No mundo do DNA e biohackers

Este post foi agregado pelo meu lifelog. É possível que eu não seja o autor.

Conversando com um especialista em doenças infecciosas, ontem, para compreender um pouco mais a Gripe Suína, fui apresentado a um conceito que não conhecia: biohacking, ou biopunk.

Ficou tão barato mexer com DNA que virou hobby para alguns. Com material que encontram publicado na web, sintetizam códigos genéticos inteiros. Cacos de DNA dá para comprar pelo correio, aqui nos EUA. Na Amazon, já tem brinquedo de criança que faz análises simples de DNA. (É o Meu Pequeno Laboratório versão século 21.)

Que não se confunda com bioterrorismo: produzir DNA e analisar DNA é estudar moléculas. Ninguém está alterando seres vivos na garagem de casa. (Ao menos, ainda não.)

No ano passado, eu e Marina nos submetemos aos testes da 23andMe, uma empresa nascente aqui do Vale do Silício, financiada pelo Google, que mistura análise genética e rede social. Uma espécie de Orkut e Facebook onde cada um pode dividir (ou não) partes de seu código genético.

Há algo de fascinante em conhecer o próprio DNA. Pelo lado materno, pertenço ao haplogrupo K1a1b1 – razoavelmente comum em Portugal. Nós, os Ks, somos descendentes de uma das 9 mulheres que povoaram toda a Europa. ‘Katrine’, a mãe dos Ks, viveu no norte da Itália há 12.000 anos. Pelo lado paterno, meu haplogrupo é o E3b1b*. Aparece com alguma frequência na Ibéria – 5,6% da população, 10% dentre os galegos. No Rio de Janeiro somos 5,4% da população. Mas que ninguém se engane quanto às origens: 80% dos marroquinos. É o grupo genético berbere, a população que vivia no norte da África antes da invasão árabe. Continuam lá. É só que hoje são chamados de árabes. É o marcador magrebino. Sou, geneticamente, uma mistura de mouro com italiano. O grau de similaridade de meu DNA com certas populações asiáticas, maior do que a média dentre caucasianos, sugere a mestiçagem ameríndia.

Não é só a história das gentes que existiram antes de você vir à Terra que o DNA revela. Lá tem coisa que eu já sabia. Que nicotina, por exemplo, para mim é uma desgraça. No primeiro cigarro já dá fissura. Vicia. Cafeína vai num caminho parecido. Metabolização quase nula. Duas Coca-Colas e a pressão sobe, a mão treme. Por outro lado: resistência a álcool – derrubar é difícil. Mas tem coisa que eu não sabia e é bom saber. Não tenho os marcadores conhecidos de câncer, por exemplo. Nem os femininos – que eu não desenvolveria mas poderia transmitir a uma filha. O coração é o ponto fraco, via pressão alta. O histórico familiar o confirma.

Aqui nos EUA, estes testes estão ficando cada vez mais baratos. Mas enquanto biohackers começam a vasculhar suas possibilidades e gente curiosa como eu vai atrás, há resistência. Os principais argumentos são dois. O primeiro é medo. Tem gente que simplesmente não quer saber quais os pontos fracos de seus corpos. Teme que vire neurose. O segundo é pragmático: e se essa informação vaza? E se, porque alguma lei mudou ou algo assim, empresas de seguro de saúde tomam conhecimento destes dados?

O risco é o seguinte: aos 34 anos, não tenho qualquer problema cardíaco. Talvez nunca venha a tê-lo. Mas meu código genético indica o risco maior. Dada esta informação, como definir o que é uma ‘doença pré-existente’? Basta a informação do DNA?

Enquanto estamos aqui, envolvidos na adaptação social, cultural e econômica com o mundo digital, há outro com ainda maiores novidades se aproximando. E, neste, os dilemas práticos, éticos e financeiros serão ainda maiores.

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