Uma das conseqüências indiretas do Paralelo foi um pouco de gringotur. Muitos dos convidados estavam no Brasil pela primeira vez, e não queriam gastar um vôo de longa distância só para conhecer São Paulo e mais nada. Eu mesmo recebi ou levei algumas das pessoas para passear.
Na semana antes do evento, vieram a Ubatuba Tapio Mäkelä, um pesquisador finlandês baseado em Manchester, e Annette Wolfsberger, austríaca que trabalha no Virtueel Platform em Amsterdam. Eu havia conhecido a Annette mês passado no Wintercamp, e o Tapio no Futuresonic de 2008. Indiquei para eles o hotel-pousada Dellamares, bem perto aqui de casa, no Perequê-Açu. Não é o visual mais fantástico da costa, mas é de frente pra praia, e ainda não tão longe do centro. Quem acorda cedo pode até ver o sol nascer no mar, um espetáculo.
Enquanto eles estavam por aqui, conversamos bastante enquanto rodávamos - Centro, Puruba, Tamar, etc. Uma noite deixei-os para jantar no Papagalli e eles tiveram tratamento vip, com direito até a carona pro hotel. Na noite seguinte, vieram nos visitar aqui em casa. Vinho no quintal, bons papos, muitas idéias. Tapio está começando um projeto chamado M.A.R.I.N, que vai oferecer residências artísticas dentro de um catamarã no mar Báltico. Nem comento a vontade de brincar com alguma coisa parecida aqui no litoral. Já a Annette deve se envolver em processos de intercâmbio cultural entre Brasil e Holanda, por conta do Virtueel Platform. A ver o que pode rolar nos futuros.
Já na semana seguinte em sampa, enquanto rolava o Paralelo, combinei com Hernani e pixel e reservei uma tarde - cheguei a avisar informalmente a organização do Paralelo - para roubar algumas pessoas e levá-las ao Weblab Social. Infelizmente, não dava pra fazer um convite oficial, porque acho que muita gente gostaria de ir. Foram com a gente Annette e Tapio, além de Mike Stubbs do Fact de Liverpool, James Wallbank do Access Space, Bronac Ferran e Claudio Rivera-Seguel. Boas conversas por lá, falando de Brasil, MetaReciclagem, Acessa São Paulo, Rede de Projetos, Lixo Eletrônicoe outras coisas. HDHD deu bem a dimensão da escala que as coisas podem tomar, falou de agenciamento de redes e de ir além da inclusão digital. Comentei com um pessoal sobre traduzir o mutirão #1 pra inglês. Se pans rola...
Na sexta-feira, já encerrado o Paralelo, ainda encontrei Annette e Bronac no Ibirapuera. Planos futuros, questões a resolver, idéias soltas ao vento do fim da tarde. Annette tirou fotos excelentes de uma garça, espero que ela publique logo.
Essa semana, já de volta a Ubatuba, recebi mais visitas: Rob La Frenais, do Arts Catalyst, e Orlagh Woods, do Proboscis, vieram passar alguns dias longe do concreto. Eles já estavam aqui três dias antes que eu chegasse, mas ainda conseguimos conversar um pouco. Por recomendação de Annette e Tapio, eles também ficaram no Dellamares. Ao que parece, gostaram bastante, também com tratamento especial - o proprietário chegou a levá-los para passear no Promirim. Encontrei-os à tarde no quiosque na frente do hotel, e à noite saímos para algumas cervejas no Félix. Mais conversas interessantes. Orlagh falou sobre usar ebooks para espalhar pedaços de conhecimento de maneira rápida, e eu fiquei curioso - tenho essa fixação de pensar em ebooks como uma coisa mais estruturada e lenta. Rob me passou dicas sobre um pesquisador que quer promover adoção em massa de energia alternativa, me falou que na França qualquer pessoa que use um gerador eólico precisa alimentar de volta a rede de energia (não pode usar só para necessidades próprias), e começamos uma conversa sobre ciência de garagem que pode virar alguma coisa.
No dia seguinte, antes que eles seguissem para Parati (Rob espera visitar o Heraclitus RV, coisa que eu pretendo fazer nas próximas semanas), também os recebi em casa. Falamos de bananas, plantar a própria comida, música e convivencialidade. Minha sogra articulou uma idéia que eu nunca tinha parado pra pensar: a casa aqui funciona bem como espaço de grupo exatamente porque tem espaços privativos bem definidos: as pessoas podem escolher se querem socializar ou ficar sozinhas a cada instante. Acho que isso também ecoa em outros tipos de vida em comum, inclusive nas redes internéticas.
No fim, dias de muita itinerância, muitos diálogos. Fiquei feliz de estar morando entre Sampa e Uba. Tive vontade de fazer mais coisas aqui pelo litoral (mas o modelo ainda não apareceu). As visitas aqui, embora não estivessem diretamente ligadas ao Paralelo, tiveram ressonância com a proposta do evento - tecnologia e meio ambiente. Muito pra explorar nessa conexão, pensando em tecnologias livres, metareciclagem e natureza. A gente ainda nem começou.
E ainda aproveitei a semana inteira pra convidar um monte de gente pro próximo encontrão de MetaReciclagem.