Inferno eletrônico

No começo de novembro saímos de Ubatuba para alguns meses em São Paulo. Eu estava organizando um debate no Fórum da Cultura Digital e seguiria depois para um bate-volta a BH, para participar da abertura da mostra Gambiólogos. Depois disso, já havíamos planejado continuar em Sampa até pelo menos um mês depois que a Isadora nascesse. Antes de sair de Ubatuba, arranquei o HD do meu computador desktop (com todos os meus arquivos importantes) e o instalei dentro de um case externo.

Chegando em São Paulo, começou a zona. Meu celular, um nokia E71 (o fusca dos smartphones), começou a dar problemas. Não conectava, reiniciava sozinho, travava direto. Ainda dei um pouco de sobrevida a ele reinstalando (pela terceira vez em um ano) o firmware. Mas no fim de dezembro liguei pra TIM pra reclamar de alguma coisa da minha conta e acabei forçando a barra pra ganhar outro aparelho. Se fosse uns meses antes, eu até estaria disposto a arriscar o Nokia N900 por causa do maemo, com o qual eu já tinha brincado um pouco. Mas o relativo isolamento do sistema, a empatação eterna do Symbian e, por outro lado, algumas experiências que eu tinha feito com o Android me convenceram a dar uma chance ao robozinho. Perguntei pra moça o que eles tinham com Android e ela me ofereceu um "mailistoni dois". Eu tinha visto meia dúzia de geeks felizes com ele, e topei. Ela falou que chegaria em "sete a nove dias úteis".

Enquanto isso, meu laptop ("Saci", um Samsung NC10) também começou a dar problemas: o cooler fazia mais barulho que a ventoinha do Opala que eu tive há uns anos. Usei a chave de fenda com os dezessete (!) parafusos que seguram a tampa de baixo, tentei limpar e nada. Continuou barulhento. Até encontrei um cooler novo no ebay por uns 15 dólares, mas pra entregar em 45 dias. Teria que tomar cuidado pra não ferver o bicho. Aí na semana seguinte a tela dele começou a ficar psicodélica: as cores ficavam mudando, invertidas, coloridas, dançando. Brazileiro falou no tuíter: "transforma em arte". Pra isso até tudo bem, mas pra ler e escrever tava complicado. Comecei a pesquisar novos PCs. Não gostei de nenhum modelo que a Dell vende no Brasil, descartei Acer e Compaq por traumas passados, Sony pelo preço. Infelizmente, nenhum fabricante conseguiu juntar todos os atributos que eu queria: teclado decente, tela entre 10" e 12", boa bateria, construção sólida, mouse razoável, sustentabilidade, preço bom. Acabei ficando entre modelos da Asus e Lenovo. A Lenovo tem um score terrível no Guia de Eletrônicos Verdes do Greenpeace, enquanto a Asus nem consta no guia. Eu quase comprei o Asus 1201T, mas na última hora um amigo conseguiu um desconto indecente no Lenovo, e acabei encomendando o Thinkpad X100e. Pra compensar a minha falta com o meio ambiente, tenho a dizer que os outros thinkpads que conheci duraram cerca de meia década de uso intenso, e espero que o X100 siga essa linha.

O celular não chegava e não chegava. Eu encomendei no dia 26 de novembro. No meio de janeiro, liguei uma vez mais pra TIM. Primeiro a moça me falou que na semana seguinte chegaria. Depois uma outra moça me disse que "o mailistoni dois está fora de estoque". Eles venderam tudo e não entregaram o meu. Soltei os cachorros e ganhei mais uns reais de crédito. Acabei encomendando outro aparelho, o Sony Ericsson Xperia X10. Ele não tem teclado físico, mas pelo menos o fabricante está bem colocado no guia de eletrônicos verdes (muito melhor que a Motorola). Dessa vez, o aparelho chegou relativamente rápido: em duas semanas, eu estava usando o Android. Não me arrependo de ter largado a Nokia. Na verdade, depois do recente anúncio da parceria deles com a Microsoft eu tenho certeza de que acertei. O aparelho tem uma tela gigante, é bem estável e tem configurações boas (clock, memória, etc.). Falta o rádio FM e a bateria gasta demais, mas isso é meio inevitável. Tenho usado softwares como o Aldiko pra ler ebooks, o fantástico OSM Tracker para gravar trilhas de GPS (pro projeto de mapeamento do Ubalab - já estou dando uns rolês de bicicleta por Ubatuba), e ainda estou aprendendo um monte de possibilidades de integração do Android com outras plataformas como o Android Notifier para o Ubuntu, o Tomdroid para acessar notas do Tomboy e mais um monte de coisas.

Já o laptop chegou ainda no fim de dezembro. Fiz um backup dos dados do meu computador antigo usando o HD externo. Instalei o Ubuntu Maverick para 64 bits no novo, transferi os dados pra ele. Resolvi alguns detalhes de configuração do Ubuntu e... comecei a ter problemas. Nem ouvir música com mplayer estava rolando - o som pulava, etc. Cheguei a roubar a memória RAM do outro laptop, e nada. Nos testes pra configurar o suspend, fiquei duas ou três vezes com o sistema pendurado: a máquina travava, eu forçava o reboot e acabava sem acesso ao sistema. Depois de subir um sistema em LiveCD, rodar fsck e identificar alguns bad blocks, ele voltava. Tentei reinstalar, com a versão anterior do Ubuntu. Mesma coisa. Atualizei a BIOS. Nada. Quando isso se repetiu muitas vezes (em 21 de janeiro), liguei pra assistência técnica. Eles me orientaram a rodar um programa de diagnóstico disponível na BIOS, que só confirmou que o disco tinha vindo com defeito. Ficaram de me substitui-lo. Voltei para o computador antigo, mas já tinha excluído meus dados de lá. Depois de uns dias brigando com a tela dele, acabei pegando o HD e instalando no novo. Acabei instalando de novo o Ubuntu, mas não me preocupei muito em fazer tudo funcionar ou copiar meus arquivos, já que o disco novo chegaria logo. No fim das contas, ele demorou. Fiquei quase duas semanas sem acesso aos meus arquivos, até que o HD chegou em São Paulo. Uma amiga trouxe ele pra mim no fim de semana. Antes de qualquer coisa, rodei o programa de diagnóstico da BIOS. Aparentemente, tudo ok.

Comecei tudo de novo - instalar Ubuntu, configurar, resolver pequenos bugs. Acho que foi a quarta ou quinta instalação em menos de um mês. Quando fui copiar o backup do meu HD externo, nada. Conectei o cabo e ele nem deu sinal. Não montou, não apareceu nos logs do sistema, nada. Levei o HD pra outro computador da casa. Nada. Pânico. Grande parte do que eu tenho nesse HD não existe mais - são dados copiados de CDs e DVDs que já mofaram. Resolvi tirar o HD da gaveta e retorná-lo pro desktop. Antes, tive que levar o gabinete até a oficina pra tomar um jato de ar - em três meses sem uso, tinha acumulado uma grossa camada de poeira. Liguei, e felizmente funcionou. Daí foi só mandar ver - rsync -avz pra copiar o backup para um outro HD externo que temos aqui em casa, e depois finalmente - depois de quase dois meses - voltar a ter um ambiente de trabalho estável com todos os meus arquivos.

Em tempo: ainda estou brigando com o driver pra placa rtl8192se_pci (a versão disponibilizada pelo fabricante não compila no sistema operacional de 64 bits, e a versão que vem com o ubuntu é meio instável), mas de resto tudo está OK.