Acompanhei de maneira solta as eleições espanholas. Dei mais atenção a um fato específico: o presidente é na verdade um cabeça de chapa, que é eleito para o Congresso e depois escolhido para 'presidir o governo'. Quando cheguei por aqui já tinha ficado curioso com o fato que os jornais usam a expressão 'presidente do governo' e não 'presidente do país'. Claro, tem a ver com a monarquia, mas ainda acho mais leve pensar que o presidente exerce a função de presidir o governo, não o país. Me parece menos autoritário. E aí tô lendo uma história em quadrinhos que é uma biografia satírica, obviamente não-autorizada, do Sarkozy, presidente francês. E sim, o sistema é viciado, ainda permite que alguns espertinhos que entenderam o poder da mídia distorçam a maneira como as coisas funcionam, mas de qualquer forma me deixa curioso toda a composição distrital e a necessidade de diálogo que existe mesmo pros mais sacanas chegarem ao poder - é possível, mas exige muito esforço. Também li um pouco ultimamente sobre o funcionamento dos parlamentos britânico e holandês, e lembro do que já li sobre a mania desses últimos em debater, debater, debater. Enfim, a velha curiosidade e navegação descompromissada na web.
E aí olho pro Brasil começando ano eleitoral de novo, e me pergunto sobre os papéis do jogo político, e como o nosso sistema representativo é viciado em autoritarismo e numa super-simplificação de papéis: a imagem comum é que existem os legislativos, que passam o tempo inventando maneira de beneficiar suas amizades com dinheiro e privilégios; o judiciário, que passa o tempo procurando manter seus próprios privilégios, e o executivo, que é quem manda. E manda não só no governo, mas no território: o prefeito da cidade, o governador do estado, o presidente do país. Isso pra não falar no equívoco, espertamente perpetuado pela mídia, de que "política" é uma coisa que acontece separada das outras atividades da sociedade: "os políticos" são uma classe em si, a população faz política quando vota. Mais imbecil ainda é o voto obrigatório, forçando quem não tem o menor interesse ou discernimento a ir lá apertar qualquer botão.
Mas até aí, nada de novidade. O que motiva esse post é perceber que tem mais gente que se incomoda com esse tipo de coisas, e que talvez comece a existir alguma oportunidade pelo menos de mais diálogo sobre participação política e a tal da "democracia" brasileira. Independente de opções partidárias, independente de chances reais no jogo sujo da competição real, os movimentos atuais da Soninha em São Paulo e do Gabeira no Rio me fazem ter um pouco mais de otimismo.