cyberpunk

Pre-crime

Dos motivos que me fazem odiar essa coisa das pessoas deixarem de usar email e passarem a usar somente as mensagens particulares do Facebook:

Há pouco recebi uma mensagem de um contato do FB perguntando sobre um texto meu. Colei na caixa da mensagem o link para o ebook Repair Culture cuja versão preliminar eu publiquei há alguns meses. Quando apertei "enter" para enviar a mensagem, o Facebook abriu uma camada por cima de toda a minha tela avisando que eu estava enviando um link perigoso, ou algo assim. Chocado, até esqueci de tirar print, vou fazer isso se acontecer de novo.

Quer dizer que eu estou em uma conversa "particular" com uma pessoa que está em minha rede de contatos (e vice-versa, como é obrigatório no FB), e tento mandar um link para o MEU site, hospedado no MEU servidor, e a empresa estadunidense que propicia nossa conversa decide me colocar em suspeição? E se eu não tivesse certeza de que o link é legítimo? Será que meus links estão sendo bloqueados em outras conversas também?leia mais >>

Cyberpunk de Chinelos

O mundo virou cyberpunk. Cada vez mais as pessoas fazem uso de dispositivos eletrônicos de registro e acesso às redes - câmeras, impressoras, computadores, celulares - e os utilizam para falar com parentes distantes, para trabalhar fora do escritório, para pesquisar a receita culinária excêntrica da semana ou a balada do próximo sábado. Telefones com GPS mudam a relação das pessoas com as ideias de localidade e espaço. Múltiplas infraestruturas de rede estão disponíveis em cada vez mais localidades. Essa aceleração tecnológica não resolveu uma série de questões: conflito étnico-cultural e tensão social, risco de colapso ambiental e lixo por todo lugar (em particular o Lixo Eletrônico, que no Brasil ainda está longe de ter o tratamento adequado), precariedade em vários aspectos da vida cotidiana, medo e insegurança em toda parte. Mas ainda assim embute um grande potencial de transformaçãoleia mais >>

Inadin

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E mais um trecho do Piratas de Dados:

p. 331

Era noite. Uma multidão mal-vestida, de cerca de cem pessoas, tinha-se reunido na frente de uma das cúpulas. Esta estava metade aberta, como um anfiteatro improvisado. Os músicos inadin estavam tocando novamente e um deles dançava e cantava. Sua canção tinha vários versos. Outro inadin dançava ao compasso, às vezes dando um forte grito de aprovação. A multidão acompanhava com satisfação.

- O que ele está dizendo? – perguntou Laura.

Gresham começou a recitar a poesia com sua voz de locutor de televisão:

“Ouve, povo dos Kel Tamashek,
Somos os inadin, os ferreiros.
Sempre vagamos em meio às tribos e clãs,
Sempre levamos suas mensagens.
A vida de nossos pais era melhor que a nossa,
E a de nossos avós, ainda melhor.
Há algum tempo, nosso povo viajava por todo lugar,
Kano, Zanfara, Agadez.
Agora, vivemos nas cidades e somos transformados em números e letras.
Agora, vivemos nos campos e comemos comida mágica, dentro de tubos.”

Gresham parou.

- A palavra que eles usam para mágica é tisma. Significa “a arte secreta dos ferreiros”.

- Continue – pediu ela.

“Nossos pais tinham leite, doce e tâmaras.
Nós só temos urtigas e espinhos.
Por que sofremos assim?
Será o fim do mundo?
Não, porque não somos homens maus,
Não porque agora temos tisma.
Somos ferreiros, que têm a magia secreta,
Somos ourives que veem o passado e o futuro.
No passado, esta terra foi rica e verde.
Agora, é rocha e poeira.”leia mais >>

Piratas de Dados – tecnomagia

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Alguns pedacinhos do Piratas de Dados, edição brasileira (bem difícil de encontrar, por sinal) de 1990 do Islands in the Net, de Bruce Sterling:

p. 146

O primeiro-ministro inclinou-se para a frente, os óculos brilhando. Suas medalhas cintilavam.

- Alguns homens negociam com informação – disse para Laura – e outros com a verdade. Mas alguns negociam com magia. A informação flui em torno deles. A verdade flui para você. Mas a magia… Flui através de você.

- Isso é um truque – disse Laura, segurando a borda da mesa. – Vocês querem que eu me junte a vocês. Como posso confiar em vocês? Eu não sou mágica…

- Sabemos o que você é – disse Gould, como se falasse com uma criança. – Sabemos tudo a seu respeito. Você, sua Rizome, sua Rede. Acha que seu mundo abrange o nosso. Mas não é assim. Seu mundo é um subconjunto do nosso – golpeou a mesa com a mão aberta; o barulho foi o de um tiro. Vê, sabemos tudo a seu respeito. Mas você não sabe nada sobre nós.

