efeefe - trip http://efeefe.no-ip.org/taxonomy/term/71/0 pt-br Fast-Forward (FFWD) - Ciudades Creativas, parte 2 http://efeefe.no-ip.org/agregando/fast-forward-ffwd-ciudades-creativas-parte-2 <div class=fonte_feed> <em>Este post foi agregado por RSS. Link original:<br> <a href=></a></em></div> --- <blockquote> <p>Os últimos meses não deixaram muita folga para relatar da maneira habitual os eventos pelos quais passei. A própria quantidade de eventos e projetos, minhas aventuras acadêmicas, a mudança de volta para Ubatuba e uma viagem de dois meses (com mais eventos e projetos) atrasaram ainda mais meu ritmo de documentação. Cheguei em casa semana passada doido para contar sobre as últimas andanças, mas a lista de coisas a documentar acabou me bloqueando.</p> <p>Vou então, como <a href="http://efeefe.no-ip.org/blog/sem-virgulas" rel="nofollow" rel="nofollow">comentei em outro post</a>, deixar de lado o capricho virginiano e contar por cima alguns episódios. Começo com o fim do relato sobre as <a href="http://2012.ciudadescreativas.org/" rel="nofollow" rel="nofollow">Jornadas Ciudades Creativas</a>, organizadas pela <a href="http://www.kreanta.org/" rel="nofollow" rel="nofollow">Fundação Kreanta</a> em Medellín (Colômbia) em outubro do ano passado. Eu já publiquei a <a href="/blog/ciudades-creativas-%E2%80%93-parte-1" rel="nofollow" rel="nofollow">primeira parte</a> do relato sobre minha participação. Este não chega a ser um post curto, mas normalmente eu faria mais dois ou três.</p> </blockquote> <p><img align="right" alt="" height="200" src="https://lh5.googleusercontent.com/-FkuIgm3LoQk/URAXwltMNtI/AAAAAAAANOo/spCsPOLsC94/w285-h507-no/2012-10-03_17-01-31_538.jpg" />Na manhã do primeiro dia, Alex (Platohedro) me ofereceu uma carona até o <a href="http://elmamm.org" rel="nofollow" rel="nofollow">MAMM</a>, Museu de Arte Moderna de MDE. Nos acompanhava Jorge Bejarano, diretor do departamento de educação e cultura do MAMM e responsável pelo meu convite para as jornadas. Estávamos ali para uma conversa entre pessoas de diferentes projetos da cidade comigo e com <a href="https://twitter.com/culturpunk" rel="nofollow" rel="nofollow">José Ramon Insa Alba</a> (que parece um irmão do <a href="http://twitter.com/hdhd" rel="nofollow" rel="nofollow">hdhd</a>), inserida no projeto <a href="http://cooperaciones.mdelibre.co/" rel="nofollow" rel="nofollow">co:operaciones</a> e versando sobre tecnologia, liberdade, apropriação, poder, corporações e alternativas. Bastante gente na mesa, conversa fluida e aberta. Camilo Cantor publicou o áudio <a href="http://archive.org/details/DialogosCreativos-delCibermundoAlBarrio" rel="nofollow" rel="nofollow">aqui</a>, e surgiram anotações para um <a href="http://piratepad.net/ep/pad/view/ro.g5U$WFESBr8Qbmcu/latest" rel="nofollow" rel="nofollow">texto coletivo</a>. Adorei o clima no MAMM, que (apesar do nome) é bem arejado e repleto de gente interessante e interessada.</p> <p>Saímos de lá para o almoço inaugural das jornadas e uma primeira apresentação dos participantes. Devia haver umas trinta pessoas. Era em um espaço ajardinado, ao ar livre. Algo paradoxal: lugar bonito, com um almoço servido por garçons, mas a comida era fraca e bebida somente refrigerante de cola ou água. Não havia banheiros, nem para lavar as mãos. E senti imensa falta de um café depois do almoço.</p> <p>Na sequência, Alex me conheceu para conhecer o espaço do <a href="https://twitter.com/platohedro" rel="nofollow" rel="nofollow">Platohedro</a>. Nos arredores a cidade já parecia mais orgânica, menos ensaiada. O espaço é fantástico, um sobrado grafitado e cheio de gente. Me senti em casa. Trabalhei um pouco, conversei bastante com o Capo sobre servidores, redes e o <a href="https://n-1.cc/" rel="nofollow" rel="nofollow">N-1</a>.</p> <p>À noite, de volta ao MAMM, rolou a abertura oficial das Jornadas. Começou com uma apresentação de um grupo de Hip Hop, depois falas de autoridades e algumas palestras.</p> <p><img alt="" src="https://lh3.googleusercontent.com/-r00GhivBWvY/URAXwnv1c7I/AAAAAAAANOo/0KdY6-T3JJs/w903-h507-no/2012-10-04_10-54-19_656.jpg" width="480" /></p> <p><img alt="" src="https://lh3.googleusercontent.com/-2kczDu69pVs/URAXwpDdf_I/AAAAAAAANOo/xk0IMAKGeUA/w903-h507-no/2012-10-04_10-08-32_987.jpg" width="480" /></p> <p>O segundo dia foi no <a href="http://www.comfenalcoantioquia.com/Cultura/CentrodeDesarrolloCulturalMoravia.aspx" rel="nofollow" rel="nofollow">Centro de Desenvolvimento Cultural de Moravia</a> - um espaço que lembra tantos centros comunitários, CEUS e afins no Brasil exceto por um aspecto: um cuidado especial com a arquitetura. O lugar é muito bonito, e isso já muda totalmente as expectativas. O auditório é de primeira, também bonito e bem cuidado. Jorge Melguizo, ex-secretário de cultura da cidade, mostrava com orgulho os detalhes do centro localizado naquele que era um dos bairros mais violentos da cidade. O dia foi recheado de debates e apresentações tratando de diversos temas: planejamento urbano, espaço público, cicloativismo, intervenção urbana, mídia alternativa, museus. Muita coisa interessante, bastante diversidade e enraizamento. Havia também um ou outro europeus perdidos ali em uma visão instrumental e rasa de cultura, mas ninguém deu muita bola.</p> <p><img alt="" src="https://lh6.googleusercontent.com/-WZWhIG32q3w/URAXwiNS4aI/AAAAAAAANOo/F96A-_ZfSho/w903-h507-no/2012-10-04_10-54-22_605.jpg" width="480" /></p> <p><img alt="" src="https://lh6.googleusercontent.com/-EE7lg48EBa8/URAXwh-WqOI/AAAAAAAANOo/1h-lmfphdUg/w903-h507-no/2012-10-04_12-49-11_296.jpg" width="480" /></p> <p>O almoço foi em um museu, algumas quadras morro acima em uma rua decorada por intervenções e arte de rua. Lugar fantástico, mas sem estrutura para atender a tanta gente. Pedi uma opção que no fim das contas não existia, tiraram meu prato antes que terminasse e encerrei com um cafezinho aguado. Voltamos para o Centro Cultural para mais uma tarde de debates interessantes. O dia se encerrou com a entrega do prêmio Espaço Público da Europa e com uma apresentação de dança de rua, capoeira, hip hop, dança afro e batucada.</p> <p><img alt="" src="https://lh5.googleusercontent.com/-OwQFOh7HTMc/URAXwoejB0I/AAAAAAAANOo/-itxJCrDlaY/w903-h507-no/2012-10-05_14-29-02_390.jpg" width="480" /></p> <p>O terceiro dia foi em um espaço chamado <a href="http://www.rutanmedellin.org/Paginas/inicio.aspx" rel="nofollow" rel="nofollow">Ruta-N</a>, um elefante hi-tech que segundo contam ninguém ainda encontrou função. Assisti pelo stream a primeira palestra, de <a href="http://www.saskiasassen.com/" rel="nofollow" rel="nofollow">Saskia Sassen</a>. Falou sobre <a href="http://2012.ciudadescreativas.org/2012/12/cronica-de-los-debates-ciudades-y-ciudadanias-globales-y-urbanismo-social/" rel="nofollow" rel="nofollow">o discurso da cidade</a> e usou uma interpretação curiosa de "hacker" para sugerir que a cidade interferia com as tecnologias (não pude concordar com essa leitura, mas ainda assim acho interessante). Explorou também a explosão de adjetivos correntemente associados às cidades: cidade criativa, esperta, conectada, inteligente. Disse que não usa mais adjetivos, porque eles são rapidamente assimilados por consultorias cujo único objetivo é o dinheiro. Falou que tem usado o termo "global street" (rua global) para escapar.</p> <p>Na sequência, mais apresentações e palestras. Felipe Leal, secretário de desenvolvimento urbano e habitação da cidade do México, foi um dos mais interessantes (embora eu tenha dúvidas sobre quanto de sua apresentação era ficção). Almoçamos no Museo de Antioquia, na praça decorada com diversas esculturas de Botero. Almoço decente, e finalmente com um café à altura.</p> <p><img alt="" src="https://lh3.googleusercontent.com/-GuA2JgljaEg/URAXwlGr64I/AAAAAAAANOo/v0Hgx-kGe10/w903-h507-no/2012-10-05_13-12-07_508.jpg" width="480" /></p> <p><img alt="" src="https://lh4.googleusercontent.com/-H2zUqnBlh1c/URAXwgWKVcI/AAAAAAAANOo/-CPhhvjHbZc/w903-h507-no/2012-10-05_14-13-49_445.jpg" width="480" /></p> <p>Voltamos ao Ruta-N em um daqueles ônibus coloridos de MDE. Germán Rey falou sobre o <a href="http://javeriana.edu.co/centroatico" rel="nofollow" rel="nofollow">Centro Ático</a>, laboratório colombiano bem baseado no modelo do MIT Media Lab, só que colonizado. Tudo com papeis definidos: disciplinas bem recortadas, estudantes, "impacto" na "cultura", etc. Disse que "chamaram os melhores professores" para trabalhar em um projeto com índios (depois de ter dito que queriam aprender com eles). Falou ainda que "não é possível levar o laboratório de um lugar a outro". Depois foi a vez de José Ramon, com uma visão delicada e didática sobre cultura digital e os conflitos que ela inspira com poderes tradicionais. Sugeriu que devemos nos libertar da tirania da excelência, dissolvendo hierarquias. É mesmo parente do Hernani.</p> <p><br /> <img alt="" src="http://2012.ciudadescreativas.org/wp-content/uploads/2012/12/DSC_3623.jpg" width="480" /></p> <p>Eu participei da mesa seguinte, sobre "<a href="http://2012.ciudadescreativas.org/2012/12/cronica-de-los-debates-sobre-apropiacion-de-tecnologias-para-sociedades-inteligentes/" rel="nofollow" rel="nofollow">apropriação de tecnologias para sociedades inteligentes</a>". Comigo estavam Felipe Londoño, contando sobre seus projetos em Manizales e Julian Giraldo contando sobre o <a href="http://unloquer.org" rel="nofollow" rel="nofollow">un/loquer</a>. Fiz <a href="http://www.slideshare.net/felipefonseca/labs-experimentais-jornadas-kreanta" rel="nofollow" rel="nofollow">minha fala</a> em um castelhano enrolado. Os brasileiros que acompanharam o stream elogiaram meu domínio do idioma. Não me lembro de ouvir o mesmo elogio de nenhum colombiano, mas acho que me entenderam mesmo assim ;) Ao fim do debate, me ofereceram uma nuvem de tags da minha fala, achei interessante:</p> <p><img alt="" src="http://2012.ciudadescreativas.org/wp-content/uploads/2012/12/FELIPE-FONSECA.png" width="480" /></p> <p>Naquela noite estava planejada uma bicicletada com todos os participantes do evento. A garoa na saída do Ruta-N sugeria que esperássemos antes de ir até o ponto de encontro. Acompanhei os aliados colombianos até uma rua do outro lado da avenida que concentrava um monte de botecos. Ficamos por ali bebendo algumas e acabamos perdendo a hora. Tomamos um taxi até uma praça perto do hotel, comemos alguma coisa e nos despedimos.</p> <p>Na manhã de sábado saí do hotel carregando minha bagagem - começaria meu retorno ao Brasil no início da tarde, antes mesmo de acabar o evento, para chegar ao São Paulo por volta da meia-noite e ter tempo de dirigir até Ubatuba no domingo para votar. Esse era o plano, pelo menos.