Dialogando com Fina sobre Hipercortex. Eu falo em itálico.
Fina
>> tentando abrir o canal:
>>
>> sabe, no primeiro contato que tive com o hipercortex, veio-me aa mente o
>> filme matrix e aquelas injeccoes de conhecimento que os "revolucionarios"
>> recebiam.
>>
>> essa ideia de caordem vem de uma tentativa de filtrar e organizar as
>> multiplas e infinitas informaccoes incessantemente jogadas na grande
rede?
>> pergunto isto porque parece-me que a web seria um estado cru, amorfo e
>> embrionario do hipercortex. algo como a khora do mito do demiurgo grego.
>>
>> vc acha possivel a existencia de um "sujeito coletivo" sem que as partes
>> sejam homogeneizadas?
>>
>> surge-me tambem a questao a respeito das semelhanccas e das diferenccas
>> entre esse sujeito coletivo e o sujeito transcendental.
Eu:
>A caordem é que possibilita a construção de um conhecimento coletivo sem
>homogenização. Um sistema auto-regulável não é necessariamente um sistema
>homogêneo. É um sistema coordenado, mas sem um gerenciamento central. É
>livre? Não completamente, porque funciona segundo regras pré-estabelecidas.
>Mas permite um puta avanço na expressão individual através das
>possibilidades de articulação das limitações do sistema e de conexões
>externas ao sistema. Ou seja, a web não é o hipercortex. A web permite a
>existência de sistemas formatados como hipercortexes (sic?) e a mais ampla
>expressão (comparativamente, não superlativamente - eita lÃngua limitada) de
>cada um dos "neurônios", com a proximidade cada vez maior entre
>criação/emissão e recepção. Aliás, isso também altera a natureza do evento
>estético, e o teu ponto de vista sobre o assunto me interessa.
>
>Sujeito coletivo, sujeito transcendental, não creio. A web tem suas
>limitações. Ela me parece funcionar como um repositório e como estÃmulo Ã
>produção. A interação, mesmo através da web, ainda é fundamentalmente
>humana.
Fina
> nao sei se entendi o que vc disse. sem duvida, um sistema auto-regulavel nao
> eh necessariamente um sistema homogeneo. mas, para que isto seja possivel,
> sao necessarios criterios de priorizaccao e de dimensionamento das
> colaboraccoes individuais. a visibilidade deve entao corresponder aa
> relevancia dos conteudos postos aa disposiccao. pergunto-me tambem como
> seria possivel um sistema sem gerenciamento central e com regras
> preh-estabelecidas. quem definiria estas regras? isto jah nao seria
> centralizaccao?
as regras, mÃnimas, são pré-estabelecidas. mas, sendo open source e em um
ambiente livre como a internet, qualquer um pode replicar o experimento e
mudar as regras.
> se o "poder" nao se concentra em nenhuma parte, como impedir
> interferencias que atrapalhem a construccao do sistema? talvez isto fosse
> possivel se os componentes fossem filtrados de acordo com determinados
> criterios.
podemos pensar que o "poder", dentro de um determinado hipercortex,
encontra-se em toda parte, Ã medida que cada colaborador, enquanto membro da
construção da inteligência coletiva, adequa sua colaboração às regras
pré-estabelecidas e conscientemente aceitas. sim, existe a filtragem, ela é
feita coletivamente. os melhores avaliados pelo coletivo são posicionados em
primeiro. isso é algum tipo de autoritarismo do coletivo sobre o individual?
sim, é. mas o sujeito pode escolher vários critérios (virtualmente qualquer
critério) de visualização.
vou exemplificar. imagine que eu construà um tal sistema de colaboração que
permite a inserção de artigos por todos os interessados. eles devem se
identificar para inserir artigos, mesmo que seja com nicknames como
izquierdo ou fina. isso já é uma regra pré-estabelecida, sim. o sujeito que
não aceitar, que procure outro lugar. (falo mais sobre isso daqui a pouco).
voltando ao exemplo, vamos dizer que setenta pessoas cadastraram-se e
inseriram, cada uma, até determinada data, três artigos. enquanto isso, cada
membro foi avaliando os artigos de cada outro membro. além disso, puderam
comentar tantos quantos quisessem. então chegamos ao momento em que temos
210 artigos, cada um com uma avaliação média tirada de trinta avaliações.
depois de ler, digamos, os três primeiro artigos, eu sei se a nota dada pelo
coletivo se encaixa na minha avaliação. além disso, eu já vi os comments
após o artigo e sei que três das sete pessoas que comentaram o artigo
expuseram pontos de vista interessantes. a paritr daà (e a cada vez mais),
eu entro em um processo de aprendizado que me permite, analogicamente,
refinar a minha procura. e, em um sistema ideal, eu posso visualizar os
artigos da maneira que eu quiser. por exemplo: "quero ver todos os artigos
com média sete", "quero ver todos os artigos que tenham comentários da fina
e do hernani", "quero ver todos os artigos da fina", "quero ver todos os
artigos do izquierdo entre 3 de março e 15 de abril de 2001". mais ainda,
"quero ver todos os artigos da fina com o layout que ela escolheu", quer
dizer, o próprio linguadefel. ou seja, há critérios de ordenação, mas a
visualização não é necessariamente de acordo com o que o coletivo definiu.
são critérios básicos articuláveis pelo usuário.
> eu tinha entendido que a web nao seria o proprio hipercortex, mas apenas a
> materia-prima para sua formaccao.
aà eu ainda não tenho certeza do que eu penso. tanto posso encarar a idéia
de hipercortex como um sistema fechado, restrito, como posso encarar a web
como "o" hipercórtex, plural, confuso, quase sem regras, com tendências Ã
anarquia, e aà os sistemas fechados como subgrupos de "e-neurônios"
> eu soh perguntei sobre sujeito coletivo (e suas diferenccas com o sujeito
> transcendental) porque li lah no hipercortex uma citaccao do Levy que
> abordava o assunto.
é baba minha. não tive tempo de parar e olhar direito o novo hipercortex.
esse post é de 11 de julho do ano passado. minhas opiniões dificlmente duram
100% mais do que um mês
> concordo com vc que a interaccao na web ainda eh essencialmente humana. o
> cuidado que devemos ter eh com o ainda. esta palavra aponta para o perigo
de
> que deixe de ser humana. acho importante que estejamos atentos para isso.
é, mas eu acho que apesar do carnivore e do echelon, é difÃcil parar a web,
justamente porque ela foi planejada, ainda ARPANET, para não ser parada.
creio que a internet possa ser classificada como caórdica (mas confesso, não
tenho certeza, preciso estudar mais o assunto)