Publicado originalmente no COL 146, em 14/03/2000. Na época eu lia bastante Rubem Fonseca. A ilustração é atual, feita pela Cau.
MUJERES
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Paula olha mais uma vez para sua mãe dentro do carro. Pisca o olho. Vê os lábios dela proferindo um "boa sorte". Vira-se e entra na porta giratória do banco. A porta tranca. Paula abre o zíper de cima da bolsa e mostra para o guarda as chaves, o celular, o estojo de maquiagem de metal. Como previsto, o guarda não pede para ela tirar as coisas. Luísa e Márcia já estão dentro do banco, a primeira na fila do caixa, a outra atrás do outro segurança. É quarta-feira, metade do mês, onze da manhã. Não há mais do que quatro clientes na agência. Só um caixa funcionando, uma mocinha com jeito de delicada. Mais dois funcionários atrás do balcão. No lado oposto do banco, dois gerentes.
Paula se posiciona ao lado do guarda da porta e abre o zíper do meio da bolsa. Coloca as duas mãos para dentro. Márcia, no fundo da agência, gira a pesada bolsa, que tem um tijolo dentro, e acerta a nuca do outro guarda. Quando o da porta percebe, já tem duas pistolas apontadas para si, uma para o rosto e a outra para o saco. Luísa pega outra arma da bolsa de Paula e aponta para a moça atrás do caixa. O guarda tenta, lentamente, levar a mão à cintura. Paula age rápido. Tiro na cabeça. O guarda cai, Paula vira-se e joga uma das armas para Márcia, que a pega no ar e dispara no outro guarda, que jazia desmaiado. Luísa tira da bolsa uma dessas sacolas de viagem, dobrada, e manda a caixa encher de dinheiro. A menina não se mexe. Não pisca, talvez tenha parado de respirar. Luísa pula o balcão e segura a caixa pelo pescoço, apontando a arma para sua cabeça. Grita para os funcionários encherem a sacola de dinheiro, notas altas. Eles ficam se olhando, parados. Márcia atira no braço de um deles. O outro diz que não pode fazer nada, só o gerente pode abrir o cofre. Paula manda os gerentes se aproximarem. Eles relutam.
Márcia atira na perna de um deles, o careca baixinho. O outro gerente, acompanhado por Paula, vai até o cofre e o abre. Sob ordem de Paula e consentimento do gerente, o funcionário enche a sacola com notas de cinqüenta e cem reais. Paula, Márcia e Luísa despedem-se, agradecendo a cooperação de todos. Antes de saírem, Paula volta e caminha na direção do gerente, que tem uma expressão apreensiva no rosto. Ele aguarda que ela se proxime. Paula leva a boca à orelha dele, dá uma leve mordida e sussurra: "te espero em Floripa, amor".
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