</p> <p><img alt="" src="http://2012.ciudadescreativas.org/wp-content/uploads/2012/12/CC_73.jpg" width="480" /></p> <p>Encontrei o pessoal em um dos prédios anexos do Museu de Antioquia. Participei de um debate mais aberto e informal (mais o meu estilo, definitivamente) com o tema "<a href="http://2012.ciudadescreativas.org/2013/01/cronica-de-los-dialogos-con-los-ponentes/" rel="nofollow" rel="nofollow">do cibermundo ao bairro</a>". Ali a conversa fluiu muito bem. Saí antes que acabasse para tomar o transporte até o aeroporto. E começou minha novela.</p> <p>Eu tomaria um voo até Bogotá, e de lá rumaria até Guarulhos. Mas o primeiro voo foi cancelado, e nenhum funcionário conseguiu realocar os passageiros a tempo. Fiquei algumas horas no aeroporto de Medellín comendo os amendoins da sala VIP, e cheguei a Bogotá meia hora depois da conexão que deveria tomar. Teria que esperar cinco horas e meia no aeroporto. Aproveitei para fazer a barba, comi alguma coisa, bebi uma cerveja. Uma hora antes do voo, o aviso: o avião não poderia partir, precisaríamos esperar outro. E lá se foram mais duas horas e meia de atraso.</p> <p><img alt="" src="https://lh3.googleusercontent.com/-K8AN81623u0/URAXwn1ZuuI/AAAAAAAANOo/PsqcpaoxAY8/w679-h507-no/2012-10-06_15-30-39_203.jpg" width="480" /></p> <p>Acabei chegando em casa em São Paulo às oito e pouco da manhã de domingo. Mas... não encontrava a chave do carro, por mais que procurasse. Depois de algum tempo, chamei o seguro para ver se conseguiam abrir o porta-malas, onde acabei pensando que poderia tê-la esquecido. Precisaram de dois carros e um monte de equipamentos para conseguir abrir (o que não deixa de ser um bom atestado da segurança do carro). Destravaram a porta, desativaram o alarme, usaram a chave-mestra... e nada da chave. Chamaram outro carro, um guincho, que me levou até Campinas para buscar a chave reserva. Até voltar para São Paulo, já havia perdido o horário possível para votar em Ubatuba. Só cheguei à noite, infelizmente.</p> <p>De todo modo, as Jornadas Ciudades Creativas ajudaram a dissolver minha desconfiança total com eventos que se situam nesse diálogo entre cidade, criatividade e economia. A diversidade de atores e projetos representados lá, e a própria direção das conversas que eu mesmo tive com tanta gente, me fizeram acreditar que é possível explorar esses temas de maneira bem menos superficial do que geralmente se vê por aí. Estou curioso sobre a próxima edição (em Buenos Aires, próximo agosto) e sobre possibilidades de articular eventos associados às Jornadas em São Paulo (e Ubatuba, por que não?).</p> <p>P.S.: Mais fotos <a href="https://plus.google.com/photos/104719536953575628394/albums/5841194837235084065" rel="nofollow" rel="nofollow">aqui</a>.</p><a href="http://ubalab.org/blog/fast-forward-ffwd-ciudades-creativas-parte-2" title="Fast-Forward (FFWD) - Ciudades Creativas, parte 2" lang="en_GB" rev="large" class="FlattrButton" rel="nofollow">Os &uacute;ltimos meses n&atilde;o deixaram muita folga para relatar da maneira habitual os eventos pelos quais passei. A pr&oacute;pria quantidade de eventos e projetos, minhas aventuras acad&ecirc;micas, a mudan&ccedil;a de volta para Ubatuba e uma viagem de dois meses (com mais eventos e projetos) atrasaram ainda mais meu ritmo de documenta&ccedil;&atilde;o. Cheguei em casa semana passada doido para contar sobre as &uacute;ltimas andan&ccedil;as, mas a lista de coisas a documentar acabou me bloqueando. Vou ent&atilde;o, como comentei em outro post, deixar de lado o capricho virginiano e contar por cima alguns epis&oacute;dios. Come&ccedil;o com o fim do relato sobre as Jornadas Ciudades Creativas, organizadas pela Funda&ccedil;&atilde;o Kreanta em Medell&iacute;n (Col&ocirc;mbia) em outubro do ano passado. Eu j&aacute; publiquei a primeira parte do relato sobre minha participa&ccedil;&atilde;o. Este n&atilde;o chega a ser um post curto, mas normalmente eu faria mais dois ou tr&ecirc;s.Na manh&atilde; do primeiro dia, Alex (Platohedro) me ofereceu uma carona at&eacute; o MAMM, Museu de Arte Moderna de MDE. Nos acompanhava Jorge Bejarano, diretor do departamento de educa&ccedil;&atilde;o e cultura do MAMM e respons&aacute;vel pelo meu convite para as jornadas. Est&aacute;vamos ali para uma conversa entre pessoas de diferentes projetos da cidade comigo e com Jos&eacute; Ramon Insa Alba (que parece um irm&atilde;o do hdhd), inserida no projeto co:operaciones e versando sobre tecnologia, liberdade, apropria&ccedil;&atilde;o, poder, corpora&ccedil;&otilde;es e alternativas. Bastante gente na mesa, conversa fluida e aberta. Camilo Cantor publicou o &aacute;udio aqui, e surgiram anota&ccedil;&otilde;es para um texto coletivo. Adorei o clima no MAMM, que (apesar do nome) &eacute; bem arejado e repleto de gente interessante e interessada.Sa&iacute;mos de l&aacute; para o almo&ccedil;o inaugural das jornadas e uma primeira apresenta&ccedil;&atilde;o dos participantes. Devia haver umas trinta pessoas. Era em um espa&ccedil;o ajardinado, ao ar livre. Algo paradoxal: lugar bonito, com um almo&ccedil;o servido por gar&ccedil;ons, mas a comida era fraca e bebida somente refrigerante de cola ou &aacute;gua. N&atilde;o havia banheiros, nem para lavar as m&atilde;os. E senti imensa falta de um caf&eacute; depois do almo&ccedil;o.Na sequ&ecirc;ncia, Alex me conheceu para conhecer o espa&ccedil;o do Platohedro. Nos arredores a cidade j&aacute; parecia mais org&acirc;nica, menos ensaiada. O espa&ccedil;o &eacute; fant&aacute;stico, um sobrado grafitado e cheio de gente. Me senti em casa. Trabalhei um pouco, conversei bastante com o Capo sobre servidores, redes e o N-1.&Agrave; noite, de volta ao MAMM, rolou a abertura oficial das Jornadas. Come&ccedil;ou com uma apresenta&ccedil;&atilde;o de um grupo de Hip Hop, depois falas de autoridades e algumas palestras.O segundo dia foi no Centro de Desenvolvimento Cultural de Moravia - um espa&ccedil;o que lembra tantos centros comunit&aacute;rios, CEUS e afins no Brasil exceto por um aspecto: um cuidado especial com a arquitetura. O lugar &eacute; muito bonito, e isso j&aacute; muda totalmente as expectativas. O audit&oacute;rio &eacute; de primeira, tamb&eacute;m bonito e bem cuidado. Jorge Melguizo, ex-secret&aacute;rio de cultura da cidade, mostrava com orgulho os detalhes do centro localizado naquele que era um dos bairros mais violentos da cidade. O dia foi recheado de debates e apresenta&ccedil;&otilde;es tratando de diversos temas: planejamento urbano, espa&ccedil;o p&uacute;blico, cicloativismo, interven&ccedil;&atilde;o urbana, m&iacute;dia alternativa, museus. Muita coisa interessante, bastante diversidade e enraizamento. Havia tamb&eacute;m um ou outro europeus perdidos ali em uma vis&atilde;o instrumental e rasa de cultura, mas ningu&eacute;m deu muita bola.O almo&ccedil;o foi em um museu, algumas quadras morro acima em uma rua decorada por interven&ccedil;&otilde;es e arte de rua. Lugar fant&aacute;stico, mas sem estrutura para atender a tanta gente. Pedi uma op&ccedil;&atilde;o que no fim das contas n&atilde;o existia, tiraram meu prato antes que terminasse e encerrei com um cafezinho aguado. Voltamos para o Centro Cultural para mais uma tarde de debates interessantes. O dia se encerrou com a entrega do pr&ecirc;mio Espa&ccedil;o P&uacute;blico da Europa e com uma apresenta&ccedil;&atilde;o de dan&ccedil;a de rua, capoeira, hip hop, dan&ccedil;a afro e batucada.O terceiro dia foi em um espa&ccedil;o chamado Ruta-N, um elefante hi-tech que segundo contam ningu&eacute;m ainda encontrou fun&ccedil;&atilde;o. Assisti pelo stream a primeira palestra, de Saskia Sassen. Falou sobre o discurso da cidade e usou uma interpreta&ccedil;&atilde;o curiosa de &quot;hacker&quot; para sugerir que a cidade interferia com as tecnologias (n&atilde;o pude concordar com essa leitura, mas ainda assim acho interessante). Explorou tamb&eacute;m a explos&atilde;o de adjetivos correntemente associados &agrave;s cidades: cidade criativa, esperta, conectada, inteligente. Disse que n&atilde;o usa mais adjetivos, porque eles s&atilde;o rapidamente assimilados por consultorias cujo &uacute;nico objetivo &eacute; o dinheiro. Falou que tem usado o termo &quot;global street&quot; (rua global) para escapar.Na sequ&ecirc;ncia, mais apresenta&ccedil;&otilde;es e palestras. Felipe Leal, secret&aacute;rio de desenvolvimento urbano e habita&ccedil;&atilde;o da cidade do M&eacute;xico, foi um dos mais interessantes (embora eu tenha d&uacute;vidas sobre quanto de sua apresenta&ccedil;&atilde;o era fic&ccedil;&atilde;o). Almo&ccedil;amos no Museo de Antioquia, na pra&ccedil;a decorada com diversas esculturas de Botero. Almo&ccedil;o decente, e finalmente com um caf&eacute; &agrave; altura.Voltamos ao Ruta-N em um daqueles &ocirc;nibus coloridos de MDE. Germ&aacute;n Rey falou sobre o Centro &Aacute;tico, laborat&oacute;rio colombiano bem baseado no modelo do MIT Media Lab, s&oacute; que colonizado. Tudo com papeis definidos: disciplinas bem recortadas, estudantes, &quot;impacto&quot; na &quot;cultura&quot;, etc. Disse que &quot;chamaram os melhores professores&quot; para trabalhar em um projeto com &iacute;ndios (depois de ter dito que queriam aprender com eles). Falou ainda que &quot;n&atilde;o &eacute; poss&iacute;vel levar o laborat&oacute;rio de um lugar a outro&quot;. Depois foi a vez de Jos&eacute; Ramon, com uma vis&atilde;o delicada e did&aacute;tica sobre cultura digital e os conflitos que ela inspira com poderes tradicionais. Sugeriu que devemos nos libertar da tirania da excel&ecirc;ncia, dissolvendo hierarquias. &Eacute; mesmo parente do Hernani. Eu participei da mesa seguinte, sobre &quot;apropria&ccedil;&atilde;o de tecnologias para sociedades inteligentes&quot;. Comigo estavam Felipe Londo&ntilde;o, contando sobre seus projetos em Manizales e Julian Giraldo contando sobre o un/loquer. Fiz minha fala em um castelhano enrolado. Os brasileiros que acompanharam o stream elogiaram meu dom&iacute;nio do idioma. N&atilde;o me lembro de ouvir o mesmo elogio de nenhum colombiano, mas acho que me entenderam mesmo assim ;) Ao fim do debate, me ofereceram uma nuvem de tags da minha fala, achei interessante:Naquela noite estava planejada uma bicicletada com todos os participantes do evento. A garoa na sa&iacute;da do Ruta-N sugeria que esper&aacute;ssemos antes de ir at&eacute; o ponto de encontro. Acompanhei os aliados colombianos at&eacute; uma rua do outro lado da avenida que concentrava um monte de botecos. Ficamos por ali bebendo algumas e acabamos perdendo a hora. Tomamos um taxi at&eacute; uma pra&ccedil;a perto do hotel, comemos alguma coisa e nos despedimos.Na manh&atilde; de s&aacute;bado sa&iacute; do hotel carregando minha bagagem - come&ccedil;aria meu retorno ao Brasil no in&iacute;cio da tarde, antes mesmo de acabar o evento, para chegar ao S&atilde;o Paulo por volta