O outro


Vou de Borges outra vez. "O outro", que eu tenho dentro do "livro de areia", em algumas de suas infinitas páginas. Essa cena é do Borges falando com o Borges (quem leu entende, quem não leu que leia)


"Sem me fazer caso, esclareceu que seu livro contaria a fraternidade entre todos os homens. O poeta do nosso tempo não pode voltar as costas a sua época.


Fiquei pensando e perguntei-lhe se verdadeiramente se sentia irmão de todos. Por exemplo, de todos os empresários de pompas fúnebres, de todos os carteiros, de todos os escafandristas, de todos de todos os que vivem nas casas de números pares, de todos os afônicos etc. Disse-me que seu livro se referia à grande massa dos oprimidos e dos párias.


- Tua massa de oprimidos e párias - respondi - não é mais que uma abstração. Só os indivíduos existem, se é que existe alguém. O homem de ontem não é o homem de hoje, sentenciou algum grego. Nós dois, neste banco de Genebra ou de Cambridge, somos talvez a prova."