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Aposentando o blog

Este blog ficou muito tempo parado. Ultimamente era somente um agregador de conteúdo que publico em outras partes. E ele ainda dá um pouco de trabalho para manter funcionando. Usa uma versão antiga do drupal, que já não prevê mais atualizações. Ainda assim, tenho aqui quase dez anos de blog, além de outros cinco anos anteriores que foram importados de outras plataformas.

Então decidi fazer uma versão estática deste site. Não haverá mais atualizações por aqui. Quem quiser saber de mim, por favor procure no endereço novo, que no momento que publico este post ainda nem está no ar mas vai futuramente ser o lugar principal para minha presença pessoal na web:

http://efeefe.me

Nos vemos por aí.

Escuta em silêncio, enxerga distante

Hoje de manhã. Cachoeira do Pimenta, em Cunha.

Mergulhar na água gelada e sentir por uma fração de segundo a suspensão do entorno, do mundo, do universo inteiro. Bater cabeça em uma rocha lascada de muitas toneladas, que deve ter se mexido da última vez quando não existiam Brasil ou fronteiras, talvez nem essa coisa estranha que chamamos civilização ou mesmo esses macacos quase pelados que andam em duas patas e fazem tanta coisa estúpida.

Aí sentei à sombra e fiquei olhando aquela água toda, Xangô & Oxum em linda dança. E de repente vi aquela rocha toda se mover. Um movimento estranho, não tão físico assim. Mas vi sim.

Belo dia com família. Quero muitos desses mais.

Quarta Conferência Municipal de Cultura de Ubatuba

Sim, Ubatuba é uma cidade onde a gente anda de bicicleta, vai à praia, percorre trilhas e reclama de mosquitos. Também é um lugar onde se encontram vegetais orgânicos e peixes produzidos localmente. E onde convivem muitas culturas.

Mas talvez mais importante, Ubatuba é uma terra onde mesmo em um sábado chuvoso no meio de um feriado estendido, dezenas de pessoas passaram o dia inteiro debatendo políticas culturais para o futuro da cidade. Podia ser melhor. Podia ser mais claro. Podia ser mais efetivo. Teria mais gente, não fosse uma série de erros que começaram dois anos atrás. Os cinquenta que estavam presentes hoje deveriam ter sido cento e cinquenta. A gente podia ter perdido menos tempo e ter feito mais. Sempre.

Mas chegamos ao fim do dia. E chegamos ao fim de um processo de dezesseis encontros, que recupera um processo de dois anos, que recupera um processo que vem desde a década passada. E mesmo com todas as ressalvas e mesmo com todo o cansaço ficou uma sensação positiva. De que é até possível estragar, por falta de habilidade, um processo coletivo. Mas que enquanto houver gente disposta a recuperá-lo, existe esperança. E o brilhante insight de uma amiga e agora colega conselheira, de que Ubatuba não é só a capital do surf, da mata atlântica, da economia solidária (e da cultura pós-digital). Pois é, tem mais: Ubatuba é boa de resistência coletiva. Este foi somente um pequeno episódio.

E fico feliz de pela primeira vez na vida ser integrante de um conselho de políticas públicas, ocupando a cadeira de cultura urbana e digital. Vamos em frente, que temos um plano a redigir, aprovar e implantar. E agora com mais comunicação pela internet, afinal tô na área.

Gerações

A chuva deita-se leve sobre Ubatuba, uma camada conectando as vozes a conversar na sala, uma guitarra distorcida experimental do outro lado da casa, a ocasional tosse da pequena e algum suspiro do bebê. Sobre essa base espontânea, meu telinha soa de tempos em tempos avisando de mensagens que chegam. Imagino o que são, mas só as lerei daqui a pouco. Antes preciso escrever um texto, beber algumas cervejas e digerir o momento.

O som homogêneo da chuva sobressai e leva a mente para longe. Há poucos minutos, comentei com meu pai que o destino todos sabíamos, só o itinerário e o tempo é que variavam.

É curiosa essa coisa das gerações. Eu cresci de certa forma habituado à existência de bisavós vivos, presentes e relativamente lúcidos. Conheci uma bisavó materna e todos os bisavós e bisavôs paternos. Com os últimos, recordo de muitos episódios concretos na infância, adolescência e juventude. Minha última lembrança da (bisa)vó Ruth, por exemplo, é de um telefonema em que ela mandou um beijo para Carol, então minha nova namorada naquela época em que eu ainda me acostumava com a vida em São Paulo. Isso aconteceu já neste milênio de agora. Eu era maior de idade, já andava com a mulher que um dia viria a ser mãe de meus filhos, e ainda falava ao telefone com a minha bisavó. Pouco tempo depois ela se foi, a última de sua geração diretamente ligada à minha existência.leia mais >>

Mortovivo telefonia imóvel

Aí estava eu sábado à tarde numa sala de espera de hospital (história desimportante, não vou perder tempo contando) quando recebo um SMS da Vivo. "Você já gastou o limite de dados do plano no mês, mande mensagem se quiser contratar mais". Tive certeza que era engano deles, porque raramente uso sequer um quarto do meu plano de 4Gb mensais.

