* Dei uma palestra sobre a MetaReciclagem para os alunos do Sergio Amadeu na Cásper. Dei uma geral sobre o contexto, movimento hacker, software livre, mídia tática, coisas no Brasil, o MTB, e outras coisas. Bom pra exercitar a narrativa. Falei pacas, pra variar.
A primeira edição do Ciclo Gambiarra, com o Stalker, foi bem interessante. Estamos agora planejando a próxima.
Mbraz questionou sobre a "sucata" na lista:
Nao so' devemos considerar a gambiarra como uma das praticas disseminadas pela metareciclagem, mas ainda a sucata entendida como sobra de um mundo industrial quase caduco.
Se no's, feito homens_maquinas pela logica capitalista, ja' cansamos da doacao da mais-valia; em contrapartida buscamos a mais-valia das maquinas que a mesma logica do processo industrial descarta.
Se menos-valia das maquinas para eles, muito mais-valia para nos outros. Ou dito de outra forma, sucata no dos outros, nao e' refresco para no's (hehe)
Stalker respondeu direto, acho, e não entrou nos arquivos da lista:
Há dois filmes geniais para "ilustrar" essas coisas... ou três:
1 - Johnny Mnemonic: a revolução e a resistência vem dos Loteks, que são ciborgues metarecicleiros não-conformistas e anti-corporativos
2 - Robots: o direito à peças de reposição é o direito a identidade dos robots, assim como à sua persistência como enquanto entes vivos e auto-determinação como entes pensantes; a resistência vem da aliança de um herói bricoleur com o inventor original de robos; o nêmesis é um robot corporativo que quer exterminar os robots obsoletos e forçar a todos a só usar peças novas que ele fabrica. (Vista à vista...)
3 - Matrix Reloaded: ótimos diálogos sobre máquinas (a) com o meta-algoritmo "oráculo" (b) com o antagonista-virus e seu argumento de metástase (c) com o conselheiro da cidade rebelde (d) com o meta-algoritmo "grande arquiteto".
Alguma conceituação:
* Sucata são materiais e máquinas que não se ajustam mais aos programas de uso preexistentes (por uma conjunção de desinformação, desimaginação e alienação em relação às técnicas)
* Gambiarra é a utilização de máquinas e materiais adicionando outros, induzindo derivas nos programas de uso preexistentes.
* Manutenção é o ajuste de máquinas e materiais para que se mantenham nos programas de uso anteriores, predefinidos.
* Engenharia é a imposição de programas de uso a materiais e máquinas, em geral, programas não emergentes desses, mas predefinidos segundo interesses em finalidades prefiguradas alhures.
* Reciclagem é a utilização de máquinas e materiais para a incorporação em programas de uso preexistentes, mas distintos (às vezes completamente) dos programas dos materiais e máquinas originais. Em geral, são formas de engenharia com sucata, nenhuma inovação emerge.
* Bricolagem é a utilização intuitiva e estética de materiais e máquinas à revelia dos programas de uso preexistentes, em função de virtualidades que emergem do contato entre entes variados (interesses estéticos, demandas de comunidades, possibilidades de fontes de energia e materiais, virtualidades de máquinas, pressões de outros grupos sociais &c).
* MetaReciclagem é a atividade de uma rede de ativismo que faz meta-reciclagem. (hahahá, argumentos recursivos são sempre divertidos!)
(Ou seja, um híbrido de bricolagem e reciclagem, principalmente de máquinas heurísticas. Em termos globais da ação, estratégico-recicleiros, busca-se redefinir de diversas maneiras os programas de uso das máquinas para favorecer (a) o seu uso coletivo e público; (b) a recepção ativa, a produção e difusão de conhecimentos e inovações tecno-cuturais; (c) a autonomia tecno-político-cultural. Em termos tático-bricoleiros, sabe-se lá o que vai acontecer, deixa-se o ciborgue a ser sugerir que ente ele deseja ser, como na bricolagem mais intuitiva e estética.)
Note que não falo mais nem de revolução, nem de tomada do poder: quando algum grupo toma o poder instituído, é a instituição do poder que tomou o grupo. A gente tem que criar uma forma de poder não-apropriavel por nenhum particular, seja individual, seja privado, seja coletivo/corporativo.
Não sei se concordo totalmente com essas definições. Em alguns casos eu faço outro corte...
Aí um dia me ligou uma jornalista da Nova Escola, a revista. Sentado debaixo de uma árvore nas Perdizes, respondi a algumas questões que ela tinha pra escrever uma coluna sobre MetaReciclagem.
Aí eu descobri onde tá o novo blogue do Banto e ele escreveu um pouco sobre MetaReciclagem:
Quando todo o processo de criação e descoberta é liberado de forma que mais pessoas possam ter acesso aos passos dados para chegar ao resultado, de forma que as pessoas também possam estudar a partir do documento, alterar e redistribuir.. o conhecimento tem um grande salto coletivo.
Legal ver que o processo espontâneo de crescimento da rede MetaReciclagem continua... um cara chamado Helio participou de uma oficina de MetaReciclagem, se apresentou na lista em 29 de março como "novato na área", e em 13 de abril já mandou outro email assim:
não estou mais agora como 'novato na área' mas sim como metarecicleiro, e como estamos criando um projeto de metareciclagem em prol da comunidade, gostaríamos de poder contar com idéias, informações e apoio de vocês.
O OLPC também foi assunto de algumas boas discussões na lista. Hudson avisou que estava disponível para download o LiveCD com o sistema que roda nos X-Os. Eu baixei e testei, por curiosidade. A interface é interessante, bem simples. Na minha máquina dá umas travadas, mas isso é de se esperar. A Tati, com base na experiência que tem com escolas públicas com o GESAC, falou que teme o que vai acontecer quando chegar nas escolas.
Continuo acompanhando à distância mas com bastante curiosidade as articulações do Regis e da Teia no Arraial com o Bailux. Um dos colaboradores de lá, o Renato, estava em sampa na época do debate com o Stalker, e já aproveitou pra participar, além de conversar com o Alê e Nano sobre wi-fi e outras coisas que eles estão querendo fazer no Bonete.
Uma declaração do presidente do CDI sobre o OLPC virou debate na lista também. Uirá compilou e recomentou em seu blogue:
e eu vim aqui pra dizer que esse baggio vacilou de falar mal,
e o que falou foi bla bla bla... educação, gestão comunitária?
claro. mas quem foi que disse que o olpc não preza por isso...
vai ler baggio...!
Uma triste notícia das últimas semanas foi o falecimento de Ricardo Rosas, em Fortaleza, 11 de abril. Apesar de algumas diferenças de opinião que a gente tinha, ele foi uma das pessoas que eu quis (e cheguei a tentar, sem resposta) convidar para o Ciclo Gambiarra. Eu tinha voltado a conversar com ele depois de ler o artigo dele (PDF) no Caderno Videobrasil sobre... gambiarra. Ele me falou que estava finalizando um livro sobre o assunto. Saiu uma nota de homenagem a ele no CMI, além de muitos comentários em listas brazucas e gringas. Eu fiquei em paz com a notícia depois que um email do David Garcia pra nettime me fez lembrar que Rosas era budista. Que tenha felicidades nessa próxima fase, então.
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