Vamo lá...
On 10/5/07, Danilo Fraga wrote:
> Primeiro seu nome, idade, o que você faz no MetaReciclagem.
Felipe Fonseca, 29. O que eu faço é falar com pessoas, ler
e escrever um monte de emails todo dia. Não sei se tem um
nome pra isso. Às vezes eu me chamo de "articulador", mas
depois desisto.
> O que é a MetaReciclagem? E o que vocês fazem? Dê exemplos concretos de
> MetaReciclagem.
MetaReciclagem é uma rede, um bando, uma multidão de
pessoas interessadas em promover a desconstrução e a apropriação
de tecnologia.
> Você acha que a tecnologia atinge os ricos e pobres do mesmo modo?
Acho que "a tecnologia atinge" é uma construção meio bélica. Dá pra
entender uma bomba como tecnologia aplicada e aí pensar que sim,
ela atinge as pessoas. Mas se a gente se concentrar mais em tecnologias
de informação e comunicação, e aí acho que "atingir" é um conceito
limitado. Sei que cada pessoa tem uma compreensão e faz um uso
diferenciado da tecnologia. Sei que tecnologia também é mais do que
computadores e aparelhinhos: vaso sanitário, tesoura e fósforos também
são tecnologia. E não me preocupo tanto com "ricos" e "pobres", e sim
em ajudar pessoas com potencial de se tornarem inventorxs a terem a
possibilidade de desenvolver esse potencial.
> O que você acha dos meios "alternativos" de acesso à tecnologia, como as
> feiras piratas? Como eles afetam a inclusão digital no Brasil?
Feiras piratas? Não conheço nenhuma. Estás falando de praças de camelô?
Se pegar pelo viés econômico, acho que agrupamentos de comércio que
não pagam impostos facilitam muito no acesso a diversos produtos, entre
eles a tecnologia. E que além do componente de acesso, as redes que
se formam de maneira espontânea nessas ocasiões podem vir a se tornar
redes de aprendizado bastante potentes. Mas não acho uma boa tentar
romantizar nada. Pessoas são o que interessa.
> Porque você desaprova o conceito de inclusão digital?
Porque é limitado. É um pensamento excludente, de clubinhos, de
estar ou não dentro de um ciclo idealizado e superficial. E toma como
objetivo uma coisa bastante banal. O problema não é a exclusão, assim
como decorar letras não pode ser considerado o ideal da educação. O
que me move é mostrar possibilidades de apropriação e transformação,
com a busca do que há de humano em toda tecnologia.
> Explique reapropriação tecnológica para a transformação digital.
Transformação digital? Que é isso? Se é transformação social, é
bem evidente, né não? E hoje eu penso mais em termos de apropriação
tecnológica, não "re"-apropriação. É um ato simples, de querer entender
o que tem por dentro dessa ou daquela tecnologia, mas traz uma grande
carga de aprendizados implícitos, metafóricos: entender que não existem
fontes seguras de conhecimento, que conhecimento pode ser gerado em
toda parte, que toda criação é interpretação do mundo com base em
outras criações que já existem.