da meia-noite e ter tempo de dirigir at&eacute; Ubatuba no domingo para votar. Esse era o plano, pelo menos.Encontrei o pessoal em um dos pr&eacute;dios anexos do Museu de Antioquia. Participei de um debate mais aberto e informal (mais o meu estilo, definitivamente) com o tema &quot;do cibermundo ao bairro&quot;. Ali a conversa fluiu muito bem. Sa&iacute; antes que acabasse para tomar o transporte at&eacute; o aeroporto. E come&ccedil;ou minha novela.Eu tomaria um voo at&eacute; Bogot&aacute;, e de l&aacute; rumaria at&eacute; Guarulhos. Mas o primeiro voo foi cancelado, e nenhum funcion&aacute;rio conseguiu realocar os passageiros a tempo. Fiquei algumas horas no aeroporto de Medell&iacute;n comendo os amendoins da sala VIP, e cheguei a Bogot&aacute; meia hora depois da conex&atilde;o que deveria tomar. Teria que esperar cinco horas e meia no aeroporto. Aproveitei para fazer a barba, comi alguma coisa, bebi uma cerveja. Uma hora antes do voo, o aviso: o avi&atilde;o n&atilde;o poderia partir, precisar&iacute;amos esperar outro. E l&aacute; se foram mais duas horas e meia de atraso.Acabei chegando em casa em S&atilde;o Paulo &agrave;s oito e pouco da manh&atilde; de domingo. Mas... n&atilde;o encontrava a chave do carro, por mais que procurasse. Depois de algum tempo, chamei o seguro para ver se conseguiam abrir o porta-malas, onde acabei pensando que poderia t&ecirc;-la esquecido. Precisaram de dois carros e um monte de equipamentos para conseguir abrir (o que n&atilde;o deixa de ser um bom atestado da seguran&ccedil;a do carro). Destravaram a porta, desativaram o alarme, usaram a chave-mestra... e nada da chave. Chamaram outro carro, um guincho, que me levou at&eacute; Campinas para buscar a chave reserva. At&eacute; voltar para S&atilde;o Paulo, j&aacute; havia perdido o hor&aacute;rio poss&iacute;vel para votar em Ubatuba. S&oacute; cheguei &agrave; noite, infelizmente.De todo modo, as Jornadas Ciudades Creativas ajudaram a dissolver minha desconfian&ccedil;a total com eventos que se situam nesse di&aacute;logo entre cidade, criatividade e economia. A diversidade de atores e projetos representados l&aacute;, e a pr&oacute;pria dire&ccedil;&atilde;o das conversas que eu mesmo tive com tanta gente, me fizeram acreditar que &eacute; poss&iacute;vel explorar esses temas de maneira bem menos superficial do que geralmente se v&ecirc; por a&iacute;. Estou curioso sobre a pr&oacute;xima edi&ccedil;&atilde;o (em Buenos Aires, pr&oacute;ximo agosto) e sobre possibilidades de articular eventos associados &agrave;s Jornadas em S&atilde;o Paulo (e Ubatuba, por que n&atilde;o?).P.S.: Mais fotos aqui.</a> aliadxs avião blogs cidades cidades criativas colômbia feeds kreanta lifelog mamm medellín projetos rutan trip ubalab ubatuba Mon, 03 Jun 2013 03:52:59 +0000 felipefonseca 12951 at http://efeefe.no-ip.org Do outro lado http://efeefe.no-ip.org/blog/do-outro-lado <p>Boiando por a&iacute;... ficamos dezoito dias suspensos em uma bolha algo neur&oacute;tica mas ainda assim surpreendentemente interessante. Chegando a Hamburgo, cidade grande e cheia de gente (pelo menos aqui perto da esta&ccedil;&atilde;o central do trem). Sa&iacute;mos para dar uma volta. A pequena dormiu quando descemos e s&oacute; acordou no elevador, na volta. Mas tudo bem. Tropecei em pessoas na rua. Muita loja metida a besta, mas tamb&eacute;m aquele costumeiro grupo de punks sentados em frente &agrave; esta&ccedil;&atilde;o, gritando improp&eacute;rios para todxs menos seus cachorros. E Hamburgo t&aacute; que &eacute; um Brasil s&oacute;...</p> <p>Essa semana, algumas voltas pela Alemanha e depois conhecer Helsinque para preparar <a href="http://www.ubalab.org/blog/pixelache-helsinque-finlandia" rel="nofollow">minha parte do Pixelache</a>. Vamo que vamo!</p> lifelog trip Mon, 15 Apr 2013 21:41:08 +0000 felipefonseca 12944 at http://efeefe.no-ip.org Diário do ventre da besta - parte 3 http://efeefe.no-ip.org/agregando/diario-do-ventre-da-besta-parte-3 <div class=fonte_feed> <em>Este post foi agregado por RSS. Link original:<br> <a href=></a></em></div> --- <blockquote> Última parte do meu relato sobre a participação no <a href="http://isea2012.org/" rel="nofollow" rel="nofollow">ISEA</a>, em Albuquerque, setembro do ano passado. Veja também a <a href="/blog/diario-do-ventre-da-besta-parte-1" rel="nofollow" rel="nofollow">parte 1</a> e a <a href="/blog/diario-do-ventre-da-besta-parte-2" rel="nofollow" rel="nofollow">parte 2</a>. <p> </p> </blockquote> <p>No café da manhã de sábado, todos os americanos tinham os olhos grudados na imensa TV do salão. Cobertura da campanha presidencial - Romney tinha falado alguma besteira. Encontrei parte da turma brasileira, e logo Teresa nos deu uma carona até o Centro Nacional de Cultura Hispânica (<a href="http://www.nationalhispaniccenter.org/" rel="nofollow" rel="nofollow">NHCC</a>), que sediaria o Fórum Latinoamericano do ISEA.</p> <p>É forte essa coisa da identidade "hispânica" naquelas paragens - me pergunto se os estadunidenses chegam a atinar a relação etimológica com "Espanha" ou se já significa uma coisa totalmente diferente. Penso também no pesado legado da política do multiculturalismo, que acaba induzindo as pessoas a se identificarem com alguma "minoria". Engraçado ver em Albuquerque aqueles carrões antigos, conversíveis, guiados por "hispânicos" tatuados, totalmente enquadrados no estereótipo cultural.</p> <p><img alt="" src="https://lh4.googleusercontent.com/-sk2woq_W0xM/UPcfDMHcKRI/AAAAAAAAMvs/aCSsGKtGXNs/s512/2012-09-22_12-57-06_362.jpg" /></p> <p>O Centro de Cultura Hispânica é grande, bonito, bem estruturado. Salas, auditórios, um pátio amplo com palco debaixo de uma larga árvore que alivia um pouco o calor. Tem uma grande placa do Instituto Cervantes, que infelizmente me fez lembrar dos tropeços do CCE de São Paulo, desaparecido graças às inversões políticas de Madrid. Logo na recepção, Fred Paulino conta que Ganso havia enfartado e estava no hospital. Justo nos EUA, que têm <a href="http://www.imdb.com/title/tt0386032/" rel="nofollow" rel="nofollow">péssima fama na saúde</a>.</p> <p>Chegamos à sala que sediaria o painel sobre mapeamentos, balões e pipas. Demoramos um pouco para começar, já que haviam armado a tela do projetor justamente na parede onde o sol batia, e não havia jeito de fechar a janela. <a href="http://www.lucasbambozzi.net/" rel="nofollow" rel="nofollow">Lucas Bambozzi</a>, <a href="https://twitter.com/drmin" rel="nofollow" rel="nofollow">Rodrigo Minelli</a>, eu e <a href="http://brunovianna.net/" rel="nofollow" rel="nofollow">Bruno Vianna</a> contamos sobre diferentes projetos no Brasil sobre mapeamento colaborativo e afins. Eu falei sobre "<a href="http://www.slideshare.net/felipefonseca/experimental-mapping" rel="nofollow" rel="nofollow">mapeamento experimental</a>".</p> <p><img align="left" alt="" src="https://lh4.googleusercontent.com/-uXsOlLcNNpw/UPcfEPOwkTI/AAAAAAAAMv0/dJAmwaSESWg/s512/2012-09-22_14-57-37_608.jpg" width="150" />Depois, circulei um pouco entre os paineis. Assisti a um pedaço da excelente apresentação de <a href="http://cocofusco.com/" rel="nofollow" rel="nofollow">Coco Fusco</a>. Eu seria o moderador do painel sobre labs abertos, o primeiro da tarde. Havia mandado alguns dias antes um email para todos os participantes do painel, sugerindo que almoçássemos para alinhar o formato do painel. Dois deles (talvez sem coincidência, os dois mais bem posicionados em instituições estáveis) nem responderam. Almocei com os outros - <a href="http://martinez-zea.info/" rel="nofollow" rel="nofollow">Gabriel Zea / Camilo Martinez </a> e <a href="http://lessnullvoid.cc/" rel="nofollow" rel="nofollow">Leslie Garcia</a> - nas barraquinhas de comida no quintal do NHCC. Encontramos os outros no algo intimidante auditório principal, cinco minutos antes de começar o painel.</p> <p>Não gostei do resultado do painel sobre labs. Minha falta de intimidade com os outros dois participantes - um dos quais fez sua fala em espanhol - dificultou um pouco. Fui também flexível demais com o tempo de fala de cada um, deixei todo mundo estourar. E começamos uns 15 minutos atrasados enquanto esperávamos a sala encher depois do almoço - dada a falta de comentários sobre o atraso da nossa primeira sessão pela manhã, não achei que seria um problema -, mas fomos cobrados pontualmente a liberar a sala. Resultado: nenhum debate, quatro falas isoladas, e tensão na saída.</p> <p><img align="right" alt="" src="https://lh5.googleusercontent.com/-ozm5j4uqmH4/UPcfHeu8GJI/AAAAAAAAMv8/OG9v36H76PI/s512/2012-09-22_16-44-10_312.jpg" width="150" />Passei mais algum tempo assistindo a algumas apresentações. Vi o artist talk do Bruno Vianna. Lucas e outros faziam a oficina de balões. Vi pedaços da apresentação do Bill Toledo - um dos remanescentes <a href="https://en.wikipedia.org/wiki/Code_talker" rel="nofollow" rel="nofollow">native code talkers</a>, índios que serviram ao exército estadunidense durante a segunda guerra usando seus próprios códigos para transmitir mensagens cifradas.</p> <p>Cheguei a combinar com alguns conhecidos de nos encontrarmos mais tarde na microcervejaria <a href="http://www.marblebrewery.com/" rel="nofollow" rel="nofollow">Marble</a>, e tomei o ônibus de volta para o hotel. Estava um pouco chateado pelo resultado do painel sobre labs. Talvez também estivesse um pouco abalado por uma soma de coisas. Ainda navegava pelo mal-estar do jet lag. Havia sido temerário nas saídas a pé por uma cidade seca, alta e de sol forte. Além dos cansaços, também me mexeram outros fatores .Me sentia um peixe fora d'água naquela cidade, naquele país e naquele evento. Era a primeira vez que ficava tão longe da minha filha - se precisasse voltar para casa, levaria no mínimo dois dias para chegar. Mais do que tudo, entretanto, acho que me desequilibrou a notícia do enfarte do Ganso, que desenterrou alguns fantasmas do passado que haviam ficado quietos por um par de anos. No começo de dezembro de 2009, eu presenciei o falecimento de um vizinho, já idoso, cujo coração falhou. Alguns dias depois, tive um episódio de ansiedade, e em mais algumas semanas perdi um grande amigo sem ter a oportunidade de dizer adeus. Isso tudo acabou se misturando naquele momento, e minha noite de sábado foi bastante difícil.</p> <p>Tentei descansar um pouco e não consegui. Acabei saindo a pé até a Marble, bastante tenso, algo ansioso. Tentando sem sucesso encontrar o meu <a href="http://scottfeldstein.net/blog/?p=339" rel="nofollow" rel="nofollow">pato na cara a duzentos e cinquenta nós</a>. A cidade também é deserta à noite. Cheguei na Marble muito depois da hora que tinha sugerido ao pessoal. Não encontrei ninguém, fiquei um tempinho por ali ouvindo a banda country e voltei ao hotel. Demorei um tempão para finalmente dormir.