Encontro RedeLabs – como foi

Este post foi agregado por RSS. Link original:
http://culturadigital.br/redelabs/2010/11/encontro-redelabs-como-foi/
---

Resultado do processo de articulação em rede documentado no blog RedeLabs, o primeiro encontro RedeLabs aconteceu na Cinemateca, durante o Fórum da Cultura Digital Brasileira. Reuniu mais de cinquenta pessoas vindas de diferentes regiões do Brasil e representando diversos contextos – instituições, universidades, ONGs, redes e coletivos. Elas se dispuseram a passar uma tarde inteira debatendo projetos, referências, aspirações e possibilidades. Foi uma tarde longa. Houve algum atrito, e acumulamos bastante cansaço ao cair da noite. Mas acredito que foi um primeiro momento de criação de um espaço colaborativo intercontextual, uma possibilidade de compartilhamento de informação que ainda vai dar muitos frutos.

Desde que começamos a planejar o encontro decidimos evitar o formato de painel, em que duas ou três pessoas falam e todas as outras ficam esperando. Entendemos que isso já acontece bastante em eventos da área. Por outro lado, não queríamos um debate totalmente aberto que correria o risco de perder-se em loops intermináveis, de dar atenção demais às opiniões mais articuladas ou efusivas e excluir outras vozes. Decidimos por um formato inspirado pela Pecha Kucha – receberíamos propostas de microapresentações de no máximo sete minutos, e tentaríamos costurar o debate nos interstícios. Era fundamental que fossem apresentações curtas, sem prejuízo da potencial profundidade de cada uma. Se a gente quisesse ouvir tudo que cada pessoa tem de interessante para contar, certamente ficaríamos uma semana inteira por ali. De qualquer forma, a maioria dos participantes já conhecia um pouco do trabalho uns dos outros. Além disso, sabíamos que as melhores conversas não aconteceriam ali, mas ao longo dos próximos tempos em subgrupos – o encontro deveria ser essencialmente o gatilho de colaborações futuras. Olhando para trás, acho que deveríamos ter limitado também o número de apresentações em no máximo dez, mas não consigo imaginar quais delas a gente poderia cortar.

Duas semanas antes do encontro, eu enviei um email para todo mundo que viria, falando sobre o histórico, o formato e as expectativas. Também abri inscrições para propostas de microapresentações, e avisei que haveria outras coisas interessantes no fórum – algumas apresentações de experiências, oficinas e o painel internacional que eu também estava organizando, sobre laboratórios experimentais. Fui registrando todas as confirmações de participantes do encontro em uma página de wiki, e criei uma lista de discussão para o pessoal começar a aquecer os motores. Uma semana depois reforcei o convite para microapresentações e enviei uma compilação de textos (PDF) do blog RedeLabs.

Comecei o dia quinze resolvendo aquelas coisas de última hora – hotel pra um, transporte pra outro, adaptador de tomada pro gringo, etc. Perto do meio-dia me encaminhei para a Cinemateca, almocei e comecei a recepcionar o pessoal. Maira já estava por lá, e começamos a direcionar os participantes para a tenda lá em cima. O ar condicionado não dava conta, o projetor só rolou em cima da hora, algumas pessoas atrasaram, mas estava tudo sob controle. Passadas algumas dezenas de minutos das 14h, resolvemos começar. Falei sobre o formato e logo começamos com as microapresentações.

Encontro RedeLabs

Encontro RedeLabs

Como eu estava mais no meio-de-campo e tentando dar formato à coisa toda, não fiz anotações específicas sobre cada apresentação. Para quem se interessar, a íntegra do áudio da conversa está disponível para download no estudiolivre – talvez nos próximos meses a gente trabalhe na transcrição e edição desse material (aceitamos sugestões de parceiros/patrocinadores). Mas faço abaixo algumas observações sobre o andamento dos debates.

À medida que a conversa evoluía, eu tentava organizar quais seriam as falas subsequentes. Eu tinha uma lista das microapresentações em post-its, que reordenava de acordo com o ritmo. Para evitar surpresas, eu sempre avisava o próximo a apresentar enquanto a apresentação anterior rolava. Tentei começar intercalando falas mais institucionais/acadêmicas e experiências mais “pé no chão”, mas logo vi que essa divisão não fazia muito sentido. Mais tarde, decidi agrupar algumas falas por região ou por afinidade contextual, o que dava alguma coerência narrativa mas talvez tenha inibido os comentários. Não encontrei uma fórmula ideal. A princípio, as microapresentações só tomariam a primeira parte da tarde, quando deveríamos fazer um intervalo e receber a visita dos gringos que vieram para o painel internacional sobre labs. Depois da pausa, tentaríamos identificar os assuntos e palavras-chave que emergissem durante as apresentações, criar grupos de trabalho e providenciar encaminhamentos. O fato de não termos definido um número máximo de apresentações (que talvez tenha sido uma aposta pessoal minha) acabou dificultando o intervalo e esse segundo momento de análise e reflexão. Na hora do suposto intervalo, uma polarização bastante acentuada de opiniões – com algumas questões antigas mas que certamente permanecem atuais no nosso cenário – exaltou os ânimos. Com a ressaca que acompanhou essa polarização, fizemos uma pausa curtíssima. Mas ainda faltavam oito apresentações, e resolvemos ir em frente. Fiquei feliz porque, apesar dos atritos e do cansaço, todo mundo se esforçou para continuar participando.

