Tecnologia e Magia

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--- Há mais ou menos um ano e meio, nas preparações pra primeira submidialogia, Pedro Ferreira mandou na lista de discussão a sintese de um texto de Alfred Gell chamado "Technology and Magic". Descolei o PDF e guardei-o no meu lotado diretório de textos Palê. Tentei ler algumas vezes, mas o texto em duas colunas é ruim de ler na tela. Foi só semana passada que consegui imprimir, na Casinha - que vai ser um post à parte outro dia por aqui.

O Pêndulo de FoucaultA visão de Gell sobre tecnologia se aproxima bastante da perspectiva que eu tentei esboçar em umas apresentações que eu fiz ultimamente - a tecnologia vista de modo amplo, como sistemas que transformam um dado contexto. Gell sugere que a tecnologia envolve três esferas: as tecnologias de produção - o que geralmente é chamado de tecnologia; as tecnologias de reprodução (da própria sociedade e dos laços sociais), e as tecnologias de encantamento. Nessa última categoria ficariam as danças, a música, a arte, e outras responsáveis pela "manipulação das paixões humanas" como o desejo, o terror, vaidade e outras.

Mais adiante no texto, ele trata de magia. A síntese do Pedro (não sei se ele publicou em algum lugar) explica bem:

Na segunda parte do texto, dedicada à magia, Gell apresenta o feitiço como um "plano cognitivo" para a ação, e a magia como um fluxo contínuo de comentários sobre as ações técnicas que as divide, enquadra, define, guia, internaliza e exercita. Como numa brincadeira de criança, a magia vai além do real rumo ao ideal da ação e está ligada ao processo de inovação. Segundo Gell, o "papel cognitivo das idéias mágicas" é criar um "campo de orientação às atividades técnicas", sendo a inovação técnica o resultado não da satisfação de "necessidades" mas sim da realização de ideais técnicos até então considerados mágicos. Através de três exemplos etnográficos, Gell mostra que a magia é uma "tecnologia ideal" que parte da tecnologia real mas a supera indicando o caminho de sua evolução: "é a tecnologia que sustenta a magia, mesmo quando a magia inspira novos esforços técnicos".


A objetividade do texto me incomoda um pouco por conta da dissecação da "magia" como mero comentário. Mas esse é um incômodo da fé, não da razão. Ao colocar um papel quase utilitário na magia, o de definir padrões ideais posteriormente seguidos pela técnica, eu sinto uma certa perda do próprio significado da magia. Não que eu não concorde, mas me dá mais satisfação pessoal ignorar essa limitação de alcance, como um Sidarta decidindo por uma incursão pelo Samsara não como rejeição à iluminação, mas como busca por conhecimento. Prefiro a liberdade de escolher no que acredito. E tem outro lado - a magia também se presta, por outros caminhos, à formação de identidades, a estabeler laços sociais diferenciados.

De qualquer forma, a Wanderlynne me contou que esse texto é uma das referências básicas para chegar à compreensão que pode me levar um dia a ser aceito como aprendiz nos Círculos de Tecnomagia. Sigo aqui na minha busca.

Imagem de sylvar encontrada no Flickr com licença Creative Commons.

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