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Em setembro do ano passado, fui convidado pelo pessoal da Casa de Cultura Digital a ajudar na organização do Festival CulturaDigital.Br que aconteceria em dezembro. Eu já havia trabalhado com eles no ano anterior, quando articulei junto com Maira Begalli o encontro Rede//Labs na segunda edição do que então se chamava Fórum CulturaDigital.Br, realizado na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. Para 2011, algumas coisas seriam diferentes. Além da mudança para o Rio de Janeiro – no MAM, em pleno Parque do Flamengo - e de um nome que sugeria um evento mais aberto do que os anteriores – não mais “fórum”, e sim “festival” -, haveria também maior autonomia em relação à agenda do Ministério da Cultura: em vez de articulado pelo próprio Ministério, seria dessa vez um projeto com patrocínio quase privado, bancado com parte do imposto devido por algumas grandes empresas, enquadrado em leis de incentivo fiscal. Contaria também com o apoio de fundações, de um monte de pequenas organizações e da Agência Espanhola de Cooperação Internacional e Desenvolvimento.
O Festival teve relativamente pouco tempo para planejamento e pré-produção – no momento em que aceitei o convite, faltavam cerca de noventa dias para sua realização. A princípio, eu somente faria parte da equipe de curadores, que estava responsável pela seleção das quase 360 propostas recebidas através da chamada pública, e pela sua subsequente estruturação em uma programação que fizesse sentido. Mais tarde decidi me envolver mais - em vez de simplesmente selecionar uma série de apresentações e enfileirá-las na planilha, acabei assumindo a coordenação do que veio a se tornar um laboratório permanente durante os três dias do Festival. Seria de certa forma uma sequência do que havíamos desenvolvido no ano anterior, com o encontro Rede//Labs. Mas com a particularidade de que não nos limitaríamos somente a debater metodologias e conceitos ligados a laboratórios. A ideia dessa vez era justamente avançar em testes concretos, continuando a reflexão sobre estruturas, metodologias e práticas em laboratórios experimentais na fronteira entre arte, tecnologia, educação e sociedade.
Antes
Trabalhar com uma convocatória aberta foi um exercício interessante. O grande ponto positivo é ter contato com novas pessoas e propostas, muitas das quais nenhum dos curadores conhecia de antemão. Por outro lado, a necessidade de estabelecer um recorte coerente em prazo tão curto acaba pressionando e de certa forma desarticulando o papel da curadoria. A construção de sentido entre os diferentes projetos selecionados fica mais complexa e logo superficial, justamente por conta da grande diversidade de propostas. Outro inconveniente é que as pessoas, mesmo que de forma não intencional, tentam adequar suas propostas àquilo que acreditam que vai ser aprovado pela comissão de seleção – e muitas vezes se equivocam totalmente. Durante a seleção, eu em particular decidi dar menos atenção ao conteúdo literal das propostas, e procurei entender o que estava por trás delas – repertório, inovação, perspectiva, flexibilidade e disposição. O grande número de submissões foi sem dúvida uma dificuldade, mas conseguimos chegar a um horizonte de cerca de cem projetos aprovados para o Festival.
Nas duas primeiras edições do Fórum, existia uma área chamada “Hands Zone”. Confesso que o nome nunca me agradou, mas era onde acabavam se reunindo os grupos e pessoas interessados em, para além de debater, fazer na prática isso que se tem chamado de cultura digital. Propus aos organizadores que dessa vez transformássemos essa área em um laboratório experimental, que reuniria aqueles projetos que haviam proposto workshops, demonstrações técnicas ou experimentação com tecnologias. Mas eu não queria simplesmente uma área para aulinhas e oficinas, e assim propus uma rearticulação dos projetos selecionados.