Veio domingo e percebi que a internet no celular estava extremamente lenta. Liguei lá. Expliquei. Caiu. Não ligaram de volta. Liguei de novo. Expliquei. Caiu. Me ligaram de volta. Disseram que eu tinha mesmo esgotado - em nove dias havia supostamente baixado 5.9Gb no celular. Falei que estava errado, no meu ritmo usual de consumo demoraria alguns meses para baixar isso tudo. Passaram para o "setor técnico" onde um rapaz simpático foi verificar e descobriu que um único acesso no sábado à tarde, começando às 17h e pouco, havia consumido quase 5Gb em cerca de uma hora. Argumentei com ele que nesse horário estava numa sala de espera no hospital e, com a velocidade que a Vivo oferece, nem que eu quisesse conseguiria baixar 5Gb em uma hora. Na verdade, nem se estivesse de frente para a antena eu conseguiria. Argumentei que o contador do android fala que eu consumi 850Mb ao longo de trinta dias. Ele falou então "isso deve ser erro no nosso sistema, vou passar de volta para o comercial para que voltem sua conexão à velocidade original". Ainda perguntei "não vou ter que pagar por esses dados, né?". Ele falou "não, não vai precisar". Aguardei mais uns dez minutos de musiquinha ruim e a ligação caiu. Não me ligaram de volta.leia mais >>

Em extinção...

Cada vez mais difícil de achar:

  • Desodorante sem antitranspirante
  • Tempero industrial sem glutamato monossódico
  • Derivados de milho sem transgênicos
  • Água potável nas torneiras de São Paulo (essa coisa amarelada que escorre por aqui não conta)

Rituais de chegada

No dia em que minha filha nasceu, em 2010, a felicidade me cercava. Eu chorei, transbordei de vida de um jeito que só que já sentiu entende. Mas ninguém me ofereceu um charuto. Eu nem tinha pensado nisso antes do dia, estava daquele jeito de primeiro filho que a gente flutua e as coisas vão levando, e de repente já foi e nem viu direito. Uns dias depois meu sogro trouxe uma caixa de excelentes cigarrilhas, mas já não era a mesma coisa. Tanto é que a caixa durou ainda alguns anos.

Há algumas semanas, estava eu debaixo de uma chuva leve esperando um barbeiro que se atrasara. Para fugir da garoa, entrei na tabacaria ao lado. Topei com um habano aparentemente legítimo, e decidi que ele me acompanharia na missão vindoura.

Estou, estamos, em São Paulo desde ontem. Aguardando mais uma criança que em algum momento das próximas semanas deve vir ao mundo por obra de nossa união, se possível por arte de nossas próprias mãos. Estou sumindo um pouco mais das redes nesses tempos. Mergulhando em um tipo de experiência tão antigo quanto a humanidade.

E dessa vez tenho até um habano pra comemorar quando vier o dia.

Até já.

Escolhas

Indícios de termos feito boas escolhas na vida:

- Filha, que tal faltar à escola hoje e ir à praia?

- Não pai, prefiro ir à escola.

E ela adora praia. Mas a escola faz tão bem para a vida dela que a gente entende e se enche de orgulho de participar.

O que não quer dizer que não tentaremos outra vez se amanhã o calor se repetir ;)

Hirsuto

Lumber o quê? Acho que essa galera tá assistindo Wolverine demais. "Estilo lenhador" uma ova.

Minha barba é assíria, levantina, bíblica, grega. É Nabucodonosor e Platão. É de santos e profetas, reis e mendigos, camponeses e caçadores. É minha, sem rótulos, e muda sempre. Pra lá com essas modinhas, por favor.

Redes fora das redes

Cá estou naquele período anual semi-afastado do mundo cotidiano. Não tanto quanto das outras vezes, porque também aqui na roça às margens da mata atlântica as coisas mudam. Há dez anos vieram os relógios, depois as TVs (que felizmente hoje andam mais silenciosas). Depois os smartphones com cache que eram levados à cidade para sincronizar. E desde o começo de 2014, sim, o wifi está na área. Lento, instável, mas suficiente para me permitir publicar este texto (será que vai cair a conexão quando eu apertar "publicar"?).

Decidi, entretanto, que tentaria manter este período mais voltado a dinâmicas outras. Estou, naturalmente, avançando para reduzir minha pilha de coisas para ler (tanto os livros de papel quanto a interminável lista de links guardados no pocket ou a imensurável pasta com PDFs). Ler, andar, escutar e fazer música, brincar com crianças e adultes, olhar nos olhos, ceder espaço para outres, ocupar espaço de outres. Ver crescer e mexer a barriga que carrega mais um dos nossos. Acender fogueiras, velas, ideias.

Única regra para meu uso pessoal da internet nestes dias: facebook, só quando estiver no centro na cidade. Quando muito. As coisas vão continuar automáticas indo daqui pra lá, mas não quero ver aquela página azul aqui no refúgio.

Escreveria mais sobre isso e outras coisas. Escreverei. Mas agora tô indo ali que tem vida me esperando.