O COL na minha vida

Chegando na Fabico

Lá por 1995, eu estava no terceiro ano do segundo grau e tinha que chegar a uma conclusão sobre qual caminho tomar na vida. A parentada mais distante dizia que eu tinha que aproveitar a facilidade em aprender pra me afundar no cursinho e tentar passar em medicina ou direito, carreiras de gente de bem. Meus pais diziam que iam me apoiar em qualquer escolha. Na época, eu praticava montanhismo (educação física? geologia?), tocava guitarra (música?) e gostava de fazer gravações toscas em casa usando microfones Yoga de 14 reais, toca-fitas de 2 decks e um monte de fios soltos (engenharia eletrônica pra virar engenheiro de som?). Estava também fazendo brincadeiras de edição na mão com aparelhos de videocassete e umas câmeras velhas quase-herdadas de quase-parentes. Cheguei a pensar em cursar cinema, mas como não existia o curso na UFRGS e nem pensava em ir pra uma universidade particular, acabei caindo na comunicação. TInha uma certa aversão ao mito jornalístico da imparcialidade e muita bronca com o que existia de quase-imprensa gaúcha, e acabei mais por falta opções do que qualquer convicção me inscrevendo em publicidade. Passei uns meses freqüentando duas em cada cinco aulas do cursinho mas passei no vestibular. Minha prova de matemática foi muito mais um lance de sorte do que qualquer outra coisa - de 35, resolvi 8 questões e nas outras escolhi o resultado que parecia mais provável. Acertei 22.

Moleque publiciotário

Nos primeiros semestres de Fabico, a precariedade do ensino médio na rede pública estadual se fez notar. Apanhei pra caramba pra conseguir acompanhar um ritmo de abstração conceitual para o qual eu não tinha sido preparado. Fui um dos reprovados pelo Milman em semiologia. Em paralelo, troquei a sinuca do DACOM por um trabalho "na área". Indo totalmente contra minha formação doméstica "de esquerda", em menos de dois anos eu era um proto-publicitário: auto-alienado, ignorando o resultado efetivo do que eu fazia todo dia, pensando em sacadas e prêmios. No fim de 1998, já era contratado efetivo de uma agência de publicidade, pagava meu aluguel e prestação do carro. Aí as coisas pararam de fazer sentido.

Em algum momento do começo de 99, circulando pela faculdade que freqüentava cada vez menos (estava fazendo só duas cadeiras), vi um cartaz. Nem lembro exatamente do que era: bailão, chinelagem ou o próprio COL. Eu já tinha ouvido comentários sobre aquele pessoal, mas minha vida social na faculdade era inexistente, não conhecia ninguém pessoalmente. Naquela noite, assinei o COL.

Passei os meses seguintes embasbacado com a quantidade e a qualidade dos textos que circulavam no mailzine. A cada semana, muitas novas provas de que o mundo não era só um restolho do século vinte, de que ainda existia pessoas com tesão de fazer coisas. No meio do semestre resolvi visitar meu pai, que então vivia em São Paulo. Imprimi algumas edições atrasadas do COL e levei um livro que tinha comprado em um sebo por influência de algum COLeiro: Ficções, do Borges. Decidi viajar de ônibus para ter tempo de ler. Do livro, não consegui passar do primeiro conto (Tlön, Uqbar e Orbis Tertius, se não me engano). Cheguei em Sampa percebendo tudo enevoado. Passei alguns dias entre enojado e impressionado com o tamanho da cidade-monstro. Na volta, também de ônibus, pensei "que carajo tô fazendo com a minha vida?". No dia seguinte, resolvi pôr tudo de cabeça pra baixo. Larguei o apartamento, a namorada e o emprego. Voltei a morar na casa da minha mãe. Troquei o Escort XR3 por uma Parati.

COLando

Na seqüência, fui fazer a matrícula na Fabico e pela primeira vez em mais de três anos de faculdade, me inscrevi em cadeiras opcionais. Uma delas era o laboratório de textos do Capparelli, e foi lá que eu fiz alguns textinhos que chegaram a entrar em algumas edições do COL. Pelo COL também conheci algumas pessoas interessantes, e minha cabeça foi fermentando. Comecei a freqüentar o garagem, fui numa chinelagem, num cinemeando e outros eventos. Tinha uma coisa de experimentação textual e narrativa, mas também tinha uma sensação, que na minha vida foi uma primeira vez, de estar participando de alguma coisa que era maior do que qualquer um de seus integrantes. Fora o aspecto de aprendizagem e a expansão de horizontes em relação a livros, música e cinema.

No ano seguinte, fui morar em São Paulo, desisti da publicidade e me interessei mais pela internet. Continuava acompanhando o COL. Até mesmo a primeira lista de discussão da qual eu participei era do COL, e isso com certeza influenciou muito do que eu fiz nos anos seguintes: projeto Metá:Fora, MetaReciclagem e tudo mais. É um pouco por tudo isso que deixo aqui a homenagem e o agradecimento a essa galera que, sim, de uma certa forma, inventou a internet. Estou longe demais de Porto Alegre pra comparecer ao Bailão do Centenário, mas vou beber e ouvir música hoje à noite pra participar.

Vaaaaaaaaaai, chinelage!