A ideia é que havia muito em comum entre algumas das propostas, e não faria nenhum sentido um programa com várias atividades parecidas competindo pela atenção das pessoas. Além disso, sempre me incomoda o fato de que em grande parte dos eventos da área, artistas, ativistas e pesquisadores precisem, por força do conservadorismo nos formatos, se limitar a repetir aquilo que já sabem, em vez de aproveitar o contato com colegas para aprender e desenvolver seus próprios projetos. Criei (mais uma) lista de discussão, chamada Labx, para conversar com todos os proponentes, na tentativa de promover o diálogo entre as propostas enviadas e aquilo que poderiam construir transversalmente. Incentivei que, em vez de oficinas genéricas para um público abstrato, o pessoal trouxesse questões a resolver coletivamente durante aqueles três dias. Conversando com alguém durante o Festival, justifiquei essa preocupação dizendo que “laboratório não é escola”. O que eu menos queria era que oficineiros e participantes chegassem, cumprissem seu compromisso na agenda do Labx e fossem embora, deixando de aproveitar o potencial de colaboração paralela entre os diferentes projetos.
Analisando as propostas selecionadas que se aproximavam do recorte do Labx, imaginei dois eixos temáticos. O primeiro reuniria projetos interessados na manipulação, em sentido amplo, de tecnologias: software e hardware livres, experimentação multimídia, fabricação digital, gambiarra tecnológica, etc. Chamei essa linha de “Bricotecnologias”. O segundo agruparia tecnologias e metodologias para mapeamento, o que chamei de “Cartografia Experimental”. Alguns projetos se posicionavam exatamente entre os dois eixos, mas isso não chegaria a ser um problema justamente pela disposição em manter o Labx aberto e livre para reorganização espontânea de programações.
A estrutura do Labx seria bastante simplificada: uma bancada central com som, telão e cinco laptops, e tantas bancadas auxiliares quanto fosse possível. Eu queria que as bancadas auxiliares fossem móveis, mas a instalação elétrica e de rede ficaria comprometida, então elas permaneceram fixas. Consegui convencer a técnica a instalar na bancada principal um PC com prioridade na rede, garantindo uma conexão bem rápida para eventuais downloads de software e mídia ou videoconferências. Havia um armário para que os participantes deixassem equipamentos e ferramentas durante a noite. Teríamos também um kit básico de ferramentas, para quem precisasse delas.
Na conversa com os proponentes, adotei tratamentos distintos para os dois eixos. Bricotecnologias já começaria na tarde de sexta-feira com uma sessão de microapresentações: cada proponente teria no máximo dez minutos para explicar o que pretendia desenvolver durante o Festival. Nos dois dias seguintes, poderiam ocupar qualquer bancada auxiliar, em qualquer horário, para fazer o que e como bem entendessem. Alguns organizadores ficaram apreensivos com tanta liberdade, mas a alta ocupação do Laboratório comprovou que isso funciona.
Já o eixo Cartografia Experimental teria uma programação um pouco mais estruturada: começaria no sábado com uma conversa introdutória sobre mapeamento e cartografia, seguida de uma apresentação técnica sobre softwares livres para mapeamento digital, e no fim da tarde uma “deriva” a pé em grupo que passaria pela Cinelândia e pela Praça Mauá rumo ao Ipe, no Morro da Conceição, ciceroneada por Naldinho Motoboy (roteiro aqui). No domingo o pessoal se reuniria para trabalhar em questões mais específicas, sem uma agenda definida.
Nos dois eixos havia algumas propostas estrangeiras. Como não teríamos tradução simultânea no Labx, optei por agrupá-las para facilitar a comunicação. No fim da tarde do primeiro dia, todos os proponentes estrangeiros fariam também microapresentações sobre o que pretendiam desenvolver nos dias seguintes, quando ocupariam igualmente as bancadas auxiliares.
A programação final do Labx teria ainda algumas atividades extras. Uma conversa técnica sobre tecnologias livres para telepresença, organizada pelo GT de mídias digitais e arte da RNP, foi agendada para o sábado à tarde. Para o domingo organizamos também uma conversa sobre laboratórios temporários e em rede. Além das atividades desenvolvidas no próprio Labx, grande parte das propostas também faria parte da Mostra de Experiências, e tivemos que ficar atentos para conciliar as duas agendas.
