Para jornalistas, no dos outros é refresco

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A Petrobras criou um blog para responder e comentar os fatos e dados apresentados na imprensa e na CPI que investiga a gestão financeira da empresa e sua atuação no mercado. É uma estratégia bastante inteligente, porque faz um contraponto à agenda do Congresso e da própria imprensa. O maior risco nessas situações é uma instituição ou indivíduo ficar dependente do espaço que o noticiário resolve lhe dar. Mesmo que um blog como esse tenha muito menos audiência, ao menos em princípio, do que os jornais e parlamentares aos quais responde, se por acaso divulgar informações relevantes poderá contar com os efeitos de rede proporcionados pela própria rede mundial de comunicação mediada por computadores para disseminar esses conteúdos.

Interessante mesmo é que os repórteres parecem não ter gostado muito da tática de publicar as perguntas e respostas dadas pela assessoria, sem edição. O Estadão e o Globo questionaram a prática adotada pelos editores do blog, o primeiro jornal inclusive tentando pintá-la como ilegal. Pois não é. O destinatário de uma mensagem não pode publicá-la na íntegra, ou mesmo em partes, sem autorização do remetente. Porém, tem o direito de divulgar o conteúdo da mensagem a quem bem entender. É o que a Petrobras está fazendo. O objetivo, claro, é permitir ao cidadão comparar as informações fornecidas pela empresa com a notícia publicada pelos jornais e assim poder verificar qualquer tipo de distorção. Em outras palavras, é constranger os repórteres, editores e diretores, para garantir que tomarão cuidado ao editar as respostas e redigir suas matérias.

O trabalho do jornalista é expor a vida dos outros, mas parece que os caros colegas do Estadão e do Globo consideram desconfortável ver a própria rotina produtiva tomando banho de sol. Até o surgimento da Internet e, sobretudo, das mídias sociais, os jornalistas detinham poder quase total sobre as informações publicadas ao final do processo de confecção das notícias. Era o redator quem decidia quais declarações das fontes entrariam no texto final e contra quais dados elas seriam postas. Como jornalistas são seres humanos, sujeitos a erros, ignorância e preconceitos, é natural que quase sempre houvesse alguma distorção involuntária — ou voluntária, porque seres humanos também são sujeitos à maldade. O máximo que a fonte indignada podia fazer era enviar uma carta tentando esclarecer os fatos, ou então entrar com um processo judicial contra o veículo, buscando seu direito de resposta. Hoje, basta a essa fonte criar gratuitamente um blog no Wordpress.com ou outro serviço qualquer e divulgar sua versão.

Nada poderia ser mais saudável para a democracia. Alguém pode argumentar que se trata de pressão indevida de uma poderosa estatal — e, por conseguinte, do governo — sobre a imprensa, mas um repórter ou um jornal honestos não deveriam se sentir pressionados pela transparência. Se o código de ética jornalística foi seguido em todos os momentos e se os profissionais tomaram decisões editoriais conscientes e podem portanto justificá-las, não há o que temer. “Quem não deve, não teme.” Não é o que nós, jornalistas, sempre dissemos a nós mesmos quando publicamos notícias com potencial para arrasar a vida de uma pessoa ou a imagem de uma instituição? Pois, então, se serve para os outros, tem de servir para nós também. Todos têm direitos e deveres iguais numa democracia. O jornalismo deve ser fiscalizado pela sociedade, assim como pretende fiscalizá-la.