não haja registro em vídeo, vai a base do que falei abaixo (tirando todo salamaleque e agradecimento pela presença de todxs)

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P2p: Opera, unite!

Confesso que eu estava meio cético com o teaser do Opera, que prometia mudar a cara da internet com um lançamento hoje. Há algumas semanas eu tinha instalado um beta da versão 10, e apesar de gostar da rapidez, não tinha me convencido a deixar o firefox de lado. Nos últimos meses, acabei criando uma dependência da combinação xmarks + readitlater. Na verdade, tenho certeza que poderia usar o opera de forma bem parecida, mas a inércia falou mais alto.

Também tem o lance de o opera não ter o código aberto, o que não faz nenhuma diferença no meu uso cotidiano (já que eu não desenvolvo nada) mas me deixa um pouco mais afastado. Acho que também não gostei de alguma coisa na renderização de fontes, nem sei. Não tenho mais nem usado o opera mini no symbian, acho que pela chateação de ter que entender o que é o software unsigned pra permitir rodar coisas de dentro do browser.

Até que saiu hoje o lançamento do opera unite, que propõe que cada computador com um browser seja também um servidor, rodando diferentes serviços P2P. Isso ecoa não somente a conversas sobre P2P e compartilhamento transparente na finada lista metá:fora, mas também me faz pensar na clássica posição de Brecht de que cada receptor de rádio deveria também ser um emissor.leia mais >>

Eterno rewind

Semana passada encontrei Hdhd, Drica Guzzi e Cacau Freire na apresentação de Lizbeth Goodman no centro brasileiro britânico, em Pinheiros. Em paralelo à apresentação em si, que trazia alguns projetos e idéias interessantes, me bateu muito forte um flashback.

Há quase sete anos, em uma noite fria de São Paulo, peguei um carro emprestado, uma Fiorino branca. Passei no Itaim para pegar um amigo e fomos para Pinheiros assistir a um debate sobre "internet móvel" no centro brasileiro britânico. Nela estavam umas pessoas da BCP e de outras operadoras. Elas só falavam sobre modelo de negócios e SMS. Não consegui acreditar que, com tudo que a gente ouvia falar sobre possibilidades fora do Brasil (em especial no Japão), os caras que estavam tomando as decisões nas poucas empresas brasileiras de telefonia móvel tinham uma visão tão limitada. No dia seguinte, conversando no ICQ com o amigo que tinha ido junto, decidimos fazer uma lista de discussão para conversar sobre as possibilidades mais amplas das tecnologias, não nos limitando a pensar em mercados ou IPOs. Ele sugeriu um nome. Estabelecemos uma lista de 15 pessoas a convidar. No dia seguinte, 12 delas estavam na lista.leia mais >>

Simbião

No ano passado eu postei aqui sobre internet móvel, e lá pelo meio comentava que estava de olho em um nokia E51 mas a operadora ainda não oferecia ele quando peguei a linha. Usei por um tempo o w380, mas continuei acompanhando o E51. Geralmente eu leio especificações e resenhas e comentários de usuários, e cada vez ficava mais interessado no aparelhinho.

Em janeiro, aproveitando a ressaca pós-natal, fui a uma loja e negociei pra pegar um E51 por um preço razoável. No começo estranhei um pouco a interface ( o symbian exige mesmo um pouco de aprendizado), mas foi só brincar um pouco pra perceber que ia gostar muito do sistema. Nessa época estava rolando a Campus Party, e aprendi algumas coisinhas conversando com aliados que já estavam usando o Symbian - markun, CH e principalmente Tiago Bugarin.leia mais >>

Construção da inovação

No Mais da FSP domingo passado, Peter Burke fala (fechado pra assinantes, vacilo da fôia) sobre como a inovação não se limita à figura do gênio isolado que tem um ímpeto de inspiração:

Mas o que exatamente é inovação? Suspeito que a visão da era do romantismo sobre a inovação continue a prevalecer ainda hoje.
De acordo com ela, a inovação é trabalho de um gênio solitário, muitas vezes um professor distraído que carrega uma ideia brilhante na cabeça -aquilo que meu tio, um físico que trabalhava no setor industrial, costumava chamar de "onda cerebral".

(...)

No entanto existe uma visão alternativa sobre a inovação, da qual eu por acaso compartilho.
De acordo com essa segunda visão, a inovação é gradual em lugar de súbita e coletiva em vez de individual.
Não existe uma oposição acentuada entre tradição e inovação. É possível até mesmo identificar tradições de inovação, sustentadas ao longo de décadas, como no caso do Vale do Silício, ou de séculos, como nos campos da pintura e da escultura durante a Renascença florentina.

Novos usos
Por isso, em lugar da metáfora da "onda cerebral", talvez fosse mais esclarecedor usar como metáfora a reciclagem, o reaproveitamento ou o uso improvisado de materiais.
O caso da tecnologia serve como exemplo.
Na metade do século 15, Johannes Gutenberg inventou as máquinas de impressão. No entanto, prensas estavam em uso na produção de vinho havia muito tempo na Renânia natal de Gutenberg e em muitos outros lugares. Sua brilhante ideia não surgiu do nada; na verdade, representou uma adaptação da prensa de vinho a uma nova função.

(...)

Analogias e metáforas parecem desempenhar papel essencial no pensamento, da física (vide a ideia de "ondas", por exemplo) à antropologia, na qual culturas estrangeiras são muitas vezes comparadas a livros que precisam ser lidos.

Metáforas, reciclagem, remix. Nada de novo, mas é mais um reforçando...

Sleep dealer

Tô querendo muito assistir a esse Sleep Dealer.  Mais do que o filme em si, tô gostando das conversas com o diretor, Alex Rivera. Boa entrevista aqui, que tem a ver com futuros imaginários e com uma conversa que o William Gibson tava levando no twitter, elogiando a 'atemporalidade' e questionando as pessoas que tentam sempre estar in.

But, you know, a lot of times we use the word "futuristic" to describe things that are kind of explosions of capital, like skyscrapers or futuristic cities. We do not think of a cornfield as futuristic, even though that has as much to do with the future as does the shimmering skyscraper.

MARK ENGLER: In what sense?

ALEX RIVERA: In the sense that we all need to eat. In the sense that the ancient cornfields in Oaxaca are the places that replenish the genetic supply of corn that feeds the world. Those fields are the future of the food supply. 

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