Cultura e MetaReciclagem

No meio de junho, uma entrevista de Claudio Prado pro Cultura e Mercado usando o termo "metareciclagem" causou celeuma na lista metarec. O Badah, que está tanto ligado ao pessoal do C & M quanto fez e voltou a fazer parte da lista, mandou uma mensagem sobre o assunto. As respostas foram diversas. Eu, com algum atraso, mandei minha contribuição:

		Acho que as duas coisas que incomodaram
	mais as pessoas foram que a matéria ignora todo o histórico da
	metareciclagem, que já tem cinco anos de constante reinvenção,
	com base em diálogo e autonomia, e uma carona que pega na
	tal da "web 2.0", que de uma idéia interessante virou pura
	hipérbole especulatória, conversa mais de mercado do que de
	pessoas. E aí, na minha opinião, falta entender outro ponto
	essencial: MetaReciclagem é relacionamento, rede, troca, tribo,
	bando, identidade coletiva, muito mais do que o mero reaproveitamento
	de "lixo digital". MetaReciclagem é menos uma definição de técnica
	ou metodologia do que um fenômeno social, pessoas fazendo
	coisas juntas porque compartilham a perspectiva de que a
	tecnologia se presta a usos múltiplos, não só aqueles que a
	indústria quer que a gente acredite. A MetaReciclagem também
	é um jogo coletivo cujo objetivo é definir seus próprios objetivos.
	Em suma, a MetaReciclagem vai muito além do que o artigo
	demonstra, e mesmo o pouco que ele tenta mostrar é confuso
	e tem pouco a ver com tudo o que se fez e pensou nesses
	últimos anos. Acho que o artigo também falha em mostrar
	o que é mais importante da Cultura Digital - a realimentação
	entre a ação nos Pontos de Cultura e a MetaReciclagem como
	rede autônoma. Pra mim, foi um processo com alguns percalços,
	mas no fim das contas positivo sob muitos aspectos. A rede da
	MetaReciclagem conta com pessoas importantes que não teriam
	vindo sem a interação com a Cultura Digital. E a Cultura Digital
	adotou, mesmo que de uma maneira fragmentada e com menos
	diálogo com a comunidade do que a gente gostaria, uma
	perspectiva de desconstrução que foi influência de metarecicleirxs,
	e que ajudou _muito_ na implementação da Cultura Digital.
	Por mais que existam problemas e territórios cruzados e questões
	pessoais e pouca clareza no relacionamento, as duas entidades
	abstratas "cultura digital" e "metareciclagem" estão profundamente
	ligadas, para o bem e para o mal.
	Mas é óbvio, isso acaba muitas vezes sendo de nossa responsabilidade.
	As maneiras que a gente usa pra conversar com o mundo sempre
	foram negligenciadas. Eu dediquei um bom tempo da minha vida
	a pôr no ar sistemas diversos pra tentar facilitar a comunicação da
	MetaReciclagem entre si e com o mundo. Mas geralmente eu sou
	quase o único usuário dos sistemas (com exceções, como os blogs),
	e se temos poucos administradores, temos menos ainda pessoas
	tentando melhorar essa comunicação. A maneira de entender a
	MetaReciclagem hoje é procurar por textos ou entrevistas ou
	relatos espalhados pela web, e isso é uma tarefa bem difícil.
	Responsabilizar o Cultura e Mercado ou o Claudio Prado ou
	a pessoa que escreveu o artigo por não explicarem tudo o
	que é a MetaReciclagem é tirar o nosso da reta. A responsa
	é nossa.
	E aí, alguém se mexe pra mudar isso? Porque se a gente se define
	como rede aberta, é um contra-senso tentar controlar o que se fala
	sobre MetaReciclagem. Pra mim, o que a gente pode fazer pra
	garantir que exista uma versão ampla e com respeito a toda a
	diversidade que a MetaReciclagem propõe é escrever e publicar
	essa versão no nosso site. E tudo o mais que se falar sobre
	MetaReciclagem ser ratificado ou retificado ali.
	

Aí semana passada um jornalista procurou algumas das pessoas que participaram da discussão na lista pra oferecer o outro lado. Resultou em um artigo meio bagunçado, que fala em uma tal "confusão" nos depoimentos prestados, mas pelo menos mais aberto a opiniões. Não sei se a confusão mora realmente nos depoimentos ou no prazo curto que o Guilherme teve pra tentar entender a MetaReciclagem. Mas é aquela coisa, vida de jorrnalishta, né?