Estado das coisas

Estou morando em Ubatuba, na costa norte de São Paulo. Menos por algum delirio cyberhippie de viver perto da natureza do que por uma necessidade de encontrar um lugar pra me estabelecer um pouco, parar de circular, e ter contato mais direto entre as coisas que eu faço e o resultado que elas dão no mundo. Em São Paulo tudo se aliena e se distancia. Em Porto Alegre, o tédio vem logo. Na Europa, bom... não me sinto em casa. Além de tudo isso, tenho também a intenção de aprofundar minha vivência cotidiana em grupo. Mas ao contrário de muitxs amigxs, não preciso criar esse tipo de experiência do zero: através da minha cúmplice, eu faço parte já há alguns anos da segunda geração de um grupo de pessoas que vive junto há mais de três décadas. Minha mudança pra Ubatuba é só uma explicitação desse lado. Fora que vou conhecer melhor os buracos e cantos escuros dessa cidade aqui, que eu freqüento há oito anos mas na qual nunca passei mais de 10 dias ininterruptos. Meus primeiros dias aqui, logo que chegamos de Barcelona, foram de pura crise orgânica: rinite, zumbido no ouvido, repouso forçado. Só agora chego de verdade à cidade. Tenho meus planos de médio e longo prazo aqui, mas até o fim do ano pretendo ficar só observando, pra entender melhor os ritmos. Mas certo que a MetaReciclagem vai chegar a Ubatuba.

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Passei quase duas semanas em Porto Alegre. O suficiente pra encontrar alguns fios perdidos da minha formação, mas sem dar tempo suficiente para sentir o tédio que me fez correr de lá.

Descobri que meu bairrismo nem é com Porto Alegre, é de bairro mesmo. Por mais que eu tenha morado em um monte de lugares, minha referência de vida urbana é o Bom Fim de 15 anos atrás. Muito da minha idéia de convivência urbana tem uma grande influência dessa coisa de encontrar as pessoas nas ruas, de ir à feira no sábado à tarde, de ver que a maioria dos prédios só são fronteados por grades, ao invés dos altos e fechados muros dos bairros residenciais paulistanos. Em um ou outro lugar, senti uma paulistização de Porto Alegre, e isso me incomodou, mas continuei ali no meu delírio esquizo-nostálgico, que é só meu.

Do Bom Fim de hoje, fiquei feliz em finalmente ter tempo de conhecer mais a fundo a Palavraria da Dra. Carla Osório, que me deu meu primeiro CD de Blues (um dos poucos objetos que me acompanham há mais de 15 anos), de ganhar um corte de cabelo da Su na Dança das Cabeças ali na Vasco, de comer o habitual Xis Coração acompanhado de umas Polar na Lancheras, de conhecer o Gibi (e descobrir que o dono é o Appio, meu diretor de criação na época da Estagio 21).

Gostei da terceira perimetral porque facilitou o acesso à Zona Sul. Não gostei ali da passagem por cima da Assis Brasil, que me fez lembrar do viaduto da nove de julho em sampa e o quanto isso atrapalhou o entorno.

Eleições em Porto Alegre definitivamente perderam a graça na rua. Mas ainda dão motivo a risadas: Onyx e Mano Changes é de rolar no chão. A Maria do Rosário é uma decepção. Fez até chapinha - demorei pra reconhecer a foto no primeiro cartaz que vi -, e tá no horário político com um discursinho Duda Mendonça que dá até nojo, sem rompimento, sem garra, sem graça. Manoela transformou a cor do PC do B em roxo, e isso me incomodou mais do que deveria. Acho que o Fogaça fica. Dos males o menor, pelo menos ele vai ter menos tempo pra "compor".


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Ganhei 11 livros de aniversário. Amo mis amigxs. Preciso de outra prateleira.

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Pensando em propor de falar sobre a MetaReciclagem como ficção científica não-textual na Pecha Kucha Night.

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Preparando aqui um curso online sobre pesquisa na internet. E um monte de assuntos esperando blogagem: metalearning e aprendizado distribuído, drupal e a rede humaniza sus, andamento do mutirão da gambiarra, e outras coisas.

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Eu volto.