Durante
Cheguei ao Rio na noite da quarta-feira. Aproveitei o dia seguinte para resolver os últimos detalhes com a equipe de produção local, além de acompanhar parte do seminário da RNP sobre “desafios da arte em rede”. O seminário reuniu a institucionalidade da RNP e do Ministério da Cultura com artistas e acadêmicos em contextos diversos. Não trouxe muita novidade, mas foi relevante por reconhecer oficialmente um universo de produção ainda sub-representado nas políticas do Ministério. Houve alguns deslizes, como uma tentativa mal-sucedida de usar a criação da coordenadoria de cultura digital para contemporizar o nítido retrocesso em relação às políticas inovadoras da gestão anterior. Pegou mal. A Funarte citou as bolsas de pesquisa em cultura digital (de 2010), mas não falou nada sobre novas edições do programa. O Minc falou sobre a inclusão de metas ligadas a cultura digital no Plano Nacional de Cultura, mas não se posicionou de forma convincente sobre a redução geral do orçamento para 2012. Por outro lado, a RNP acenou com a possibilidade de retomar o plano (também de 2010) de desenvolvimento de laboratórios de arte e tecnologia em diferentes localidades do Brasil. Eu participei da elaboração desse plano, e quinze meses depois ainda estou aguardando alguma novidade concreta a respeito. Na época, cheguei a elaborar para o Minc um edital de pesquisa em cultura digital experimental mas ele nunca saiu do papel. Espero que agora seja, como pareceu, o primeiro passo de um caminho propositivo e efetivo. A própria realização do seminário parece apontar que estão mesmo retomando o assunto. O programa do dia fechou com uma apresentação do espetáculo “Frágil”, de Ivani Santana, um uso surpreendente de internet ultrarrápida, sincronizando várias performances remotas ao vivo em tempo real – em dois ambientes locais e mais alguns em diferentes cidades do Brasil. O espetáculo se utiliza de software livre desenvolvido pelo GT de Mídias Digitais e Arte da RNP.
Na sexta-feira dei um pulo no centro para comprar algumas ferramentas e material que ainda faltavam. Naquela tarde, a primeira atividade oficial do Festival estaria relacionada indiretamente à programação do Labx. Tratava-se de uma arena de debate sobre “Políticas para Laboratórios de Cultura Digital”. Com um atraso quase protocolar de uma hora, começamos – inicialmente eu, Rodrigo Savazoni (CCD) e Guido Lemos (Lavid), e mais tarde Alvaro Malaguti (RNP) e a participação aberta do público. O debate começou vazio, mas foi ganhando corpo à medida que os participantes do Festival iam chegando ao vão do MAM. Contextualizou-se a questão da inovação no cenário tecnológico e político da cultura digital no Brasil, contaram-se alguns casos, lançou-se software livre para TV digital, comentou-se sobre a necessidade de ocupar espaços na formulação de políticas públicas. Encerrando minha participação no debate, respondi a uma provocação do Alvaro – que comentou que precisamos parar de falar em laboratórios e começar a fazê-los – convidando todos os presentes a participarem da programação do Labx a partir daquele exato momento, no espaço ao lado.
Passamos ao Labx para as microapresentações do eixo Bricotecnologias. Estiveram por ali Fred, Lucas e Ganso do Gambiologia anunciando que trabalhariam em duas maletas de intercomunicação via radiofrequência analógica, que eles explicaram como “Skype analógico”. Ruiz apresentou o Cotidiano Sensitivo, projeto que captura e interconecta dados de temperatura, umidade e vento em diferentes pontos do nordeste, e disso deriva intervenções e ações. Duda Valle introduziu uma investigação sobre “cimática”, a visualização de ondas sonoras, que seria apresentada no Labx no domingo. Alexandre Rangel, o VJ Chorume, apresentou o Quase-Cinema Feijoada VJ, software de performance ao vivo que desenvolveu com base em Processing, Openframeworks e Blender. Fabbri e Chico, do Lab Macambira, contaram sobre a Airhacktable que montariam nos dias seguintes. Juca, Pitanga e Carine do Garoa Hacker Clube falaram sobre a oficina permanente de fabricação digital com a Makerbot. Isaias e Luiz contaram sobre o projeto Monitora Cerrado, que desenvolve estações autônomas de monitoramento ambiental baseadas em hardware e software livres. Juan Luiz e Tande, do Oi Kabum de BH, propuseram uma oficina de Processing e interatividade gráfica para a manhã do sábado. Bruno Vianna faria uma oficina de construção de antenas, além de convidar as pessoas a capturar dados de satélites no gramado do parque. Capi apresentou a comunidade Transparência Hacker e convidou o pessoal a participar da programação do busão hacker que ficaria estacionado atrás do MAM. Luca Toledo convidou quem se interessasse a participar de uma oficina de plugins para o Mozilla. Rudá, que a princípio não estava na programação, perguntou se podia oferecer uma oficina de temas para wordpress, que aceitamos de bom grado. Tadeu Cascardo da Holoscópio apresentaria o Brasuino, adaptação brasileira do Arduino liberada em GPLv2. Já havia atividades para o fim de semana inteiro, e ainda não havíamos nem começado.
