cunha

Escuta em silêncio, enxerga distante

Hoje de manhã. Cachoeira do Pimenta, em Cunha.

Mergulhar na água gelada e sentir por uma fração de segundo a suspensão do entorno, do mundo, do universo inteiro. Bater cabeça em uma rocha lascada de muitas toneladas, que deve ter se mexido da última vez quando não existiam Brasil ou fronteiras, talvez nem essa coisa estranha que chamamos civilização ou mesmo esses macacos quase pelados que andam em duas patas e fazem tanta coisa estúpida.

Aí sentei à sombra e fiquei olhando aquela água toda, Xangô & Oxum em linda dança. E de repente vi aquela rocha toda se mover. Um movimento estranho, não tão físico assim. Mas vi sim.

Belo dia com família. Quero muitos desses mais.

O reveillon das muitas barreiras - parte III

(continuando o causo que comecei a contar aqui e aqui)

O segundo dia do ano amanheceu aos poucos. Vi duas ou três vezes a luz do sol pela janela, mas não dei atenção. Contabilizava as sequelas - as pernas puxavam um pouco, nada de grave. A garganta estava pior - a curta noite anterior e a quantidade de chuva que eu tinha tomado tinham deixado sinais. Doía do fundo da boca até o ouvido esquerdo. Levantei, tomei uma colher de mel e voltei para a cama. Helicópteros passaram algumas vezes pelo céu.

Acordei de verdade com a Thalita me pedindo o telefone da pousada. Foi ao telefone público na vila para falar com o pessoal que estava lá. Também não conseguiu com o número que tínhamos, mas ligou pra Ubatuba, pediu pro pessoal entrar em contato com a galera na pousada para que ligassem de volta (o telefone público da Barra, felizmente, recebe ligações). Voltou um pouco tensa. O pessoal não gostou de ouvir que a estrada estava ruim. Ansiavam por roupas secas, sapatos, remédios, etc. Ainda estavam usando a roupa de festa de duas noites antes. Pediam ajuda.

Decidimos que uma parte da galera caminharia até a pousada levando os pertences básicos pra galera. Eu quis ficar por causa da garganta, me resguardando para os dias seguintes. Subiriam Thalita, Thyago e Daisy. Ainda acordando, aprontamos três mochilas o mais rápido que conseguimos, com as coisas do pessoal, água e o último pacote de biscoito de polvilho. Os três saíram. Fui lá atrás - no "queijo" - acenar para eles.leia mais >>

O reveillon das muitas barreiras - parte II

(continuação desse post)

A chuva havia parado totalmente. Percorremos o curto trecho de asfalto até a saída para a estrada de terra da Barra sem problemas. Em pouco tempo, paramos no mesmo lugar da noite anterior: um rio cruzava a estrada. Nem sinal do carro que estava lá na madrugada. Descemos para verificar se era possível atravessar. Peguei um pedaço de madeira para testar a profundidade. Em alguns pontos, chegava a meio metro. Em um passo equivocado, afundei tanto a perna que a bota encheu de água - encharcando de novo a meia que tinha secado pela manhã.

O vizinho com a Ranger, que nos acompanhou desde a pousada, tentaria passar primeiro - pela esquerda, que parecia mais tranquila. Como não sabíamos se poderíamos seguir em frente com os carros normais, Thalita e Irene iriam de carona na caçamba dele. Ele acelerou - até um pouco demais na minha opinião - e passou corcoveando. Decidimos tentar. A Ecosport do Ricardo passou fácil, a gente não teve problemas com o bom e velho Uninho, e nem o Michael com a Saveiro. Já o Gol da Irene passou, mas logo depois apagou. Tentamos empurrar, e nada. Abrimos o capô. É um saco chegar nas velas do Gol - para tirar o filtro de ar e o suporte dele, precisamos de uma chave de fenda - que felizmente um metarecicleiro sempre tem por perto ;). Mas as velas não pareciam ter molhado. Acabamos amarrando o Gol na Ecosport e seguimos jornada.

tentando dar um jeito no carro da Ireneleia mais >>

O reveillon das muitas barreiras - parte I

O reveillon das muitas barreiras
ou
causo sobre a expectativa de retorno à rotina e aos planos
ou
saindo da rotina - e querendo voltar

Pela primeira vez em muitos anos, o grupo não passaria a noite de reveillon na roça. Reservamos uma mesa para quinze no restaurante Quebra Cangalha, quase na saída de Cunha. Nos encontraríamos no sítio nos dias anteriores, e iríamos todos juntos à cidade na noite de 31 de dezembro de 2009.

Sabíamos que nos esperava um ano intenso. Também sabíamos que a chuva caía forte e traria algum transtorno. A semana já havia avisado. Alguns dias antes, o Mauro precisou esperar o rio baixar em uma ponte, depois outra e mais uma. Chegou ao sítio com algumas horas de atraso. O comentário era que desde 1985 - o ano do Rock in Rio - não acontecia algo parecido. Sabendo disso, nossa saída para o reveillon na cidade contaria com alguns cuidados especiais - para percorrer os dez quilômetros de estrada de terra e outros dez de asfalto em quatro carros, levaríamos casacos impermeáveis, rádios de comunicação, duas cordas grandes e duas lanternas. A roupa de festa seria vestida depois que chegássemos a Cunha. Na ausência de galochas propriamente ditas, calcei as botas de neve que comprei em liquidação no dia mais quente do verão na Alemanha - 34 graus em uma cidade da Saxônia, ainda mais insuportáveis quando precisei provar o tamanho das botas. Também tomei o cuidado de deixar o celular carregado.leia mais >>

Retiro

Dia 25 estou saindo mais uma vez pro nosso pequeno paraíso em Cunha. Fico lá sem internet nem telefone nem celular até dia 10 de janeiro. Devo ir algumas vezes pra lan house no centro da cidade, mas a idéia é ficar fundamentalmente desconectado por uns dias, focado em viver, andar no mato e... compilar a primeira edição do Mutirão da Gambiarra, que se tudo der certo vai estar pronta para ser lançada durante o encontrão de metareciclagem na campus party.