A gambiarra, mesmo que utilizada com diferentes nuances,
com mais ou menos alegoria dependendo da vocação do artista para o
símbolo, é a peça em torno da qual um tipo de discurso está ganhando
velocidade. O mecanismo da gambiarra, cujas anterioridades
antropológicas não cabem aqui ser discriminadas, assim como um desvio
pelos projetos arquitetônicos de Lina Bo Bardi demandaria uma dedicação
integral, tem um acento político além do estético.
Há uma ressonância do Parangolé, pelo fato de abranger toda uma rede
de subsistência a partir de uma economia informal, com soluções de
baixo custo e de puro improviso. "Da adversidade vivemos!", conclama
Hélio Oiticica em "Esquema Geral da Nova Objetividade" (1966-67). E
"adversidade" não significa apenas "pouquidão", mas também "oposição".
Para validar sua posição cultural crítica, Hélio não tergiversava:
"Tem-se que ser contra, visceralmente contra tudo que seria em suma o
conformismo cultural, político, ético, social".
(...)gambiarra não se faz sem nomadismo nem inteligência coletiva.
Lisette Lagnado na Tropico: O malabarista e a gambiarra