Paulo Freire & a Educação

Algumas anotações

p. 23

"... a base da proposta antropológica freireana é o diálogo. É na palavra pronunciada, que revela o mundo, que os homens se constróem ao fazerem e refazerem o próprio mundo (Fiori, apud Freire, 1993). O diálogo é, então, esse encontro dos homens, mediatizados pelo mundo [e], conseqüentemente, a cada ser humano impõe-se o desafio do aprender a dizer a sua palavra, como exigência fundamental de sua humanização. É por meio dessa pronúncia singular que nós nos tornamos sujeitos históricos capazes de construir intersubjetivamente uma sociedade em comunhão de objetivos e vivências"

p. 41

"A superação das estruturas culturais antidialógicas (que reproduzem a dominação da elite sobre o povo) deve ser o caminho estratégico dos orpimidos na construção de uma nova sociedade. Tais estruturas não se demovem apenas com a 'conquista do poder', mas sua superação requer a reinvenção da política a partir de uma visão de mundo coerente (dialógica e crítica) como base para a recriação sociocultural."

p. 51

"Para Freire a educação nunca poderá ser neutra politicamente. Todo e qualquer projeto pedagógico, ou proposta de educação, e todo e qualquer ato educativo é, fundamentalmente, uma ação política. Ou seja, o educador, ao definir uma determinada metodologia de trabalo, planeja, decide e produz determinados resultados formativo-educacionais que têm conseqüências na vida dos educandos e na sociedade onde educador e educandos se encontram."

p. 52

"O poder ideológico do neoliberalismo reside, principalmente, em uma lógica que articula seu discurso para justificar a realidade hist[orica, concebendo-a como necessária, imutável e natural. O grande esforço desse discurso é formar a opinião pública, buscando homogeneizar as consciências no seu modo de ver o mundo socioculturalmente produzido, para que as grandes massas (que estão sendo excluídas pelas próprias regras dessa política) aceitem a realidade como ela é. Esse fatalismo, sutilmente pregado e difundido pelo poder da mídia, exerce um papel de apaziguamento das camadas populares que, infelizmente, ao serem convencidas por tal discurso, passam a comportarem-se como massa inerte; como rebanhos apaziguados pela 'sabedoria' do 'grande pastor'".

70, 71

"Freire retoma a dialética em suas origens gregas e nos reapresenta a relação entre dialética e diálogo, conferindo, assim, novos fundamentos que superem a clássica tríade dialética inaugurada pela modernidade ocidental e tradicionalmente expressa a partir dos termos Hegelianos: Afirmação - Negação - Negação da negação. O que Freire (1994) aponta de novo em sua concepção dialética é a compreensão de história e do papel/importância da espécie humana na construção de um mundo socioculturalmente estruturado. Um momento histórico posterior é algo novo, que não poderá ser predeterminado ou domesticado pelos momentos que o antecedem, pois o futuro da história é algo a ser construído por nossa inserção no mundo. Enquanto na tríade dialética clássica a tendência natural do processo é a de reforçar a Tese em detrimento da Antítese, enfraquecendo a contradição por intermédio da eliminação das contingências (Cirne-Lima, 1996), na dialética-dialógica de Freire não há a predominância de uma posição sobre a outra, pois o próprio diálogo, em sua autenticidade, nutre-se pela abertura ao outro, oportunizando, assim, a revelação do novo na história. Esse processo dialético, que assume constantemente novos modos ou níveis de elaboração e afirmação da vida em sociedade, jamais teria um ponto de chegada, pois se assim fosse, a história se fecharia em si mesma e negaria sua própria natureza, constituída de contradições, tensões e conflitos que nos impulsionam em direção a novos sentidos da vida humana.

No diálogo aberto, o exercício de argumentação dos sujeitos participantes garante que as diferentes posições tenham iguais condições de serem ouvidas, debatidas e avaliadas por meio de um processo de construção dialógica do mundo humano."