</p> <p>No domingo, estava um pouco melhor. Passei pela biblioteca pública de Albuquerque, onde rolava o painel sobre inclusão digital. Sou suspeito para falar, mas nossos debates sobre isso aqui no Brasil estão muito à frente do que eles conseguem conceber. Só falam em acesso doméstico, empreendedorismo formal, metáfora de rede para falar sobre a sociedade. Não conseguem imaginar novas realidades culturais ligadas às tecnologias de informação. No máximo pensam em tecnologias como compensação, para oferecer oportunidades do cara "virar um cientista" ou "encontrar um emprego". Era mais uma manifestação do multiculturalismo: um dos participantes estava preocupado com o menor acesso de negros à pós-graduação (um debate importantíssimo na minha opinião, mas não tão relevante em um debate sobre inclusão digital). Perdi a paciência bem rápido, se pegasse o microfone ia passar tempo demais desconstruindo. Pulei entre diferentes paineis, não achei nada que me prendesse. Almocei um gigantesco hambúrguer com chá gelado (que vem sem açúcar) em uma lanchonete chamada Q Burger, que tinha quatro grandes TVs transmitindo simultaneamente (e com o som ligado) dois jogos diferentes de futebol americano.</p> <p>Ao longo da tarde, estava rolando a Downtown Block Party, uma programação meio aberta em dois quarteirões da avenida principal no centro. Estavam por lá alguns "artistas de carros", alguns palcos, uma instalação com instrumentos musicais, alguns estandes de gente falando sobre bancos de sementes, uma escola que organiza cursos e oficinas gambiarrentos, algumas galerias com mostras ligadas ao ISEA, e outras coisas. Um monte de gente se acotovelava para assistir a uma apresentação de low riders, com um monte de carros tunados guiados por hispanos. Tudo muito curioso, mas chamar de "party" pareceu exagero.</p> <p><img alt="" src="https://lh3.googleusercontent.com/-ibI5lQZ3FCI/UPcfMWNKsRI/AAAAAAAAMwc/RLnQwsLiW50/s512/2012-09-23_16-57-57_225.jpg" /></p> <p><img alt="" src="https://lh4.googleusercontent.com/-rt_wkEoyQ9g/UPcfV6Gd16I/AAAAAAAAMxM/obOSZJmtlJA/s512/2012-09-23_17-28-40_31.jpg" /></p> <p><img alt="" src="https://lh6.googleusercontent.com/-5WWqQP_czck/UPcfQ_7Xa-I/AAAAAAAAMw0/gFwLWo0Ixcs/s512/2012-09-23_17-27-52_13.jpg" /></p> <p>Na verdade, ainda à beira da ansiedade, acabei sabotando algumas boas oportunidades naquele domingo. Não me empolguei o suficiente para pagar o ingresso da <a href="http://www.albuquerque-minimakerfaire.com/" rel="nofollow" rel="nofollow">Mini Maker Faire</a>, nem da apresentação de <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Laurie_Anderson" rel="nofollow" rel="nofollow">Laurie Anderson</a>. Não tive disposição para o show dos <a href="https://en.wikipedia.org/wiki/Dead_Kennedys" rel="nofollow" rel="nofollow">Dead Kennedys</a> (ok, sem o Jello mas ainda assim certamente divertido). Capotei no hotel.</p> <p>No dia seguinte, saí atrás de presentes para a pequena (experiência radical: fazer compras em meio às entranhas da besta, e de repente perceber que o shopping center não tem táxis). À tarde, dei mais uma volta e comecei a empacotar as coisas para ir embora no dia seguinte. Ainda recebi mais um convite: me perguntaram se eu não queria ir de carro até Santa Fe para retornar no dia seguinte. Deveria ter aceito, mas não pude. No dia seguinte, embarquei de volta para o Brasil.</p> <p><img alt="" src="https://lh5.googleusercontent.com/-YjasijEGH7o/UPcfOM41I2I/AAAAAAAAMwk/AxRoN6Ltopg/s512/2012-09-23_17-26-48_382.jpg" /></p> <p>Aqueles poucos dias em território estadunidense mexeram bastante comigo. Na próxima vez, vou tratar de devidamente preparar o espírito antes de embarcar. Marcaram também o momento em que decidi que o referencial de colaboração transdisciplinar formal entre arte e ciência tão presente na arte eletrônica definitivamente não funciona como base concreta para o tipo de laboratórios que venho tentado estudar e implementar. Ali existe um aspecto muito presente de apropriação de impulsos desviantes para oxigenar e reafirmar estruturas de poder: muito barulho, muita pose e pouca mudança efetiva. Foi importante perceber isso em um contexto supostamente alternativo no meio dos Estados Unidos: eu já sabia disso tudo, mas lá ficou muito claro que não existe muita saída por aquelas trilhas.</p> <p>Veja também: <a href="https://picasaweb.google.com/104719536953575628394/ISEA2012" rel="nofollow" rel="nofollow">mais fotos</a> que fiz durante o ISEA.</p> <p>PS.: Ganso teve alta, foi muito bem atendido e não precisou pagar nada - os custos foram assumidos pela rede de saúde do estado do Novo México. Aparentemente, aquele está longe de ser o pior lugar dos EUA.</p><a href="http://ubalab.org/blog/diario-do-ventre-da-besta-parte-3" title="Diário do ventre da besta - parte 3" lang="en_GB" rev="large" class="FlattrButton" rel="nofollow">&Uacute;ltima parte do meu relato sobre a participa&ccedil;&atilde;o no ISEA, em Albuquerque, setembro do ano passado. Veja tamb&eacute;m a parte 1 e a parte 2. &nbsp;No caf&eacute; da manh&atilde; de s&aacute;bado, todos os americanos tinham os olhos grudados na imensa TV do sal&atilde;o. Cobertura da campanha presidencial - Romney tinha falado alguma besteira. Encontrei parte da turma brasileira, e logo Teresa nos deu uma carona at&eacute; o Centro Nacional de Cultura Hisp&acirc;nica (NHCC), que sediaria o F&oacute;rum Latinoamericano do ISEA.&Eacute; forte essa coisa da identidade &quot;hisp&acirc;nica&quot; naquelas paragens - me pergunto se os estadunidenses chegam a atinar a rela&ccedil;&atilde;o etimol&oacute;gica com &quot;Espanha&quot; ou se j&aacute; significa uma coisa totalmente diferente. Penso tamb&eacute;m no pesado legado da pol&iacute;tica do multiculturalismo, que acaba induzindo as pessoas a se identificarem com alguma &quot;minoria&quot;. Engra&ccedil;ado ver em Albuquerque aqueles carr&otilde;es antigos, convers&iacute;veis, guiados por &quot;hisp&acirc;nicos&quot; tatuados, totalmente enquadrados no estere&oacute;tipo cultural.O Centro de Cultura Hisp&acirc;nica &eacute; grande, bonito, bem estruturado. Salas, audit&oacute;rios, um p&aacute;tio amplo com palco debaixo de uma larga &aacute;rvore que alivia um pouco o calor. Tem uma grande placa do Instituto Cervantes, que infelizmente me fez lembrar dos trope&ccedil;os do CCE de S&atilde;o Paulo, desaparecido gra&ccedil;as &agrave;s invers&otilde;es pol&iacute;ticas de Madrid. Logo na recep&ccedil;&atilde;o, Fred Paulino conta que Ganso havia enfartado e estava no hospital. Justo nos EUA, que t&ecirc;m p&eacute;ssima fama na sa&uacute;de.Chegamos &agrave; sala que sediaria o painel sobre mapeamentos, bal&otilde;es e pipas. Demoramos um pouco para come&ccedil;ar, j&aacute; que haviam armado a tela do projetor justamente na parede onde o sol batia, e n&atilde;o havia jeito de fechar a janela. Lucas Bambozzi, Rodrigo Minelli, eu e Bruno Vianna contamos sobre diferentes projetos no Brasil sobre mapeamento colaborativo e afins. Eu falei sobre &quot;mapeamento experimental&quot;.Depois, circulei um pouco entre os paineis. Assisti a um peda&ccedil;o da excelente apresenta&ccedil;&atilde;o de Coco Fusco. Eu seria o moderador do painel sobre labs abertos, o primeiro da tarde. Havia mandado alguns dias antes um email para todos os participantes do painel, sugerindo que almo&ccedil;&aacute;ssemos para alinhar o formato do painel. Dois deles (talvez sem coincid&ecirc;ncia, os dois mais bem posicionados em institui&ccedil;&otilde;es est&aacute;veis) nem responderam. Almocei com os outros - Gabriel Zea / Camilo Martinez&nbsp; e Leslie Garcia - nas barraquinhas de comida no quintal do NHCC. Encontramos os outros no algo intimidante audit&oacute;rio principal, cinco minutos antes de come&ccedil;ar o painel.N&atilde;o gostei do resultado do painel sobre labs. Minha falta de intimidade com os outros dois participantes - um dos quais fez sua fala em espanhol - dificultou um pouco. Fui tamb&eacute;m flex&iacute;vel demais com o tempo de fala de cada um, deixei todo mundo estourar. E come&ccedil;amos uns 15 minutos atrasados enquanto esper&aacute;vamos a sala encher depois do almo&ccedil;o - dada a falta de coment&aacute;rios sobre o atraso da nossa primeira sess&atilde;o pela manh&atilde;, n&atilde;o achei que seria um problema -, mas fomos cobrados pontualmente a liberar a sala. Resultado: nenhum debate, quatro falas isoladas, e tens&atilde;o na sa&iacute;da.Passei mais algum tempo assistindo a algumas apresenta&ccedil;&otilde;es. Vi o artist talk do Bruno Vianna. Lucas e outros faziam a oficina de bal&otilde;es. Vi peda&ccedil;os da apresenta&ccedil;&atilde;o do Bill Toledo - um dos remanescentes native code talkers, &iacute;ndios que serviram ao ex&eacute;rcito estadunidense durante a segunda guerra usando seus pr&oacute;prios c&oacute;digos para transmitir mensagens cifradas.Cheguei a combinar com alguns conhecidos de nos encontrarmos mais tarde na microcervejaria Marble, e tomei o &ocirc;nibus de volta para o hotel. Estava um pouco chateado pelo resultado do painel sobre labs. Talvez tamb&eacute;m estivesse um pouco abalado por uma soma de coisas. Ainda navegava pelo mal-estar do jet lag. Havia sido temer&aacute;rio nas sa&iacute;das a p&eacute; por uma cidade seca, alta e de sol forte. Al&eacute;m dos cansa&ccedil;os, tamb&eacute;m me mexeram outros fatores .Me sentia um peixe fora d&#39;&aacute;gua naquela cidade, naquele pa&iacute;s e naquele evento. Era a primeira vez que ficava t&atilde;o longe da minha filha - se precisasse voltar para casa, levaria no m&iacute;nimo dois dias para chegar. Mais do que tudo, entretanto, acho que me desequilibrou a not&iacute;cia do enfarte do Ganso, que desenterrou alguns fantasmas do passado que haviam ficado quietos por um par de anos. No come&ccedil;o de dezembro de 2009, eu presenciei o falecimento de um vizinho, j&aacute; idoso, cujo cora&ccedil;&atilde;o falhou. Alguns dias depois, tive um epis&oacute;dio de ansiedade, e em mais algumas semanas perdi um grande amigo sem ter a oportunidade de dizer adeus. Isso tudo acabou se misturando naquele momento, e minha noite de s&aacute;bado foi bastante dif&iacute;cil.Tentei descansar um pouco e n&atilde;o consegui. Acabei saindo a p&eacute; at&eacute; a Marble, bastante tenso, algo ansioso. Tentando sem sucesso encontrar o meu pato na cara a duzentos e cinquenta n&oacute;s. A cidade tamb&eacute;m &eacute; deserta &agrave; noite. Cheguei na Marble muito depois da hora que tinha sugerido ao pessoal. N&atilde;o encontrei ningu&eacute;m, fiquei um tempinho por ali ouvindo a banda country e voltei ao hotel. Demorei um temp&atilde;o para finalmente dormir.No domingo, estava um pouco melhor. Passei pela biblioteca p&uacute;blica de Albuquerque, onde rolava o painel sobre inclus&atilde;o