Fiquei de escrever pra Maira por que acho que a ideia de "land commons" e o risco de usarmos abstrações equivocadas. Um dos maiores exemplos que eu conheço de abstração equivocada é o termo "propriedade intelectual", que tenta transferir uma definição concreta ("propriedade") para o campo das ideias, onde a lógica é outra. Meu argumento é que o conceito de "commons" já passou por uma transposição semelhante (o último paper de Imre Simon - aqui, em PDF - definia justamente a ideia de rossio, termo em português que equivale ao inglês commons). O commons ou rossio já trata exatamente do mundo concreto - "terreno roçado e usufruído em comum". Quando se criou a creative commons, se fazia uma transposição semelhante, mais como metáfora do que definição: um rossio das ideias, rossio da criatividade - um espaço criado e usufruido em comum. Mas era, de alguma forma, uma limitação da própria ideia de commons: se limitava a liberar, não envolvia a produção, e criava a necessidade da licença formal. Tentar inverter outra vez o processo e usar essa visão restrita da ideia de commons para voltar outra vez a falar de terra é no mínimo reinventar a roda, e no limite perder de vista um monte de sutilezas do processo de compartilhar espaço físico com outras pessoas. Já falei mais sobre isso lá no post que o Dpadua fez sobre Land Commons: acho meio ingênuo e um pouco inútil tentar substituir o relacionamento entre pessoas por uma licença escrita ou um conjunto de formalidades pré-definidas. Tudo isso já foi experimentado por um monte de grupos de pessoas desde pelo menos os anos sessenta (mas na verdade muito mais ao longo da história da humanidade). Viver com outrxs é difícil e dá trabalho. Tentar usar um modelo que deu certo com software - a GPL - em um contexto que lhe é totalmente estranho - terra, paredes, água, esgotos - pode ser uma abstração equivocada.