Choveu muito em

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Choveu muito em Ubatuba nesses últimos dias, principalmente no fim da tarde de domingo. Aqui em casa, a água da área de serviço começou a subir e quase entrou na cozinha. Me meti lá atrás armado de balde, rodo e vassouras. Lutando quase inutilmente contra a água que insistia em avançar, lembrei daquela cena clássica do Mickey lutando contra as águas no trecho “Aprendiz de Feiticeiro” do filme Fantasia.

Feito décadas antes da Disney virar a atual empresa que praticamente investe mais em causas judiciais do que em criatividade, aquele quadro com o Mickey trata de um tema recorrente na história humana: a arrogância de quem ganha um pouco de conhecimento e acha que já sabe tudo. O aprendiz brinca com poderes que apenas vislumbra, e acaba perdendo o controle da situação. Precisa da ajuda do mestre para as coisas voltarem ao normal.

Esse episódio me fez lembrar também de uma decepção no ano passado. Estava em São Paulo, em busca de algum programa para entreter uma grávida em uma noite de chuva. Passei na videolocadora e topei com um título chamado Aprendiz de Feiticeiro, produzido pela Disney e com Nicolas Cage e Alfred Molina. Não tinha ouvido falar do filme, mas o título e os dois atores me convenceram. Levei pra casa, e infelizmente assistimos até o fim. Foi provavelmente o pior filme sobre magia que eu já vi. Todos os significados possíveis da magia – sabedoria, espiritualidade, aprendizado e negociação com poderes invisíveis, manipulação da natureza, autoconhecimento – são jogados fora e substituídos por duas coisas: telecinese e atirar raios de luz com as mãos para ferir os inimigos. Como o mais rudimentar dos videogames, a única coisa que o jovem aprendiz e seu mestre fazem é brigar – quase fisicamente – com seus adversários. Um filme muito frustrante, não assistam nunca.

Eu fico pensando que se existe alguém que consegue gostar de uma produção dessas, deve ser o mesmo tipo de gente que reclama que “o tal do Gandalf nem parece mágico” nos filmes d’O Senhor dos Anéis (sim, essas pessoas existem; e não, nunca tentei conversar com elas sobre os livros do Tolkien). Aliás, mais ou menos na mesma época a gente também foi assistir no cinema ao penúltimo episódio de Harry Potter, e me agradou um certo cheiro de Tolkien no ar – nas paisagens certamente, mas também nos tempos, na centralidade da ideia de amizade, em algumas conversas. Pareceu o melhor filme da série até agora. Longe de ser um tratado sobre magia, mas quilômetros à frente do embuste com Nicolas Cage.

E aproveitando que o assunto são poderosíssimos-bruxos-adolescentes-ingleses-de-óculos, tenho que trazer Tim Hunter à conversa. Ele é o personagem central da série de quadrinhos Os Livros da Magia, criada originalmente por Neil Gaiman (até onde eu sei, alguns anos antes de surgir seu sósia Potter). Hunter descobre, no começo da adolescência, que pode vir a se tornar o mago mais poderoso de sua era. Mas se a série Harry Potter é bastante disciplinada (feitiços instrumentais, quase mecânicos ensinados em livros e salas de aula), o processo de formação de Tim Hunter é muito mais caótico, confuso e humano – com crises de identidade, incursões a mundos paralelos e paixões. Também no fim do ano passado, eu tive finalmente a oportunidade de ler toda a coleção (que só teve alguns números lançados no Brasil). A linha narrativa se perde no meio do caminho, muitas pontas ficam soltas, algumas soluções parecem apressadas demais. Mas é uma série bem interessante.


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