Cris (vai o linque pra revista) mandou pra lista o case do memefax na Venezuela. Mais hist�rias venezuelanas no PortoAlegre2002
II. A ordem do soldado
Pode haver vida atr�s de um aparelho de fax
Base naval de Turiamo, final da manh� de s�bado, 13 de abril:
Para tentar evitar a rebeli�o, os golpistas promoveram uma ca�a sanguin�ria contra membros do governo constitucional e seus apoiadores. Invadiram casas, fizeram pris�es, mataram, segundo o jornal argentino P�gina 12, 34 pessoas ? "danos colaterais" que parecem n�o escandalizar os jornais brasileiros. Como ficou claro que nem assim seria poss�vel conter o povo, decidiram tirar Ch�vez de La Tiuna, que fica muito pr�ximo a Caracas. Ele ser� conduzido, nas horas restantes de cativeiro, a cinco locais diferentes, todos remotos. Um deles � a base militar de Turiamo. L�, um soldado, perplexo, aproveita que foi deixado a s�s, numa sala, com o presidente. Indaga: "� verdade que o senhor renunciou"? Resposta imediata: "N�o, mi hijo, n�o renunciei nem vou renunciar". O soldado, ent�o, perfila-se em contin�ncia. E tem uma id�ia genial: "Escreva-me algo neste papelzinho e jogue na lata de lixo, que eu volto e o recolho". Ch�vez rabisca: "Eu, Hugo Ch�vez Fr�as, venezuelano, presidente da Rep�blica Bolivariana da Venezuela, declaro: n�o renunciei ao poder leg�timo que o povo me deu". Assina e atira ao lixo, segundo a orienta��o do soldado. Poucas horas depois, via fax, a mensagem correr� o pa�s. Ser� reproduzida em pequenas impressoras, copiadoras, mime�grafos. As multid�es a levar�o nas m�os, quando baixarem dos morros para os pal�cios.
O gesto e a intelig�ncia do soldado demonstram: os militares da Am�rica Latina n�o est�o condenados a ser inimigos do povo, nem gendarmes dos Estados Unidos. A partir do in�cio da tarde, junto com a popula��o, se erguer� contra os golpistas o grosso das For�as Armadas. �s 16 horas, a Divis�o 42, da base de para-quedistas de Maracay (80 quil�metros de Caracas), se declara insurgente. A unidade do Ex�rcito da cidade faz o mesmo. Os chefes militares lan�am um ultimato aos golpitas: s� se apaziguar�o quando aparecer uma declara��o de ren�ncia de Ch�vez.
A insubordina��o militar se alastra. Assim como o golpe, o apoio das For�as Armadas aos golpistas � apenas virtual. No meio da tarde, a Guarda Presidencial, leal a Ch�vez, retoma Miraflores, j� cercado por um oceano de gente. A influ�ncia da conspira��o est� restrita ao Forte Tiuna, e uma multid�o o cerca. Personalidades s�o chamadas �s pressas, para intermediar uma negocia��o e evitar um banho de sangue. Os conspiradores j� n�o se entendem. O general �frain Vazquez Velazquez exige que o empres�rio Carmona, usurpador da presid�ncia, jure respeito � Constitui��o. Avi�es F16, de destacamentos leais ao governo leg�timo, sobrevoam a capital. O diretor da revista Tal Cual, uma das personalidades convocadas a Forte Tiuna, deixa o local com a estonteante novidade: "S� posso dizer que os l�deres do golpe voltaram atr�s..."