Foi só quando já contávamos quase uma hora de atraso – empatando a tenda para o encontro da rede de servidores livres que deveria acontecer às 18h30 – que chegamos ao fim das apresentações. Eu pedi a palavra novamente, junto com José Murilo e Maira, para falar sobre um dos resultados do processo de pesquisa e articulação que tocamos com o Minc em 2010: a elaboração de um edital de bolsas de pesquisa em cultura digital experimental. Falamos em termos gerais sobre o formato do edital, alguns mecanismos inovadores dele e a expectativa de ser lançado ainda antes de 2011. Nas próximas semanas vou escrever um pouco mais sobre isso aqui no blog.

Eu anotei algumas palavras-chave que surgiram ao longo da conversa:

Festival, Prêmio, Parceria, E-lixo, Protocolo, Intercâmbio, Rede, Conectar, Experimental, Dependência, Conhecimento Técnico, Rede de Servidores, Infra-estrutura, Plataforma, Universidade, Pessoa Física, Instituição, Liberdade, Direito Autoral, Banda Larga, Autogestão, Política Pública, Ajuste Jurídico, Edital, Empresa, Financiamento, Espaço, Tempo, Comunidade, Equipamento, Oficina.

Aqui a listagem de microapresentações propostas:

Redes de mobilização – Giselle Beiguelman Eita, Porra – Jeraman Dubversão, Lab C, AECID, Anilla Cultural – Miguel Salvatore Arte e Cultura Digital em Fortaleza – Paulo Amoreira (que também ia falar sobre o Prêmio Ricardo Rosas, mas não deu tempo) Laboratório Cultura Viva – Ivana Bentes Redes experimentais de Cultura Digital no RJ – Adriano Belisário Orquestra Organismo – Glerm Soares Musa.cc – Alfakini e Oriel Frigo Itaulab, em busca de um modelo de sistema viável – Guilherme Kujawski Autolabs, IP://, Descentro, Nordeste Livre – Ricardo Ruiz FILE – Eliane Weizmann Reverberações – Flavia Vivacqua LabDeBug – Karla Brunet Lucas Bambozzi Marginalia Labs / Projects – André Mintz Nuvem – Bruno Vianna, Cinthia Mendonça, Lula Fleischman Anônimos e Gratuitos – Thiago Novaes Projetos experimentais em rede – Ricardo Brazileiro Laboca – Jarbas Jácome

Na terça-feira, que não era feriado, muita gente não pôde voltar à Cinemateca – precisavam dar aulas, montar exposições em sampa e outras cidades, trabalhar em outras coisas. Acabou que não chegamos a retomar com nenhuma conversa estruturada, mas alguns se reencontraram na tenda Hands On do Fórum. De minha parte, conversei com algumas pessoas, estampei o logo da MetaReciclagem em camisetas, bandeiras e até – com ajuda da F4bs e do Pitanga do Garoa Hacker Clube –  acompanhei a confecção de um chaveiro metarecicleiro na Makerbot deles. Na quarta, alguns ainda assistiram à mesa internacional sobre laboratórios – sobre a qual vou escrever outro dia. Um email de agradecimento que eu enviei na lista de discussão redelabs desdobrou-se em conversas muito relevantes que percorreram as semanas seguintes.

No fim das contas, apesar dos percalços e de tudo que eu faria diferente, acredito que o encontro RedeLabs foi extremamente positivo. Deu vazão a uma conversa necessária mas que, por força das circunstâncias, nunca tinha acontecido intencionalmente. Aquelas pessoas costumam se encontrar em outros eventos, mas sempre tratando de assuntos outros. Já sem levar em conta o conteúdo tratado, o simples fato de pessoas em contextos tão diversos terem respondido e efetivamente participado já é uma resposta: existe sim interesse em criar essa conversa colaborativa. Melhor ainda com a qualidade das apresentações e conversas realizadas. Como continuar daqui para a frente? Existem um monte de possibilidades: uma publicação (ou mais) sobre estruturas e laboratórios no Brasil, outros encontros RedeLabs, projetos de intercâmbio, residências/itinerâncias, elaboração de projetos de apoio e bolsas, participação em eventos, etc. A lista de discussão está agora aberta a quem quiser participar, e sempre estamos abertos a sugestões por lá.