Inglaterra e Holanda, campeãs do contrabando de ouro, que juntaram grandes fortunas no tráfico ilegal da carne negra, assenhoraram-se por meios ilícitos, segundo se calcula, [de] mais da metade do metal que correspondia ao imposto do "quinto real" que deveria receber, do Brasil, a coroa portuguesa. Contudo, a Inglaterra não recorria somente ao comércio proibido para canalizar o ouro brasileiro em direção a Londres. As vias legais também lhe pertenciam. O auge do ouro, que implicou o fluxo contínuo de grandes contingentes da população portuguesa para Minas Gerais, estimulou agudamente a demanda colonial de produtos industriais e proporcionou, ao mesmo tempo, meios para pagá-los. Da mesma maneira que a prata de Potosí repicava no solo espanhol, o ouro de Minas Gerais só passava de trânsito por Portugal. A metrópole converteu-se em simples intermediária. Em 1755, o marquês de Pombal, primeiro-ministro português, intentou a ressurreição de uma política protecionista, mas já era tarde: denunciou que os ingleses haviam conquistado Portugal sem os inconvenientes de uma conquista, que abasteciam as duas terças partes de duas necessidades e que os agentes britânicos eram donos da totalidade do comércio português. Portugal não produzia praticamente nada, e tão fictícia era a riqueza do ouro que até os escravos negros que trabalhavam nas minas da colônia eram vestidos pelos ingleses.
Eduardo Galeano n'As Veias Abertas da América Latina, respondendo outra vez a uma pergunta de quando fui a Lisboa, que o TupiNamba já tinha respondido. A foto aí em cima é do Albert Memorial, em Londres.