Na sequência, foi a vez dos gringos. O canadense Alejandro apresentou seu projeto Waste2No, que tem por objetivo utilizar a chamada internet das coisas para conectar as pessoas que querem se desfazer de coisas daquelas que precisam dessas coisas. Hamilton Mestizo, da Colômbia, apresentou sua proposta de montagem de pequenos geradores de energia elétrica a partir de sucata eletrônica. Kasia Molga, ligada ao projeto Protei, apresentou o Oil Compass, instalação que propõe a captura e visualização de informações ligadas a vazamentos de óleo em alto mar. Luca Carruba entrou para apresentar seu projeto El Cartographo e emendou, acompanhado de Glerm Soares, a declamação de manifestos do MSST.
A programação do primeiro dia do Labx encerrou com a oficina-demonstração e lançamento do Quase-Cinema Feijoada Remix do VJ Chorume. Naquela noite ainda houve a abertura oficial do Festival no Cine Odeon, que não tinha espaço para todos os convidados – o que ocasionou inevitáveis cenas de gente barrada na entrada, algo contraditórias em um evento dedicado à cultura livre. Também inevitáveis foram as vaias e os gritos de “não me representa” em resposta à leitura por Sergio Mamberti de uma carta da ministra da cultura, Ana de Hollanda.
Na manhã do sábado, Hamilton Mestizo, Fabbri e Chico foram ao um galpão de coleta de lixo eletrônico da Regenero garimpar material para seus projetos (os geradores de energia e a Airhacktable). No Labx, a oficina de Processing funcionou bem, o pessoal se empolgou e queria continuar. No começo da tarde, as bancadas auxiliares já começavam a fervilhar de atividades: alguns Brasuinos aqui, as malas da Gambiologia ali, uma estrutura de cartolina para a Airhacktable, equipamentos desmontados em busca de peças para os geradores ali no meio. A Makerbot do Garoa Hacker montada na lateral. Quase-Cinema trabalhando em outro canto. Enquanto isso, o eixo Cartografia Experimental, puxado pela galera que organizou há alguns meses no Rio o Laboratório de Cartografias Insurgentes, reuniu participantes no gramado atrás do MAM para debater metodologias de mapeamento, respeito e envolvimento com sensibilidades locais, roteiros, contextos e particularidades.
Para a bancada principal, eu tinha articulado uma videoconferência entre o GT de arte e tecnologia da RNP e o pessoal do centro de arte Laboral e do Hangar (respectivamente em Gijón e Barcelona, na Espanha). Por uma daquelas dificuldades burocráticas de aluguel de equipamentos, o computador da bancada não tinha uma câmera nem microfone – e na correria de última hora eu esqueci de resolver isso. Acabamos ficando somente com uma demonstração remota ao vivo via Skype (sincronizada entre o Laboral e o Hangar) da utilização do Scenic, software livre de telepresença desenvolvido em conjunto com o centro de arte SAT, no Canadá. Na sequência, o pessoal da RNP apresentou Arthron, a também livre plataforma de telepresença utilizada para o espetáculo da noite anterior. Infelizmente, apesar da conexão excelente não conseguimos promover a troca efetiva entre os dois contextos, e essa é uma questão importante a se trabalhar em oportunidades futuras.