- Você tem uma piada, talvez – falou Rainey. Estava recostado em sua poltrona, examinando as pontas dos dedos, com os olhos semicerrados e o rosto vermelho. – Mas você nunca vai ver o futuro, o futuro de verdade, até que aprenda a abrir sua mente. Contemplar todos os níveis…

- Todos os níveis debaixo do mundo – continuou Castleman. – Truques, como você chama. A realidade nada mais é senão níveis e mais níveis de truques. Tire esses estúpidos óculos escuros e poderemos mostrar-lhe… Muitas coisas.

p.200

- Por que isso? Por que simplesmente não me telefonou?

- Os telefones não estão funcionando direito – explicou o rapaz. – Estão cheios de fantasmas.

- Fantasmas? – perguntou Laura. – Quer dizer, espiões?

O rapaz resmungou alguma coisa em malaio.

- Ele quer dizer demônios – traduziu Ali. – Maus espíritos.

- Está brincando? – disse Laura.leia mais >>

Ilhas na rede

Achei na estante virtual uma cópia do Piratas de Dados, versão em português (com péssima tradução do nome, mas enfim...) do Islands in the net, de Bruce Sterling. Estou lendo sem pressa, mas já encontrando alguns trechos interessantes, como esse diálogo entre Laura e Debra:

- Quanto maior o corpo, menor o cérebro, é essa a estratégia? - perguntou Laura. - O que aconteceu com o bom e velho princípio do  dividir para governar ?

- Não se trata de política, mas de tecnologia. Não é o poder deles que nos ameaça, mas a imaginação. A criatividade vem de grupos pequenos. Foram os grupos pequenos que nos deram a luz elétrica, o automóvel, o computador pessoal. As burocracias nos deram a usina nuclear, congestionamentos de trânsito e redes de televisão. As primeiras três coisas mudaram o mundo. As outras três são apenas história.

Cyberpunk de chinelos

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Escrevi isso para o Simpósio de Arte Contemporânea que vai acontecer no fim do mês no Paço das Artes, em Sampa. Também vou mediar uma mesa sobre "Redes Sociais, Arquivo e Acesso".leia mais >>

Sleep dealer

Tô querendo muito assistir a esse Sleep Dealer.  Mais do que o filme em si, tô gostando das conversas com o diretor, Alex Rivera. Boa entrevista aqui, que tem a ver com futuros imaginários e com uma conversa que o William Gibson tava levando no twitter, elogiando a 'atemporalidade' e questionando as pessoas que tentam sempre estar in.

But, you know, a lot of times we use the word "futuristic" to describe things that are kind of explosions of capital, like skyscrapers or futuristic cities. We do not think of a cornfield as futuristic, even though that has as much to do with the future as does the shimmering skyscraper.

MARK ENGLER: In what sense?

ALEX RIVERA: In the sense that we all need to eat. In the sense that the ancient cornfields in Oaxaca are the places that replenish the genetic supply of corn that feeds the world. Those fields are the future of the food supply. 

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Criando futuros

Ainda da participação de David de Ugarte na Conferência Cyberpunk de 2003, em Praga:

... La forma de pensar y actuar políticamente de la comunidad ciberpunk y ciberactivista española conduce al fin a algo diferente del “howto” memético. A una forma de mitificar que podríamos resumir en la tríada voluntad-programa-mito. Voluntad como deseo de un futuro, programa como diseño consciente de éste y creación del mito, del discurso sobre como será el futuro, como palanca para condicionar la actividad propia y ajena en el presente.

Es seguramente por ésto que el movimiento ciberactivista español no ha producido tanto una novelística (utiliza y se identifica selectiva y secuencialmente como hemos visto, con el ciberpunk americano) sino una ensayística web-published.

El último gran proyecto colectivo en este sentido -”Como una enredadera y no como un árbol” - podría entenderse como la cristalización de toda esta “filosofía ciberpunk del mito de futuro” que ya ha funcionado con los mitos del software libre. En menos de 5 meses ha agrupado en distintos niveles a más de 1300 personas. En su propia organización -tomada de las comunidades de desarrollo del software libre - es una máquina social diseñada para generar su propio mito: “el mundo tiende a organizarse como una comunidad de sofware libre y a adoptar formas de propiedad cercanas al copyleft”.