E foi só eu querer escrever que o blog saiu do ar de novo. Agora por um bom motivo, a reinstalação da Aletta, que tava merecendo um trampo mesmo. Mas aí que perdi um pouco do impulso inicial de contar, vou aqui meio forçado.
Rolou a jornada. Cinco pessoas, uma cocker spaniel, dois violões, um monte de malas e uns 2500 km. Saímos de Dresden, passamos por Mannheim e Füssen na Alemanha; Berna, Lausanne e Genebra na Suíça, Chambéry e Carcassonne na França e chegamos em Barcelona, Catalunya. Eu e Carol ainda voltamos à última cidade da França pra devolver o carro alugado. No caminho, um monte de histórias.
Tomamos carona, vimos cores de outono, viajamos em direção ao inverno. Andamos à beira do Rhein en Mannheim, visitamos o castelo de Heidelberg. Alta simbologia maçônica por todo lado, meio bizarro. TInha um barato meio Rohan por lá. Seguimos e pegamos três dias de neve em Füssen, e a zero grau eu lembrei de Porto Alegre, e consegui também entender o silêncio, a solidão e essa vontade maluca do ser humano querer vencer a natureza. Tudo em uma fração de segundo, pisando na neve fofa e vendo flocos brancos caírem do céu.
Na última cidade da Alemanha, compramos um saco grandão de maçãs por 1 euro. Cruzamos uns 50km de Áustria e chegamos na Suíça. Ali entendi outras coisas. Dinheiro por todo lado. Berna é uma cidade antiga, numa localidade privilegiada. O lago Le Mans é uma visão fantástica. Genebra me impressionou. Senti a cidade mais aberta que as outras na Suíça e que muitas cidades alemãs, mas tive uma sensação de incômodo quase físico por não vestir roupas alinhadas e na moda. Difícil de explicar, uma sensação de inadequação.
França é uma coisa doida. A paisagem já começa a ficar mais zoneada, construções sem planejamento urbanístico controlado, umas coisas feias e um certo ar de casa. Sem contar, claro, os Alpes nos acompanhando à esquerda da estrada por centenas de quilômetros. Pegamos a lua nascendo nas montanhas, visual maluco. No fundo do restaurante de beira de estrada, pedras pra praticar escalada esportiva. Tentei arriscar, mas tô 10kg acima de conseguir fazer qualquer coisa notável. Paramos por uma noite em Chambéry, uma cidade meio sem graça. No dia seguinte, tocamos ao sul até Carcassonne. Bem interessante de ver a cidade medieval, uma fortaleza de pedra que lembra todos aqueles filmes. Já não era Rohan, mas Gondor. Doido caminhar pelas vielas da cidade fortificada e sentir a idade média passando. Pegamos um pôr do sol em cima da muralha, de hipnotizar. Manhã seguinte, penúltimo dia de jornada, saímos pra ver a caverna gigante de Cabrespine. Sem palavras. Palácio de Xangô. Temperatura de 14 graus o ano inteiro. Profundidade maior que a altura da torre Eiffel. Tem lá uma corda com um boneco em tamanho humano descendo e subindo. Me senti pequeno. Pensar nos caras explorando aquela caverna com lampadinhas de acetileno e cordas de extensão limitada é de assombrar. Na saída, paramos numa bodega e compramos por 4 euros uma garrafa de vinho local delicioso do seu René, ouvimos algumas histórias e contamos outras.
Entre Carcassonne e Barcelona, a paisagem cada vez menos controlada, estradas, caminhões e aquela coisa de lar. Logo antes de chegar, viadutos e tudo o mais. Mas Barcelona é outro planeta, sem como comparar. Mino Carta a compara com Salvador há algumas décadas. Eu penso no lado delícia do Rio. Mas vou falar mais em outro post.
Pra encerrar a jornada, voltamos pra Perpignan pra devolver o carro. Programa de índio, daqueles... chegamos ao meio dia e quatro, logo depois de começar o horário de almoço. Só conseguimos entregar o carro às 13h40, e chegamos na estação a tempo de, na fila do guichê, ver o trem pra Barcelona saindo. Claro que quando conseguimos chegar no guichê a tia falou que a gente podia comprar o bilhete dentro do próprio trem. E o próximo só sairia à noite. Aí esperamos mais meia hora pra funcionária da Eurolines voltar do horário do almoço e compramos um bilhete de ônibus pras 16h. Onde pega? "ali virando a esquina, na frente do hotel Paris Barcelona". 16h15 e nada dele aparecer, e a gente ali no boteco-rodoviária-improvisada. Mas chegou, e voltamos. Única coisa chata foi que cheguei muito em cima pra ir a tempo pro Centro de Arte Santa Monica apresentar metareciclagem. Fica pra próxima.
Fotos no flica. Mas de alguma maneira, perdi todas as fotos de neve.
Atualizando: na real aqui foi uma versão resumida, só pra tirar uma pendência da cabeça. Meu caderno preto tá lotado de outras coisas, mas devem ficar guardadas lá por enquanto.