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Redes

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Nos últimos dias tenho folheado de maneira descompromissada algumas publicações que recebi recentemente da Holanda: Organized Networks, de Ned Rossiter; From Weak Ties to Organised Networks, publicação pós-Wintercamp (que já comentei por cima aqui); e a caixa e-culture, uma caixa com um DVD, um folheto e três livros. Não foi de propósito, mas isso me pegou no meio do planejamento e primeiras conversas relacionadas à aplicação dos recursos do Prêmio de Mídia Livre que a MetaReciclagem levou, e acabei estendendo alguns insights a essa busca mais prática.
Enquanto busca de identidade de rede, a MetaReciclagem já passou por um monte de fases. Desde o começo como um subgrupo do projeto metáfora, passando pela dissolução influenciando grandes projetos de governo, até a fase atual em que muitas vezes parece que a potência de articulação e colaboração se esgotou, até que aparece vida em um canto esquecido, até que alguém volta a se movimentar naquele espaço simbólico depois de alguns anos em silêncio, até que os olhares e afinidades se reencontram em novas buscas. Acho que em todas essas fases, a única constante é a incerteza sobre o que vem a seguir. Daí que quando eu pego alguns desses estudos de matriz europeia, chega a me incomodar a sensação de que estão tentando enquadrar uma classe de fenômeno que não se presta muito a classificações e determinações.leia mais >>

Uma semana depois do wintercamp...

Algumas anotações, digerindo o wintercamp:

Um grupo ser networked, enredado, não significa que seja colaborativo, participativo ou coletivo. Existem redes de dominação, redes de privilégios, redes de violência. Olhando para alguns grupos que participaram do wintercamp, eu sinto que existe algo em comum com as redes que me são mais próximas. Mas esse comum não é a topologia das relações, o mero fato de organizarem-se em rede. Esse comum vai mais no sentido de uma ética, uma ética do estar e construir juntos, uma ética do compartilhar recursos, questões e oportunidades, uma ética do reconhecer-se como serumanx no olhar de outrxs serumanxs. Uma ética da humanização, do respeito, da confiança, do afeto. Essa ética só pode operar em rede: ela não sobrevive em ambientes centralizados ou autoritários. Mas o oposto não é verdade: nem toda rede reconhece ou segue essa ética. Nesse sentido, a retórica das redes pode ser tão vazia quanto a retórica do digital: também as redes, como o digital, podem prejudicar e desumanizar. Por estranho que pareça, também as redes podem servir a um tipo de egoísmo compartilhado e alienação semi-voluntária.

Wintercamp

Há alguns meses, eu já acompanhava a movimentação do Wintercamp como um evento extremamente potente, mas com alguma coisa estranha. Potente por conta das redes, algumas das quais eu admiro há tempos, como Dyne, Goto10 e Flossmanuals.

Nas semanas anteriores ao evento, houve alguma tensão sobre o formato na lista de discussão: questionamentos sobre as plenárias e a grade de horários bastante apertada. Devo dizer que a idéia das plenárias também me incomodou desde o começo: ecos da minha infância acompanhando o petê dos anos oitenta em Porto Alegre e aquelas discussões intermináveis sobre qualquer coisa que na verdade eram sobre território e supremacia.

Uma mensagem que circulou por outras listas também colocava algumas das questões do wintercamp: "O que vem depois da empolgação inicial? O que acontece depois que nos ligamos, encontramos colegas antigos, ficamos amigos e até nos encontramos? Enredar-se vai continuar sendo visto como um nível solto adicional de interação social ou os laços ficarão mais sérios? O que as redes fazem com nossa cultura a longo prazo? (...)". Algumas das perguntas me parecem de certa forma preconceituosas, uma visão européia sobre as redes como uma camada em cima da sociedade ocidental, o que acho que é só parte da verdade.leia mais >>

Mais bricolabs

Esqueci de comentar no post sobre os bricolabs no wintercamp: Vanessa levou uns dispositivos que o pessoal montou (uma lanterna carregada por manivela, montada em bambu, e outra montada em um instrumento mágico dos Xamãs colombianos). Mostrou também um vídeo muito interessante, do pessoal mostrando esses instrumentos para um xamã.

