Lá quando eu tinha uns nove anos, depois de um reencontro num domingo mágico, minha mãe começou a namorar com o Talema, com quem acabou casando e gerando a Maya e o Matheus, mas isso é outra história. O fato é que acho que a partir de 1988, eu passava mais ou menos metade da semana na casa dele. Sempre gostei de música, mas até então tinha sido mero ouvinte. Agora era outra relação: aquela casa de madeira na João Abott tinha vários instrumentos de percussão, um violão e um teclado Casio alguma coisa. Comecei a brincar, a batucar e fazer barulho. Com uns doze anos, já fazia minhas gravações improvisando um multipista: usava o fone de ouvido como microfone no tape deck duplo. Copiava de uma fita pra outra e inseria novos barulhos com o sensacional recurso karaokê!!!! Bons tempos, de artesanato de barulhos. Ainda tenho umas fitas. Em 92, comecei a tocar violão e logo fui pra guitarra. Me concentrei por algum tempo na técnica específica das cordinhas, mas logo me enchi. Eu curtia era desenhar sistemas, imaginar o dia em que montaria meu estúdio, mas não tinha grana pra nada além da guitarra e do ampli.
No fim do colegial, eu já estava namorando com uma menina que tinha ciúmes da guitarra. Cheguei a cogitar uma carreira de engenheiro de som, tinha ficado indeciso entre prestar vestibular pra música ou engenharia eletrônica. Mas tava começando a brincar com uma filmadora velha, e pensei em me dedicar a coisas mais multimidiáticas. O único curso em que eu podia estudar essas coisas sem pagar mensalidade, ou seja, na UFRGS, era "Publicidade e Propaganda". Me inscrevi meio sem ter certeza, mas acabei passando. Por conta de um monte de circunstâncias pessoais - estava meio que saindo de casa aos poucos - acabei deixando o som de lado. Lembro que já tinha mais de meio ano de faculdade quando comentei com o
Shiva que não costumava usar muito a placa de som do computador. Ele achou estranho, e eu também. Deixei também a guitarra de lado.
Um ou dois anos depois, foi o próprio Shiva que me fez despertar de novo o interesse pelos barulhinhos. Tínhamos acabado de editar um vídeo pra aula de Técnicas de Vídeo, e estávamos conversando sobre mudar a trilha da parada. Foram ele e o Canani na minha casa. Levou alguns disquetes com programitchos piratescos, nem me lembro exatamente quais. Acho que eram o Fast-tracker, o Rebirth, o Cakewalk, o Cool Edit e alguns outros. Aprendi uma ou outra coisinhas, mas também deixei de lado. Eu estava virando um publicitário, tinha que ler livros de marquetchim, não tinha tempo pra essas coisas. Argh.
Eis que o tempo passa, mudo minha vida de cabeça pra baixo, venho pra sampa, empaco no mundo acadêmico, deixo de lado o mercado publiciotário, e agora estou voltando a brincar com barulhos. Software livre na veia, radio livre no ar, sem piratas, sem ilusões de carreiras meteóricas. Ainda testando, ainda dando os primeiros passos. Mas curioso pra danar.