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É inegável o papel que projetos como a rede de telecentros de São Paulo assumiu quando de sua criação há mais de uma década. Não somente por conta da visão do acesso a tecnologias de comunicação como infraestrutura pública disponível à população, mas principalmente por alguns aspectos reflexivos e articulados: a opção técnica e política pelo software livre; a perspectiva do telecentro não só como acesso à rede (que suporia uma certa alienação do local), mas essencialmente como espaço de uso coletivo, aprendizados e agenciamento; a visão de integração das pontas de uma cidade dispersa; e a atenção especial ao caráter cultural das novas tecnologias.
Mais do que as simples estatísticas (por mais relevantes que sejam) de quantidade de pessoas "atendidas", os telecentros de São Paulo participaram qualitativamente de momentos importantes da história recente das tecnologias no Brasil. Deram visibilidade e ferramentas a uma geração de novos ativistas enraizados em questões sociais locais, participaram de eventos e sediaram experimentos que reverberaram no mundo inteiro. Talvez de forma ainda mais importante, ajudaram a viabilizar um discurso político da relevância das tecnologias livres para a construção de uma sociedade mais justa e com oportunidades para todos.
Entretanto, uma década se passou. Grande parte das bandeiras que naquela época eram extremamente inovadoras foram agora assimiladas e por vezes neutralizadas. Por outro lado, as tecnologias continuam tendo um papel ambíguo: oferecem liberdade ao mesmo tempo em que promovem o controle. Possibilitam o surgimento de iniciativas inovadoras e transformadoras, ao mesmo tempo em que reduzem toda criatividade a seu valor financeiro.leia mais >>