Também: alguns posts sobre os bricolabs:

 

Anotações de vôo

Ganhei uma carona de casa até o aeroporto de Congonhas, onde ia tomar o frescão até Guarulhos. Fui bem cedo, pra evitar problemas. Até chegar no aeroporto, usava havaianas e carregava as botas com pelos por dentro na mão. A previsão para Amsterdam era frio (para os nossos padrões). Domingão paulistano, aquela cidade impessoal, vazia de almas, em boa parte do caminho. A lua me acompanhava, dizendo boa viagem. Tentei fotografá-la, mas foto de celular é lixo.

O vôo para Amsterdam vai fazer uma escala em Lisboa. Check-in muito tranqüilo. Uma poltrona F, corredor interno na direita. Sem vizinhos: duas poltronas só para mim. Equipe de bordo simpática, e avião aparentemente novo. O sistema de multimídia, pessoal, com touchscreen e controle remoto, rodava Linux. Eu sei porque o meu travou, reiniciou o X, travou de novo, deu um reboot até funcionar. Engraçado que o fato de ser linux evitou que eu ficasse puto. Se fosse esperar o boot do windows, certamente teria reclamado com o comissário. Aliás, o comissário veio confirmar que eu queria comida vegetariana. Não queria. Mas o senhor pediu. Não pedi. Quem comprou minha passagem deve ter pedido. O senhor precisa se descadastrar, senão em todos os vôos da TAP vai aparecer como vegetariano. Ok. Menu impresso.

Até Lisboa, tudo ok. Cheguei até a dormir uns 20 minutos e depois uma horinha (eu nunca durmo em aviões, mas fica mais fácil ocupando duas poltronas). Passei liso na alfândega. Gosto de ouvir o sotaque português. Aeroportos são não-lugares. Eu costumo gostar das surpresas no hall, mas dentro das salas de embarque tudo é muito asséptico e frio.

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Bricolabs no wintercamp

O primeiro encontro presencial propriamente dito dos Bricolabs, dentro da programação do wintercamp, foi muito importante. Mais do que finalmente conhecer algumas pessoas com quem converso há mais de dois anos, compartilhar o cotidiano por cinco dias foi interessante pra dar uma dimensão das aspirações, sonhos e possibilidades dessa rede. Algumas idéias que antes pareciam meio soltas no espaço passaram a fazer sentido. Pessoas que não confiavam muito umas nas outras (talvez um traço comum de pessoas pós-enredadas ou post-networked) foram aos poucos abrindo sorrisos e as portas de seus imaginários e casas.

venzha, philipe, alejo, james, vicky

Ao contrário de algumas outras redes que tinham uma agenda bem definida e objetiva, nos demos a liberdade de esvaziar o copo antes de começar a servir. Rob van Kranenburg moderou o processo, começando com questões diretas a todxs e juntando as respostas no flipchart: o que somos,  que nos falta, o que queremos, etc. Chegamos a algumas bases comuns sobre a natureza da rede, princípios de relacionamento e descentralização. Houve alguma tensão por conta de maneiras diferentes de entender as coisas e atuar, mas fiquei feliz porque no fim estávamos bem alinhadxs.leia mais >>

Uíntercâmpe

Estou desde segunda-feira em Amsterdam, participando do Wintercamp. É a primeira vez que a rede bricolabs tem alguns dias para pensar em si mesma. Pra mim está sendo muito bom finalmente conhecer em olhonolho as pessoas com quem troco emails há tanto tempo. Não vou listá-las pra não esquecer ninguém,  mas estou gostando muito das idéias de cada 1 e das possibilidades de intercâmbio e de projetos futuros: muita raqueação de redes sem fio, de streaming, robótica de baixo custo, de prototipação rápida e outras coisas. Se pans alg1s gringxs aparecem pro próximo encontrão de MetaReciclagem.

Além disso, trocar idéia com as outras redes é demais. Ver como as pessoas trabalham, e sacar que cada rede tem um comportamento diferente, é interessante.

Amanhã eu blogo de verdade. O moleskine tá cheio de anotações...