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O pessoal do Arte.mov me convidou para ser moderador, junto com Bruna Calegari, de uma conversa com Jasmina Tešanović na semana passada, no CINUSP. Jasmina é sérvia, ativista de mídia de longa data, que teve um papel importantíssimo durante a guerra do Kosovo (e a perseguição de Slobodan Milosevic contra outros povos da ex-Iugoslávia). Ela é autora de diversos livros, entre eles o Diary of a Political Idiot. Esteve envolvida com a rádio B92 e com a organização pacifista feminista Women in Black. É casada com Bruce Sterling.
Gisela Domschke, que organizou a conversa, chamou também pessoas envolvidas com diversas iniciativas no Brasil: Pajé, Rogério Borovik e outros. Também estavam presentes Almir Almas e Lucas Bambozzi, além de vários convidados internacionais do Arte.mov e do próprio Bruce Sterling.
O vídeo da conversa está incorporado no fim desse post. Eu, particularmente, não gostei da minha participação. Não conhecia muito bem o trabalho dela, e fiquei patinando pra encontrar pontos de contato, sem muito sucesso. Mas posso indicar alguns momentos que achei mais interessantes na fala dela.
Jasmina evoca o conceito grego de idiotia - o idiota como aquele a quem é negada a informação, e consequentemente a cidadania plena - mas em contexto de guerra, em que de repente as pessoas não podiam mais comunicar-se entre si, à medida que as autoridades sonegavam informação. Jasmina conta que, como a Sérvia era a agressora, as pessoas de fora do país não faziam questão de conversar com eles, nem mesmo aqueles que não apoiavam a guerra. Ela recebeu seu primeiro PC contrabandeado dos EUA, através da Women in Black. Diz que precisava correr pela cidade atrás de tomadas para usar o computador. Ela enviava por email um diário que era "um blog antes dos blogs". Não escrevia sobre a política oficial, e sim sobre suas consequências no dia a dia. As pessoas de fora tinham uma imagem errada da Sérvia. Imaginavam camponeses em algum lugar esquecido, quando Belgrado era uma cidade de 3,5 milhões de habitantes - maior do que grande parte das capitais europeias. Ela pôde sentir na pele que, quando se corta a infraestrutura a cidade começa a morrer. A falta de remédios, comida, eletricidade dava a noção da dependência que a vida moderna tem. Ela via a mãe morrer aos poucos no hospital, pela falta de antibióticos.
Conta que tinha mais medo da polícia local do que das bombas estrangeiras. De forma análoga, ela usava os contatos no exterior como uma medida de segurança - quanto maior fosse sua rede fora do país, mais segurança ela teria. Hoje em dia ela continua se relacionando com movimentos na Sérvia, apesar de não viver mais por lá. Virou um hub no twitter, fazendo a conexão entre pessoas e ações. Acredita que a internet transformou a vida cotidiana, que quando as pessoas pegam as ferramentas nas próprias mãos e publicam sem intermediários é possível fazer uma estrutura paralela, com centros de poder alternativos. Ela sempre se considerou uma "usuária fanática", mas que não se importa com o que existe dentro das ferramentas - assim como dirige um carro para chegar a algum lugar, sem precisar saber como ele funciona. Mas que ter nas mãos a própria mídia é uma possibilidade que não podemos deixar que nos tirem.
No debate que se seguiu, acho que minha única contribuição relevante foi questionar, em um contexto de ameaças à neutralidade da rede e privacidade opaca, se não existiria perigo quando novas gerações de ativistas fossem somente usuárias: utilizando-se de plataformas proprietárias como o facebook, que eventualmente pode revelar o IP e hábitos online deles. Perguntei se o desconhecimento total sobre o funcionamento interno dessas ferramentas não consistiria também em outro tipo de idiotia. Ela respondeu que hoje em dia a privacidade absoluta não existe - com o que eu certamente concordo - mas o assunto não vingou.
De qualquer maneira, valeu para conhecer o trabalho da Jasmi
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