Continuamos a programação com a apresentação de ferramentas livres para mapeamento digital: Bruno Tarin falou sobre o Fronteiras Imaginárias. Breno Castro Alves falou sobre o Mapas de Vista/Ocupe o Mundo, junto com Leo Germani do Hacklab que contou mais sobre o tema para Wordpress que permite a publicação de conteúdo georreferenciado. Samuel Vale, da Holoscópio, fez uma apresentação bem completa sobre o OpenStreetMap, e depois Fernando Rabelo falou um pouco sobre soluções que tem utilizado para o mapeamento colaborativo do Recôncavo: aplicativos de realidade expandida para celulares que se utilizam de dados do OpenStreetMaps, Wikipedia e outras fontes de informação livre na internet. Encerradas as atividades, o pessoal se organizou e rumou para o Ipe, passando pelo #ocupario na Cinelândia.
Em algum momento daquela tarde, não consegui mais acompanhar tudo que acontecia no Labx. Eram muitas atividades simultâneas. Recebemos também algumas visitas importantes. Vindo de Taiwan, Ilya é um dos desenvolvedores do Milkymist – equipamento aberto para performances de vídeo cujos esquemas são publicados com licenças livres. Apresentei-o a Alexandre Rangel e eles ficaram algumas horas trabalhando. Ilya ficou tão feliz que deixou com o brasileiro o Milkymist que trouxe para demonstrar. Curiosamente foi I-wei, uma conterrânea de Ilya que vive em Berlim, quem proporcionou outra visita fortuita ao Labx. Ela é uma das organizadoras do programa VIP, que está organizando residências com artistas do mundo inteiro – que passam algumas semanas no Brasil, depois na África e na Europa. Por coincidência, a etapa brasileira acontecia exatamente no Rio de Janeiro, na época do Festival. Ao fim da tarde de sábado, ela trouxe o pessoal – gente do mundo inteiro, incluindo brasileiros - para nos visitar. Levei-os para conhecer alguns dos projetos em desenvolvimento no Labx, e depois outras áreas do Festival e o busão hacker.
Com base em experiências anteriores, evitei qualquer programação formal na manhã do domingo. As bancadas estariam abertas para quem quisesse trabalhar, mas sem agenda definida. Já depois do almoço, houve alguma sobreposição. Nas microapresentações de sexta, Duda tinha proposto montar a apresentação de cimática para o primeiro horário da tarde do domingo, mas confesso que não registrei. Justamente naquela hora tínhamos agendado a conversa sobre laboratórios temporários, que acabamos remanejando para outra bancada que estava com telão.
Esse debate sobre labs temporários deve ter sido a atividade individual mais movimentada do Labx. Não parei para contar quantas pessoas assistiam, mas tinha gente sentada e em pé por todo lado. Falei um pouco sobre o contexto do Laboratório Experimental, o levantamento Rede//Labs e algumas questões que imaginava tratar durante o debate. Júlio Lira apresentou as entrevistas que tem realizado com representantes de medialabs na América Latina, parte de seu projeto contemplado pelo prêmio Ricardo Rosas de arte e tecnologia em Fortaleza. Rafael Frazão falou sobre o Ciclo Hack, evento que encerrou o hacklab que foi montado ao longo de alguns meses de 2011 no SESC Pompeia, em São Paulo. João Mendes e Anaísa Franco apresentaram a proposta “Como ser Medialab?” que reúne algumas iniciativas de peso do Brasil. Minelli, Danilo Barata e Renata Hasselman apresentaram os Networked Hacklabs, eventos em rede já desenvolvidos no Pará e Bahia, e futuramente no interior do Rio. Lucas Bambozzi compartilhou algumas experiências e apresentou o edital de residências artísticas sobre mídias móveis entre Brasil e Holanda. O colombiano Jorge Barco falou rapidamente sobre o Labsurlab realizado em maio de 2011 em Medelín e anunciou a próxima edição, a realizar-se no meio desse ano no Equador. Ainda houve tempo para algumas provocações de Jarbas Jácome e de uma apresentação curta do pessoal do Estúdio Nômade, de Porto Alegre.