digital. Sou suspeito para falar, mas nossos debates sobre isso aqui no Brasil est&atilde;o muito &agrave; frente do que eles conseguem conceber. S&oacute; falam em acesso dom&eacute;stico, empreendedorismo formal, met&aacute;fora de rede para falar sobre a sociedade. N&atilde;o conseguem imaginar novas realidades culturais ligadas &agrave;s tecnologias de informa&ccedil;&atilde;o. No m&aacute;ximo pensam em tecnologias como compensa&ccedil;&atilde;o, para oferecer oportunidades do cara &quot;virar um cientista&quot; ou &quot;encontrar um emprego&quot;. Era mais uma manifesta&ccedil;&atilde;o do multiculturalismo: um dos participantes estava preocupado com o menor acesso de negros &agrave; p&oacute;s-gradua&ccedil;&atilde;o (um debate important&iacute;ssimo na minha opini&atilde;o, mas n&atilde;o t&atilde;o relevante em um debate sobre inclus&atilde;o digital). Perdi a paci&ecirc;ncia bem r&aacute;pido, se pegasse o microfone ia passar tempo demais desconstruindo. Pulei entre diferentes paineis, n&atilde;o achei nada que me prendesse. Almocei um gigantesco hamb&uacute;rguer com ch&aacute; gelado (que vem sem a&ccedil;&uacute;car) em uma lanchonete chamada Q Burger, que tinha quatro grandes TVs transmitindo simultaneamente (e com o som ligado) dois jogos diferentes de futebol americano.Ao longo da tarde, estava rolando a Downtown Block Party, uma programa&ccedil;&atilde;o meio aberta em dois quarteir&otilde;es da avenida principal no centro. Estavam por l&aacute; alguns &quot;artistas de carros&quot;, alguns palcos, uma instala&ccedil;&atilde;o com instrumentos musicais, alguns estandes de gente falando sobre bancos de sementes, uma escola que organiza cursos e oficinas gambiarrentos, algumas galerias com mostras ligadas ao ISEA, e outras coisas. Um monte de gente se acotovelava para assistir a uma apresenta&ccedil;&atilde;o de low riders, com um monte de carros tunados guiados por hispanos. Tudo muito curioso, mas chamar de &quot;party&quot; pareceu exagero.Na verdade, ainda &agrave; beira da ansiedade, acabei sabotando algumas boas oportunidades naquele domingo. N&atilde;o me empolguei o suficiente para pagar o ingresso da Mini Maker Faire, nem da apresenta&ccedil;&atilde;o de Laurie Anderson. N&atilde;o tive disposi&ccedil;&atilde;o para o show dos Dead Kennedys (ok, sem o Jello mas ainda assim certamente divertido). Capotei no hotel.No dia seguinte, sa&iacute; atr&aacute;s de presentes para a pequena (experi&ecirc;ncia radical: fazer compras em meio &agrave;s entranhas da besta, e de repente perceber que o shopping center n&atilde;o tem t&aacute;xis). &Agrave; tarde, dei mais uma volta e comecei a empacotar as coisas para ir embora no dia seguinte. Ainda recebi mais um convite: me perguntaram se eu n&atilde;o queria ir de carro at&eacute; Santa Fe para retornar no dia seguinte. Deveria ter aceito, mas n&atilde;o pude. No dia seguinte, embarquei de volta para o Brasil.Aqueles poucos dias em territ&oacute;rio estadunidense mexeram bastante comigo. Na pr&oacute;xima vez, vou tratar de devidamente preparar o esp&iacute;rito antes de embarcar. Marcaram tamb&eacute;m o momento em que decidi que o referencial de colabora&ccedil;&atilde;o transdisciplinar formal entre arte e ci&ecirc;ncia t&atilde;o presente na arte eletr&ocirc;nica definitivamente n&atilde;o funciona como base concreta para o tipo de laborat&oacute;rios que venho tentado estudar e implementar. Ali existe um aspecto muito presente de apropria&ccedil;&atilde;o de impulsos desviantes para oxigenar e reafirmar estruturas de poder: muito barulho, muita pose e pouca mudan&ccedil;a efetiva. Foi importante perceber isso em um contexto supostamente alternativo no meio dos Estados Unidos: eu j&aacute; sabia disso tudo, mas l&aacute; ficou muito claro que n&atilde;o existe muita sa&iacute;da por aquelas trilhas.Veja tamb&eacute;m: mais fotos que fiz durante o ISEA.PS.: Ganso teve alta, foi muito bem atendido e n&atilde;o precisou pagar nada - os custos foram assumidos pela rede de sa&uacute;de do estado do Novo M&eacute;xico. Aparentemente, aquele est&aacute; longe de ser o pior lugar dos EUA.</a> abq albuquerque arte eletrônica blogs desvio estados unidos eventos feeds isea lifelog mutgamb nm novo mexico projetos trip ubalab ubatuba Mon, 04 Feb 2013 16:22:03 +0000 felipefonseca 12936 at http://efeefe.no-ip.org Diário do ventre da besta - parte 2 http://efeefe.no-ip.org/agregando/diario-do-ventre-da-besta-parte-2 <div class=fonte_feed> <em>Este post foi agregado por RSS. Link original:<br> <a href=></a></em></div> --- <blockquote> <p>Segunda parte do relato sobre minha participação no <a href="http://www.isea2012.org/" rel="nofollow" rel="nofollow">ISEA</a>, em setembro de 2012. Por enquanto vai sem os links mesmo. Assim que conseguir eu publico a terceira e última.</p> <p>Veja também: <a href="/blog/diario-do-ventre-da-besta-parte-1" rel="nofollow" rel="nofollow">parte 1</a> e <a href="/blog/diario-do-ventre-da-besta-parte-3" rel="nofollow" rel="nofollow">parte 3</a>.</p> </blockquote> <p><img align="right" alt="" src="https://lh5.googleusercontent.com/-MFNuwbWeyQ4/UPceUti3giI/AAAAAAAAMs0/yr_3atJHqRU/s512/2012-09-20_11-26-20_594.jpg" width="100" />Em algum ponto do relativamente curto trajeto entre Atlanta e Albuquerque, comecei a prestar atenção à paisagem pela janela do avião. O horizonte se elevava aos poucos, passando por bonitas rochas recortadas e continuando a subir. O verde dava lugar àquela cor avermelhada dos desertos do oeste estadunidense. Sobrevoando aquela amplidão seca, fiquei pensando sobre as dificuldades de fazer funcionar uma cidade contemporânea ali. A aridez só era cortada por ilhas verdes, provavelmente instalações agrícolas intensivas. Alguns açudes, cercados do que parecia ser areia. Imaginei o transporte de combustível pelo meio do deserto. O consumo, a logística. A guerra para sustentar esses fluxos.</p> <p>O aeroporto de Albuquerque (chamado Sunport, "porto do sol") poderia estar em alguma cidade turística litorânea. Cores fortes, uma luz quente vinda de fora. A influência mexicana é bem caracterizada, ao ponto da artificialidade - mais reconstrução do que herança. Encontrei um telefone público (que realmente tinha uma lista telefônica pendurada) e usei um quarto de dólar para ligar ao hotel requisitando o serviço de traslado. Em alguns minutos chegou uma van para me buscar. Espaçosa e silenciosa, como o próprio deserto havia parecido lá de cima. Lembrei de Jim Morrison fritando ao sol, viajando nos silêncios.</p> <p>A cidade é iluminada, sob um céu de azul intenso. Seria um período curto em Albuquerque - pouco mais do que os três dias que passei em Lisboa em 2006. Sabia que não conseguiria conhecer muito da cidade, mas queria pelo menos ter alguma impressão. Não vi muita gente na rua, o que atribuí ao sol inclemente. Algumas áreas verdes, que parecem exigir trabalho para se manter. Muitos carros grandes. Grandes mesmo, bem maiores do que aqueles que a gente considera grandes aqui no Brasil. Alguns deles tinham placas coloridas. Uma picape gigante, vermelha, com a placa "ALL FUN" em cores de pôr do sol. Outros tinham placas em espanhol. Cidadãos com feições indígenas. Eu estava perto do Rio Grande (e ainda era vinte de setembro, o que me levou de volta a Porto Alegre). Faroeste contemporâneo, eu como forasteiro. Estranhei as casas de madeira em um lugar com tanto sol e temperatura relativamente alta. Mas o inverno deve ser frio.</p> <p><img alt="" src="https://lh5.googleusercontent.com/-KvZiOFnVr0Y/UPcfIRrI9QI/AAAAAAAAMwE/9txCw8lL_Nk/s512/2012-09-23_12-51-24_481.jpg" /></p> <p>Cheguei ao Hotel Blue, à beira do traçado urbano da Rota 66. Fiquei um pouco perdido ali na recepção, tímido de falar inglês sem saber qual sotaque usar. Me registrei, assinei com uma caneta de plástico em uma tela eletrônica. O chão do lobby era quadriculado em preto e branco, talvez uma citação aos anos sessenta. Algo de parque temático também. Peguei um par de cookies e subi ao quarto. O Hotel Blue deve ter passado por uma reforma e modernização em tempos recentes, mas tem um formato híbrido de hotel padrão com motel estadunidense - corredores externos e quartos voltados para fora. Bastante autonomia dentro do quarto: frigobar, máquina de café, microondas, tábua e ferro de passar roupa. Reservatórios práticos embutidos na parede oferecem sabonete líquido, shampoo e creme hidratante. Para o viajante não ter preocupações.</p> <p>Fiquei fritando na cama por algum tempo. À tarde, a portaria me avisa que haviam chegado algumas encomendas. Eu havia comprado um substituto para meu laptop velho de guerra, e mais alguns eletrônicos que venderia na volta para ajudar a pagar pelo computador novo. Tinha feito um bom negócio, encomendando um laptop do ano anterior - já fora de linha por lá - pelo qual paguei mais ou menos metade do preço corrente no Brasil. Para evitar problemas na alfândega, havia deixado minha máquina antiga em casa e levado somente o HD em um case externo. Desci em instantes para descobrir o que havia chegado - um tablet e um smartphone, e nada do computador. Abri as embalagens, testei os equipamentos para ver se funcionavam. Tudo ok.</p> <p><img alt="" src="https://lh5.googleusercontent.com/-iCcT6qfhtP0/UPced2mStiI/AAAAAAAAMtU/UwHvTHRo6OA/s512/2012-09-20_18-33-39_339.jpg" /></p> <p>Por volta das seis da tarde, saí do hotel e fui até o centro histórico, "Old Town" de Albuquerque. Ao contrário do que eu imaginava, parecia um bairro cenográfico. Aquela cara de distrito turístico (mas não vi muitos turistas). Muitas lojas de souvenirs. Construções que sugeriam o estilo mexicano, um ou outro detalhe de filme americano - como as caixas de correio típicas ou aquela cerca de madeira de desenho animado - e muitos nomes em espanhol. Os cerca de dois quilômetros que percorri a pé para chegar lá eram desertos - vi passarem algumas dezenas de carros, e lembro de ter visto menos de meia dúzia de pessoas andando pelas ruas. A temperatura era agradável, tendendo ao quente. Fiquei circulando entre as estações de rádio locais: música mexicana, rap e a famosa NPR, rádio pública nacional. Em uma estação ouvi propaganda eleitoral contrária a Obama, em espanhol. Não tomei nota dos argumentos.</p> <p><img alt="" src="https://lh6.googleusercontent.com/-hQ9N5WyHf-g/UPcemkLAuNI/AAAAAAAAMtk/iD6es0TJWzg/s512/2012-09-20_18-40-33_111.jpg" /></p> <p>Cheguei no começo da noite ao Museu de Albuquerque, uma das sedes do ISEA. Tinha um pedaço daquela fauna de arte eletrônica que eu já conhecia de outros eventos. Visual moderninho, no meio do caminho entre a assimilação do espetáculo e a crítica intelectualizada. Peguei minhas credenciais. Flanei pelo ambiente, ainda cansado da viagem, até começar a tropeçar em conhecidos. Os brasileiros Rodrigo Minelli, Lucas Bambozzi e Bruno Vianna circulavam ali no saguão. Lenara Verle estava no café do Museu. <a href="http://jaromil.dyne.org/" rel="nofollow" rel="nofollow">Jaromil</a>, comparsa de Bricolabs e outras redes, e Andres Burbano, o colombiano que me convidou ao ISEA, também circulavam. Subi para ver a obra de Bruno exposta no terraço do Museu: uma instalação que usava jatos de água reposicionados automaticamente como antenas para captar transmissões de satélite. Ao lado, um PC rodando Linux mostrava uma visualização dos satélites passando pelo céu naquele momento.