Hoje estava naqueles últimos quilômetros da Ayrton Senna antes de chegar em São Paulo, com 3/4 do céu coberto de nuvens negras ocasionalmente cortadas por relâmpagos; ouvindo no rádio relatos sobre o que acontecia na cidade (bloquearam o túnel por baixo do Anhangabaú, 130 árvores caídas, 130 semáforos quebrados, não sei quantos pontos de alagamento); e ainda lembrando do noticiário das últimas semanas (Papa renunciou, caiu um relâmpago no Vaticano, um meteoro caiu, outro meteoro passou perto, Yoani dando rolê, Marina fundando partido de sonháticos, nem me lembro o que mais)... de repente tive a impressão de que estava em alguma história de quadrinhos dos anos oitenta. Talvez alguma do Frank Miller, ou sei lá.
Tempos estranhos.

Em algum ponto do relativamente curto trajeto entre Atlanta e Albuquerque, comecei a prestar atenção à paisagem pela janela do avião. O horizonte se elevava aos poucos, passando por bonitas rochas recortadas e continuando a subir. O verde dava lugar àquela cor avermelhada dos desertos do oeste estadunidense. Sobrevoando aquela amplidão seca, fiquei pensando sobre as dificuldades de fazer funcionar uma cidade contemporânea ali. A aridez só era cortada por ilhas verdes, provavelmente instalações agrícolas intensivas. Alguns açudes, cercados do que parecia ser areia. Imaginei o transporte de combustível pelo meio do deserto. O consumo, a logística. A guerra para sustentar esses fluxos.