Nas bancadas, os projetos tomavam forma. Kasia Molga, do Oil Compass, sentou para trabalhar com o pessoal do LabVis da UFRJ, trocando ideias sobre projetos atuais e planejando ações futuras. Alejandro reuniu algumas pessoas para apresentar o Waste2No. A Airhacktable do pessoal do Macambira já entrava em operação: um monte de origamis eram soltos em uma cama de vento feita com coolers coletados no galpão de coleta de lixo eletrônico. A dança que eles faziam era filmada, rastreada e transformada em som. Hamilton montou alguns protótipos de geradores de energia a partir de motores retirados de diferentes equipamentos eletrônicos descartados. Coisa suficiente para acender um LED ou gerar ruído, mas um bom exemplo de como a sociedade desperdiça oportunidades de reuso. As malas chat do Gambiologia já estavam em operação - maletas de 007 reconstruídas em um cenário ciberpunk.
Enquanto isso na área de encontro de redes, a MetaReciclagem se reunia para apresentação de novos integrantes e planejar ações futuras – entre elas o Encontrão Hipertropical que deve acontecer em Ubatuba em maio. Não consegui ficar muito nesse encontro, mas de todo modo foi bom rever parceiros e co-inspiradores ao longo do fim de semana. No meio da tarde, Fred Paulino arrastou Gilberto Gil para ver as malas chat na bancada. Jorge Mautner acompanhava Gil, e aproveitei para oferecer aos dois um tour pelo Labx, mostrando os projetos que estavam de pé na hora – Airhacktable, cimática, geradores de energia e outros. A norte-americana Mimi Hui juntou um grupo de pessoas para sua oficina de transformação de carteiras, protegendo-as de leitores de RFID bisbilhoteiros. Ainda fiz mais algumas conexões entre pessoas que precisavam se conhecer, do Brasil e de fora. Já quase na hora de encerrar o Labx, Sergio Krakowski apresentou seu Pandeiro Montagem. Em seguida, precisamos desmontar tudo rapidamente porque haveria um show de encerramento do Festival, atrás do MAM. Foi um fim de semana curto, mas muito compensador.
Depois
Como já comentei, minha principal intenção com o Labx era fugir do formato “grade de oficinas” que acaba acontecendo nesse tipo de eventos. Nisso, fui influenciado por projetos como os ciclos Interactivos do Medialab Prado, as muitas iterações do Laboca, os dias que passei no Networked Hacklab Pará e, obviamente, as muitas e diferenciadas experiências com a rede MetaReciclagem. Não sou a pessoa certa para julgar o sucesso do Labx. Me limito a dizer que me diverti bastante, aprendi coisas novas e conheci gente interessante. Certamente mudarei algumas coisas em oportunidades futuras. Não toparia mais assumir sozinho toda o espectro de responsabilidades que assumi dessa vez (seleção e curadoria, gerenciamento de transporte e hospedagem, contato com todos os participantes, recepção, apresentação e supervisão de tudo que aconteceu por ali). Menos ainda com prazos tão apertados. Nas próximas vezes também quero me certificar de que tudo funciona (por exemplo, a falta da webcam e de microfone quase fez desandar a videoconferência com o pessoal da Espanha). E talvez mais importante, já deixaria agendado desde o início uma conversa de encerramento para retomar as propostas iniciais, conversar sobre resultados, mudanças de rumos, processos e aprendizados, visualizar tudo que aconteceu durante aqueles dias e propor os próximos passos. Muita gente comentou sobre conversas que aconteceram, futuras parcerias em potencial e descobertas interessantes. Eu, pessoalmente, não consegui acompanhar isso tudo. Ao fim, mandei uma mensagem para todos os participantes convidando-os a se cadastrarem na lista de discussão Rede//Labs. Naturalmente, estendo aqui o convite a qualquer pessoa que enfrentou esse longo relato até o fim. Continuamos por lá essa conversa que não tem fim!
PS.: Marcos Teles publicou um vídeo registrando algumas das atividades do Labx. Está disponível aqui. A trupe Gambiologia documentou sua passagem pelo Festival. Raquel Rennó também escreveu um artigo para a Furtherfield sobre o Festival.
Este artigo foi escrito com o apoio do Centro Cultural da Espanha em São Paulo.
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