</p> <p><img alt="Gambiociclo" src="https://lh6.googleusercontent.com/-YeoKPEz-5lo/UPceppzU8vI/AAAAAAAAMt0/HoGXFQ9ZdKo/s512/2012-09-20_19-16-56_740.jpg" /></p> <p>Havia sido convidado a jantar ali perto com algumas figuras importantes do mundo da arte/ciência/tecnologia, mas não me senti descansado o suficiente para encetar conversas conceituais aprofundadas em uma língua que não é a minha. Acabei tomando com Lucas o transporte oferecido pelo evento: um lindo e antigo ônibus escolar que nos levaria à abertura no 516 arts, galeria no centro da cidade. Bruno iria na bicicleta que alugara no lugar em que estava ficando. Já na entrada, encontramos os três gambiólogos. Já chegavam tirando onda: o Gambiociclo que fizeram nas semanas anteriores estava bem no hall da galeria. Lugar nobre. O ambiente estava lotado. Encontrei mais alguns conhecidos, mas o resquício de jet lag já estava me deixando em modo semi-social. O pessoal planejava sair de lá direto para uma microcervejaria local, mas acabei declinando. Voltei ao hotel com um cansaço pesado, mas ainda eram oito e pouco da noite. Encomendei pela internet um sanduíche de um lugar chamado Jimmy John's. Capotei às dez e pouco e só acordei às seis da manhã.</p> <p>O café da manhã no Hotel Blue não tinha nenhum destaque. As opções eram o café de máquina (ruim, mas em compensação disponível o dia inteiro como os chás, sucos e cookies) e uma garrafa térmica com "café Starbucks" (regular). Sucos, pães, aquele iogurte com sabor de fruta sintética, etc. Uma TV gigante com o noticiário, focado principalmente na disputa pela presidência estadunidense.</p> <p><img alt="Lavanda" src="https://lh3.googleusercontent.com/-62-bGbitRHc/UPce4OtTAvI/AAAAAAAAMu0/eZYQlq3A94Q/s512/2012-09-21_10-16-39_760.jpg" /></p> <p>Fui outra vez caminhando até o Museu de Albuquerque. Sol batendo forte. Me arrependi de não ter levado um chapéu. A cidade parecia vazia durante o dia também. Passei por duas escolas no caminho: uma parecia ter uma maioria de alunos latinos, a outra com crianças mais branquinhas e lourinhas. Na praça do centro histórico, uma bandinha de música mexicana parecia ensaiar para um casamento. Encontrei alguns pés floridos de lavanda, e em uma cerca topei com uvas pequenas e doces.</p> <p>Cheguei para assistir ao painel sobre "Econotopias". Falariam <a href="http://jaromil.dyne.org/" rel="nofollow" rel="nofollow">Jaromil</a> (sobre <a href="http://bitcoin.org/" rel="nofollow" rel="nofollow">Bitcoin</a> e <a href="http://dyndy.net" rel="nofollow" rel="nofollow">Dyndy</a>), Caroline Woolard (sobre a iniciativa <a href="https://ourgoods.org/" rel="nofollow" rel="nofollow">Ourgoods</a>) e <a href="https://en.wikipedia.org/wiki/Ted_Howard_%28author%29" rel="nofollow" rel="nofollow">Ted Howard</a> (<a href="http://evergreencooperatives.com" rel="nofollow" rel="nofollow">cooperativas Evergreen</a>). Jaromil mencionou Marx, que apesar de fazer todo sentido para falar sobre valor e troca, soou algo estranho naquele lugar do mundo. Pensei sentir um incômodo no casal ao meu lado, mas pode ter sido mera impressão.</p> <p>Jaromil fez uma crítica clara e contundente à sociedade atual, na qual "os humanos são o meio, e o objeto é o dinheiro". Descreveu o sistema financeiro como uma máquina complexa para representar afeto, valores, interesses e natureza em um jogo abstrato. Apresentou o Bitcoin, não sem criticar a dependência que a extração de coins tem de computadores poderosos - mas relativizou essa dependência, em comparação à dependência institucional de segurança das moedas nacionais. Posicionou o Bitcoin, ecoando o Chaos Computer Club, como exemplo de rede que resiste aos poderes centralizados/centralizadores.</p> <p>Caroline Woolard apresentou o Ourgoods, que propõe uma economia de escambo para produtores culturais. Depreendi dali uma lógica de classificados, que lembrava o Bank of Common Knowledge do pessoal do Platoniq em Barcelona. Senti um aprisionamento forte ao mundo do espetáculo, ou à lógica do microespetáculo. Usava um monte de palavras corretas e aceitáveis nos dias de hoje. Construir uma cultura de cooperação. A economia não produz somente bens e serviços, também nos produz. Citou Paulo Freire - ação sem reflexão é cega, reflexão sem ação é impotente (traduzindo da tradução, posso ter perdido algo por aí).</p> <p>Ted Howard veio contar sobre suas experiências incubando cooperativas nos EUA. Segundo o programa do ISEA, ele foi considerado em algum lugar como um dos "25 visionários que vão mudar o mundo". Ele fala bem, tem aquela postura profissional que só quem leva muito sério a própria pessoa consegue ter. Profissional ao extremo. Falou sobre a crescente disparidade social nos EUA. Citou estatísticas. Falou que o país tem 100 milhões de pessoas que podem ser consideradas pobres. Falou sobre a (sempre citada) cooperativa de Mondragon no País Basco. Descreveu sua estratégia para criar cooperativas nos EUA: encontrar uma instituição-âncora, criar um negócio cooperativo com a comunidade, crescer, conectar-se a setores em expansão, garantir financiamento. Era um discurso bem ensaiado e totalmente positivo, dentro de uma lógica específica. Mas tudo se resumia a criar novas maneiras de o cidadão comum estadunidense garantir seu emprego e continuar produzindo com menos intermediários (e mantendo seu padrão de vida, comprando seu 6-pack de Budweiser, comendo comida gordurosa e assistindo TV deitado no sofá).</p> <p>Ao fim da apresentação de Ted Howard, um autoproclamado cientista mexicano o acusou de ingenuidade, ou de não estar falando a sério. Howard não discutiu. Jaromil pegou o microfone e sugeriu que cada povo precisa encontrar sua própria resposta. Naquele país, segundo ele, o contexto é diferente de lugares que foram colonizados. É necessário encontrar soluções autodeterminadas. Para Jaromil, nos EUA o capitalismo é visto como uma coisa boa, então eles precisam referir-se ao passado. Mas existiria algo comum entre os três projetos apresentados no painel - eles apontam para um futuro que se opõe à tendência política corrente, de austeridade como solução para as crises econômicas.</p> <p>Outro senhor sugeriu a necessidade de criar um futuro novo e imprevisível. Jaromil argumentou que existe uma falha recorrente nas economias alternativas: tentar quantificar relacionamentos. Howard falou que é muito difícil pensar "além do capitalismo". Se você não gosta do socialismo de estado e não quer o capitalismo corporativo, o que pode fazer? Falou que nos EUA existe a impressão de que o capitalismo foi um presente enviado por deus. Meses depois, enquanto escrevo esse relato, acabei de terminar de ler o <a href="http://futurosimaginarios.midiatatica.info/" rel="nofollow" rel="nofollow">Futuros Imaginários</a> de Richard Barbrook. E vem à minha mente a imagem do "marxismo sem Marx" que teria sido forjado nos EUA ao longo do século XX (junto à "cibernética sem Wiener" e ao "mcluhanismo sem McLuhan").</p> <p>Desde a apresentação de Howard, passando pela intervenção do mexicano e até o fim da conversa, me atravessava uma sensação: eles não vão entender. É um sistema no qual todo discurso libertário já é automaticamente capturado ou enquadrado pelo mercado. Não existe saída naquele contexto. Me senti mais um peixe fora do aquário (mas a sensação não era nova).</p> <p><img alt="Urso!" src="https://lh6.googleusercontent.com/-5H-e9KTTI2g/UPcew1kP3iI/AAAAAAAAMuU/qz-VZuKPhLY/s512/2012-09-21_10-00-00_73.jpg" /></p> <p>Voltei ao hotel a pé, para descobrir se meu computador havia chegado. Nada. Já estava ficando preocupado: ele deveria estar no hotel um dia antes da minha chegada aos EUA. No caminho havia parado em um 7-11 para comprar cervejas e comida, mas não consegui (não lembro bem por quê - acho que estava sem meu passaporte ou havia esquecido o cartão). Fui dar uma volta perto da estação de trem, buscando alguma coisa para comer. Parei em um mexicano, peguei um burrito e um refrigerante gigantesco. Saí outra vez a pé. No caminho encontrei um caminhão da Fedex e perguntei ao motorista se era normal atrasar uma encomenda. O rapaz falou que não. Continuei até o hotel Albuquerque. Visitei o estande de uma editora, conversei com um engenheiro da Intel (que confessou que ia esperar até a chegada da segunda geração de Ultrabooks para ficar com um). Peguei um trecho da mesa "Authorlessness", interessante mas sem muita novidade. Um casamento acontecia no jardim do hotel.</p> <p>Voltei ao Museu de Albuquerque, mas não encontrei ninguém. Aproveitando o wifi livre, encontrei pelo celular uma loja que alugava bicicletas. Caminhei até lá, debaixo de sol e calor, sonhando em pedalar e tomar vento na cara. Desisti ao saber do preço, 35 dólares por dia. Continuei andando em direção ao hotel e em uma esquina encontrei alguns conhecidos, que saíam de um debate sobre "economias alternativas" no Harwood Art Center. Segui o pessoal até um bar meio metido (não sem antes passarmos por um drive-thru de caixa eletrônico de banco, que deixou os europeus do grupo surpresos: "as pessoas não saem do carro nem para sacar dinheiro?"). No bar, conversamos em grupos até que um habitante de San Francisco (e lá isso tem um monte de significados adjacentes - meio hippie, meio de esquerda, simpático, tranquilo) sugeriu uma rodada geral de apresentações. Falei um pouco sobre o que estava fazendo ali, mas a sensação de estar em uma dinâmica de grupo (planejada, controlada, analisada) me espantou.</p> <p>Voltei ao hotel para preparar minha apresentação para o painel da manhã de sábado. Liguei para a empresa que vendeu meu laptop, descobri que ao contrário do que eu havia requisitado - e pago -, eles não haviam enviado a encomenda por remessa expressa. Ela deveria estar no meio dos EUA, pelo correio comum. Chegaria na segunda-feira, a tempo de me encontrar no hotel, mas já depois das minhas duas apresentações. Recebi de volta o valor da entrega, e foi tudo que consegui. Teria que usar um dos computadores do lobby. Tentei subir o sistema do meu HD externo conectado via USB, mas não funcionou. Acabei usando o OpenOffice.org para Windows do computador do hotel. No processo, acabei perdendo a noite de Gala do ISEA. Mas consegui preparar a apresentação para a manhã seguinte. Depois saí, dei uma volta pelo centro, sondei alguns bares mas não tive vontade de entrar e beber sozinho. Voltei ao hotel e pedi outro sanduíche do mesmo lugar.</p><a href="http://ubalab.org/blog/diario-do-ventre-da-besta-parte-2" title="Diário do ventre da besta - parte 2" lang="en_GB" rev="large" class="FlattrButton" rel="nofollow">Segunda parte do relato sobre minha participa&ccedil;&atilde;o no ISEA, em setembro de 2012. Por enquanto vai sem os links mesmo. Assim que conseguir eu publico a terceira e &uacute;ltima. Veja tamb&eacute;m: parte 1 e parte 3.Em algum ponto do relativamente curto trajeto entre Atlanta e Albuquerque, comecei a prestar aten&ccedil;&atilde;o &agrave; paisagem pela janela do avi&atilde;o. O horizonte se elevava aos poucos, passando por bonitas rochas recortadas e continuando a subir. O verde dava lugar &agrave;quela cor avermelhada dos desertos do oeste estadunidense. Sobrevoando aquela amplid&atilde;o seca, fiquei pensando sobre as dificuldades de fazer funcionar uma cidade contempor&acirc;nea ali. A aridez s&oacute; era cortada por ilhas verdes, provavelmente instala&ccedil;&otilde;es agr&iacute;colas intensivas. Alguns a&ccedil;udes, cercados do que parecia ser areia. Imaginei o transporte de combust&iacute;vel pelo meio do deserto. O consumo, a log&iacute;stica. A guerra para sustentar esses fluxos.O aeroporto de Albuquerque (chamado Sunport, &quot;porto do sol&quot;) poderia estar em alguma cidade tur&iacute;stica litor&acirc;nea. Cores fortes, uma luz quente vinda de fora. A influ&ecirc;ncia mexicana &eacute; bem caracterizada, ao ponto da artificialidade - mais reconstru&ccedil;&atilde;o do que heran&ccedil;a. Encontrei um telefone p&uacute;blico (que realmente tinha uma lista telef&ocirc;nica pendurada) e usei um quarto de d&oacute;lar para ligar ao hotel requisitando o servi&ccedil;o de traslado. Em alguns minutos chegou uma van para me buscar. Espa&ccedil;osa e silenciosa, como o pr&oacute;prio deserto havia parecido l&aacute; de cima. Lembrei de Jim Morrison fritando ao sol, viajando nos sil&ecirc;ncios.A cidade &eacute; iluminada, sob um c&eacute;u de azul intenso. Seria um per&iacute;odo curto em Albuquerque - pouco mais do que os tr&ecirc;s dias que passei em Lisboa em 2006. Sabia que n&atilde;o conseguiria conhecer muito da cidade, mas queria pelo menos ter alguma impress&atilde;o. N&atilde;o vi muita gente na rua, o que atribu&iacute; ao sol inclemente. Algumas &aacute;reas verdes, que parecem exigir trabalho para se manter. Muitos carros grandes. Grandes mesmo, bem maiores do que aqueles que a gente considera grandes aqui no Brasil. Alguns deles tinham placas coloridas. Uma picape gigante, vermelha, com a placa &quot;ALL FUN&quot; em cores de p&ocirc;r do sol. Outros tinham placas em espanhol. Cidad&atilde;os com fei&ccedil;&otilde;es ind&iacute;genas. Eu estava perto do Rio Grande (e ainda era vinte de setembro, o que me levou de volta a Porto Alegre). Faroeste contempor&acirc;neo, eu como forasteiro. Estranhei as casas de madeira em um lugar com tanto sol e temperatura relativamente alta. Mas o inverno deve ser frio.Cheguei ao Hotel Blue, &agrave; beira do tra&ccedil;ado urbano da Rota 66. Fiquei um pouco perdido ali na recep&ccedil;&atilde;o, t&iacute;mido de falar ingl&ecirc;s sem saber qual sotaque usar. Me registrei, assinei com uma caneta de pl&aacute;stico em uma tela eletr&ocirc;nica. O ch&atilde;o do lobby era quadriculado em preto e branco, talvez uma cita&ccedil;&atilde;o aos anos sessenta. Algo de parque tem&aacute;tico tamb&eacute;m. Peguei um par de cookies e subi ao quarto. O Hotel Blue deve ter passado por uma reforma e moderniza&ccedil;&atilde;o em tempos recentes, mas tem um formato h&iacute;brido de hotel padr&atilde;o com motel estadunidense - corredores externos e quartos voltados para fora. Bastante autonomia dentro do quarto: frigobar, m&aacute;quina de caf&eacute;, microondas, t&aacute;bua e ferro de passar roupa. Reservat&oacute;rios pr&aacute;ticos embutidos na parede oferecem sabonete l&iacute;quido, shampoo e creme hidratante. Para o viajante n&atilde;o ter preocupa&ccedil;&otilde;es.Fiquei fritando na cama por algum tempo. &Agrave; tarde, a portaria me avisa que haviam chegado algumas encomendas. Eu havia comprado um substituto para meu laptop velho de guerra, e mais alguns eletr&ocirc;nicos que venderia na volta para ajudar a pagar pelo computador novo. Tinha feito um bom neg&oacute;cio, encomendando um laptop do ano anterior - j&aacute; fora de linha por l&aacute; - pelo qual paguei mais ou menos metade do pre&ccedil;o corrente no Brasil. Para evitar problemas na alf&acirc;ndega, havia deixado minha m&aacute;quina antiga em casa e levado somente o HD em um case externo. Desci em instantes para descobrir o que havia chegado - um tablet e um smartphone, e nada do computador. Abri as embalagens, testei os equipamentos para ver se funcionavam. Tudo ok.Por volta das seis da tarde, sa&iacute; do hotel e fui at&eacute; o centro hist&oacute;rico, &quot;Old Town&quot; de Albuquerque. Ao contr&aacute;rio do que eu imaginava, parecia um bairro cenogr&aacute;fico. Aquela cara de distrito tur&iacute;stico (mas n&atilde;o vi muitos turistas). Muitas lojas de souvenirs. Constru&ccedil;&otilde;es que sugeriam o estilo mexicano, um ou outro detalhe de filme americano - como as caixas de correio t&iacute;picas ou aquela cerca de madeira de desenho animado - e muitos nomes em espanhol. Os cerca de dois quil&ocirc;metros que percorri a p&eacute; para chegar l&aacute; eram desertos - vi passarem algumas dezenas de carros, e lembro de ter visto menos de meia d&uacute;zia de pessoas andando pelas ruas. A temperatura era agrad&aacute;vel, tendendo ao quente. Fiquei circulando entre as esta&ccedil;&otilde;es de r&aacute;dio locais: m&uacute;sica mexicana, rap e a famosa NPR, r&aacute;dio p&uacute;blica nacional. Em uma esta&ccedil;&atilde;o ouvi propaganda eleitoral contr&aacute;ria a Obama, em espanhol. N&atilde;o tomei nota dos argumentos.Cheguei no come&ccedil;o da noite ao Museu de Albuquerque, uma das sedes do ISEA. Tinha um peda&ccedil;o daquela fauna de arte eletr&ocirc;nica que eu j&aacute; conhecia de outros eventos. Visual moderninho, no meio do caminho entre a assimila&ccedil;&atilde;o do espet&aacute;culo e a cr&iacute;tica intelectualizada. Peguei minhas credenciais. Flanei pelo ambiente, ainda cansado da viagem, at&eacute; come&ccedil;ar a trope&ccedil;ar em conhecidos. Os brasileiros Rodrigo Minelli, Lucas Bambozzi e Bruno Vianna circulavam ali no sagu&atilde;o. Lenara Verle estava no caf&eacute; do Museu. Jaromil, comparsa de Bricolabs e outras redes, e Andres Burbano, o colombiano que me convidou ao ISEA, tamb&eacute;m circulavam. Subi para ver a obra de Bruno exposta no terra&ccedil;o do Museu: uma instala&ccedil;&atilde;o que usava jatos de &aacute;gua reposicionados automaticamente como antenas para captar transmiss&otilde;es de sat&eacute;lite. Ao lado, um PC rodando Linux mostrava uma visualiza&ccedil;&atilde;o dos sat&eacute;lites passando pelo c&eacute;u naquele momento.Havia sido convidado a jantar ali perto com algumas figuras importantes do mundo da arte/ci&ecirc;ncia/tecnologia, mas n&atilde;o me senti descansado o suficiente para encetar conversas conceituais aprofundadas em uma l&iacute;ngua que n&atilde;o &eacute; a minha. Acabei tomando com Lucas o transporte oferecido pelo evento: um lindo e antigo &ocirc;nibus escolar que nos levaria &agrave; abertura no 516 arts, galeria no centro da cidade. Bruno iria na bicicleta que alugara no lugar em que estava ficando. J&aacute; na entrada, encontramos os tr&ecirc;s gambi&oacute;logos. J&aacute; chegavam tirando onda: o Gambiociclo que fizeram nas semanas anteriores estava bem no hall da galeria. Lugar nobre. O ambiente estava lotado. Encontrei mais alguns conhecidos, mas o resqu&iacute;cio de jet lag j&aacute; estava me deixando em modo semi-social. O pessoal planejava sair de l&aacute; direto para uma microcervejaria local, mas acabei declinando. Voltei ao hotel com um cansa&ccedil;o pesado, mas ainda eram oito e pouco da noite. Encomendei pela internet um sandu&iacute;che de um lugar chamado Jimmy John&#39;s. Capotei &agrave;s dez e pouco e s&oacute; acordei &agrave;s seis da manh&atilde;.O caf&eacute; da manh&atilde; no Hotel Blue n&atilde;o tinha nenhum destaque. As op&ccedil;&otilde;es eram o caf&eacute; de m&aacute;quina (ruim, mas em compensa&ccedil;&atilde;o dispon&iacute;vel o dia inteiro como os ch&aacute;s, sucos e cookies) e uma garrafa t&eacute;rmica com &quot;caf&eacute; Starbucks&quot; (regular). Sucos, p&atilde;es, aquele iogurte com sabor de fruta sint&eacute;tica, etc. Uma TV gigante com o notici&aacute;rio, focado principalmente na disputa pela presid&ecirc;ncia estadunidense.Fui outra vez caminhando at&eacute; o Museu de Albuquerque. Sol batendo forte. Me arrependi de n&atilde;o ter levado um chap&eacute;u. A cidade parecia vazia durante o dia tamb&eacute;m. Passei por duas escolas no caminho: uma parecia ter uma maioria de alunos latinos, a outra com crian&ccedil;as mais branquinhas e lourinhas. Na pra&ccedil;a do centro hist&oacute;rico, uma bandinha de m&uacute;sica mexicana parecia ensaiar para um casamento. Encontrei alguns p&eacute;s floridos de lavanda, e em uma cerca topei com uvas pequenas e doces.Cheguei para assistir ao painel sobre &quot;Econotopias&quot;. Falariam Jaromil (sobre Bitcoin e Dyndy), Caroline Woolard (sobre a iniciativa Ourgoods) e Ted Howard (cooperativas Evergreen). Jaromil mencionou Marx, que apesar de fazer todo sentido para falar sobre valor e troca, soou algo estranho naquele lugar do mundo. Pensei sentir um inc&ocirc;modo no casal ao meu lado, mas pode ter sido mera impress&atilde;o.Jaromil fez uma cr&iacute;tica clara e contundente &agrave; sociedade atual, na qual &quot;os humanos s&atilde;o o meio, e o objeto &eacute; o dinheiro&quot;. Descreveu o sistema financeiro como uma m&aacute;quina complexa para representar afeto, valores, interesses e natureza em um jogo abstrato. Apresentou o Bitcoin, n&atilde;o sem criticar a depend&ecirc;ncia que a extra&ccedil;&atilde;o de coins tem de computadores poderosos - mas relativizou essa depend&ecirc;ncia, em compara&ccedil;&atilde;o &agrave; depend&ecirc;ncia institucional de seguran&ccedil;a das moedas nacionais. Posicionou o Bitcoin, ecoando o Chaos Computer Club, como exemplo de rede que resiste aos poderes centralizados/centralizadores.Caroline Woolard apresentou o Ourgoods, que prop&otilde;e uma economia de escambo para produtores culturais. Depreendi dali uma l&oacute;gica de classificados, que lembrava o Bank of Common Knowledge do pessoal do Platoniq em Barcelona. Senti um aprisionamento forte ao mundo do espet&aacute;culo, ou &agrave; l&oacute;gica do microespet&aacute;culo. Usava um monte de palavras corretas e aceit&aacute;veis nos dias de hoje. Construir uma cultura de coopera&ccedil;&atilde;o. A economia n&atilde;o produz somente bens e servi&ccedil;os, tamb&eacute;m nos produz. Citou Paulo Freire - a&ccedil;&atilde;o sem reflex&atilde;o &eacute; cega, reflex&atilde;o sem a&ccedil;&atilde;o &eacute; impotente (traduzindo da tradu&ccedil;&atilde;o, posso ter perdido algo por a&iacute;).Ted Howard veio contar sobre suas experi&ecirc;ncias incubando cooperativas nos EUA. Segundo o programa do ISEA, ele foi considerado em algum lugar como um dos &quot;25 vision&aacute;rios que v&atilde;o mudar o mundo&quot;. Ele fala bem, tem aquela postura profissional que s&oacute; quem leva muito s&eacute;rio a pr&oacute;pria pessoa consegue ter. Profissional ao extremo. Falou sobre a crescente disparidade social nos EUA. Citou estat&iacute;sticas. Falou que o pa&iacute;s tem 100 milh&otilde;es de pessoas que podem ser consideradas pobres. Falou sobre a (sempre citada) cooperativa de Mondragon no Pa&iacute;s Basco. Descreveu sua estrat&eacute;gia para criar cooperativas nos EUA: encontrar uma institui&ccedil;&atilde;o-&acirc;ncora, criar um neg&oacute;cio cooperativo com a comunidade, crescer, conectar-se a setores em expans&atilde;o, garantir financiamento. Era um discurso bem ensaiado e totalmente positivo, dentro de uma l&oacute;gica espec&iacute;fica. Mas tudo se resumia a criar novas maneiras de o cidad&atilde;o comum estadunidense garantir seu emprego e continuar produzindo com menos intermedi&aacute;rios (e mantendo seu padr&atilde;o de vida, comprando seu 6-pack de Budweiser, comendo comida gordurosa e assistindo TV deitado no sof&aacute;).Ao fim da apresenta&ccedil;&atilde;o de Ted Howard, um autoproclamado cientista mexicano o acusou de ingenuidade, ou de n&atilde;o estar falando a s&eacute;rio. Howard n&atilde;o discutiu. Jaromil pegou o microfone e sugeriu que cada povo precisa encontrar sua pr&oacute;pria resposta. Naquele pa&iacute;s, segundo ele, o contexto &eacute; diferente de lugares que foram colonizados. &Eacute; necess&aacute;rio encontrar solu&ccedil;&otilde;es autodeterminadas. Para Jaromil, nos EUA o capitalismo &eacute; visto como uma coisa boa, ent&atilde;o eles precisam referir-se ao passado. Mas existiria algo comum entre os tr&ecirc;s projetos apresentados no painel - eles apontam para um futuro que se op&otilde;e &agrave; tend&ecirc;ncia pol&iacute;tica corrente, de austeridade como solu&ccedil;&atilde;o para as crises econ&ocirc;micas.Outro senhor sugeriu a necessidade de criar um futuro novo e imprevis&iacute;vel. Jaromil argumentou que existe uma falha recorrente nas economias alternativas: tentar quantificar relacionamentos. Howard falou que &eacute; muito dif&iacute;cil pensar &quot;al&eacute;m do capitalismo&quot;. Se voc&ecirc; n&atilde;o gosta do socialismo de estado e n&atilde;o quer o capitalismo corporativo, o que pode fazer? Falou que nos EUA existe a impress&atilde;o de que o capitalismo foi um presente enviado por deus. Meses depois, enquanto escrevo esse relato, acabei de terminar de ler o Futuros Imagin&aacute;rios de Richard Barbrook. E vem &agrave; minha mente a imagem do &quot;marxismo sem Marx&quot; que teria sido forjado nos EUA ao longo do s&eacute;culo XX (junto &agrave; &quot;cibern&eacute;tica sem Wiener&quot; e ao &quot;mcluhanismo sem McLuhan&quot;).Desde a apresenta&ccedil;&atilde;o de Howard, passando pela interven&ccedil;&atilde;o do mexicano e at&eacute; o fim da conversa, me atravessava uma sensa&ccedil;&atilde;o: eles n&atilde;o v&atilde;o entender. &Eacute; um sistema no qual todo discurso libert&aacute;rio j&aacute; &eacute; automaticamente capturado ou enquadrado pelo mercado. N&atilde;o existe sa&iacute;da naquele contexto. Me senti mais um peixe fora do aqu&aacute;rio (mas a sensa&ccedil;&atilde;o n&atilde;o era nova).Voltei ao hotel a p&eacute;, para descobrir se meu computador havia chegado. Nada. J&aacute; estava ficando preocupado: ele deveria estar no hotel um dia antes da minha chegada aos EUA. No caminho havia parado em um 7-11 para comprar cervejas e comida, mas n&atilde;o consegui (n&atilde;o lembro bem por qu&ecirc; - acho que estava sem meu passaporte ou havia esquecido o cart&atilde;o). Fui dar uma volta perto da esta&ccedil;&atilde;o de trem, buscando alguma coisa para comer. Parei em um mexicano, peguei um burrito e um refrigerante gigantesco. Sa&iacute; outra vez a p&eacute;. No caminho encontrei um caminh&atilde;o da Fedex e perguntei ao motorista se era normal atrasar uma encomenda. O rapaz falou que n&atilde;o. Continuei at&eacute; o hotel Albuquerque. Visitei o estande de uma editora, conversei com um engenheiro da Intel (que confessou que ia esperar at&eacute; a chegada da segunda gera&ccedil;&atilde;o de Ultrabooks para ficar com um). Peguei um trecho da mesa &quot;Authorlessness&quot;, interessante mas sem muita novidade. Um casamento acontecia no jardim do hotel.Voltei ao Museu de Albuquerque, mas n&atilde;o encontrei ningu&eacute;m. Aproveitando o wifi livre, encontrei pelo celular uma loja que alugava bicicletas. Caminhei at&eacute; l&aacute;, debaixo de sol e calor, sonhando em pedalar e tomar vento na cara. Desisti ao saber do pre&ccedil;o, 35 d&oacute;lares por dia. Continuei andando em dire&ccedil;&atilde;o ao hotel e em uma esquina encontrei alguns conhecidos, que sa&iacute;am de um debate sobre &quot;economias alternativas&quot; no Harwood Art Center. Segui o pessoal at&eacute; um bar meio metido (n&atilde;o sem antes passarmos por um drive-thru de caixa eletr&ocirc;nico de banco, que deixou os europeus do grupo surpresos: &quot;as pessoas n&atilde;o saem do carro nem para sacar dinheiro?&quot;). No bar, conversamos em grupos at&eacute; que um habitante de San Francisco (e l&aacute; isso tem um monte de significados adjacentes - meio hippie, meio de esquerda, simp&aacute;tico, tranquilo) sugeriu uma rodada geral de apresenta&ccedil;&otilde;es. Falei um pouco sobre o que estava fazendo ali, mas a sensa&ccedil;&atilde;o de estar em uma din&acirc;mica de grupo (planejada, controlada, analisada) me espantou.Voltei ao hotel para preparar minha apresenta&ccedil;&atilde;o para o painel da manh&atilde; de s&aacute;bado. Liguei para a empresa que vendeu meu laptop, descobri que ao contr&aacute;rio do que eu havia requisitado - e pago -, eles n&atilde;o haviam enviado a encomenda por remessa expressa. Ela deveria estar no meio dos EUA, pelo correio comum. Chegaria na segunda-feira, a tempo de me encontrar no hotel, mas j&aacute; depois das minhas duas apresenta&ccedil;&otilde;es. Recebi de volta o valor da entrega, e foi tudo que consegui. Teria que usar um dos computadores do lobby. Tentei subir o sistema do meu HD externo conectado via USB, mas n&atilde;o funcionou. Acabei usando o OpenOffice.org para Windows do computador do hotel. No processo, acabei perdendo a noite de Gala do ISEA. Mas consegui preparar a apresenta&ccedil;&atilde;o para a manh&atilde; seguinte. Depois sa&iacute;, dei uma volta pelo centro, sondei alguns bares mas n&atilde;o tive vontade de entrar e beber sozinho. Voltei ao hotel e pedi outro sandu&iacute;che do mesmo lugar.</a> abq albuquerque blogs desvio estados unidos feeds isea lifelog mutgamb nm novo mexico projetos rota 66 route 66 trip ubalab ubatuba Thu, 17 Jan 2013 01:22:15 +0000 felipefonseca 12930 at http://efeefe.no-ip.org Diário do ventre da besta - parte 1 http://efeefe.no-ip.org/agregando/diario-do-ventre-da-besta-parte-1 <div class=fonte_feed> <em>Este post foi agregado por RSS. Link original:<br> <a href=></a></em></div> --- <blockquote> <p>Primeira parte (de um total ainda não estimado) do relato sobre minha participação no ISEA, setembro passado, em Albuquerque, Estados Unidos. Estava tentando terminar o texto antes de publicar, mas fazem semanas que ele congelou. Envio assim para esquecer esse começo e respirar um pouco.</p> <p>Atualizando: veja a <a href="/blog/diario-do-ventre-da-besta-parte-2" rel="nofollow" rel="nofollow">parte 2</a> e a <a href="/blog/diario-do-ventre-da-besta-parte-3" rel="nofollow" rel="nofollow">parte 3</a>.</p> </blockquote> <p>Recostado em uma cadeira pouco confortável do aeroporto de Atlanta, vi o sol nascer alguns minutos após as sete da manhã, horário local. A data, vinte de setembro, me fez pensar na <a href="http://letras.mus.br/hinos-de-estados/126618/" rel="nofollow" rel="nofollow">aurora precursora do farol da divindade</a> que abre o hino do Rio Grande do Sul. Um dia me disseram que a cultura gauchesca foi um movimento artificial, articulado por uma classe média urbana em busca de identidade. Lembrei disso ali naquele aeroporto, olhando para os senhores de meia idade vestindo chapéus de cowboy como se não os tirassem nem para dormir, mesmo que a pele branca e fina sugira que não tomam sol há tempos. Até que ponto o cinema de faroeste foi uma influência para que os gaúchos urbanos quisessem buscar a imagem do tipo rude do campo para forjar sua identidade? Qual a profundidade dos tentáculos do império? Era minha primeira vez naquelas terras. Voltei com muito mais perguntas do que respostas. Passados mais de dois meses, faço aqui um esforço para documentar a viagem.</p> <p><img alt="" src="/sites/ubalab.org/files/images/edit_2012-09-20_07-43-14_854.jpg" width="500" /></p> <p>"Aproveitem a Babilônia e o ventre da fera… em tempos de eleição…", dizia a mensagem enviada por um local em meados de setembro à lista <a href="http://bricolabs.net" rel="nofollow" rel="nofollow">Bricolabs</a>, dirigida a mim e outros comparsas a caminho dos Estados Unidos (um artista indonésio, um hacker siciliano, uma produtora chilena, entre outrxs). Acho que é impossível chegar aos Estados Unidos sem preconceitos. Minha formação "cultural" apoiada pela indústria de entretenimento carrega um monte de atitudes, trejeitos e sotaques estadunidenses. E os clichês aparecem de fato. A banca de revistas, naturalmente, só tem revistas estadunidenses. Parece até ridículo esperar revistas de diversos países, como em qualquer outro aeroporto do mundo. Para a esmagadora maioria daquela população, os Estados Unidos não são o centro do mundo: os Estados Unidos são o mundo e ponto. Não existe exterior, só Paris (um parque temático) e Londres (museu pré-histórico). O resto é quintal.</p> <p>No dia da partida acordei cedo. Faria calor em sampa (bateu nos 34 graus, e ainda nem tinha virado primavera). Saí bem cedo para compensar o péssimo trânsito. O ônibus demorou 74 minutos entre o Aeroporto de Congonhas e a saída para a Marginal Tietê. No total, quase duas horas.</p> <p>O trecho entre Guarulhos e Atlanta foi tranquilo. Espaço entre poltronas razoável, comida regular. O fone de ouvido era horrível, acabei usando os do meu celular. Avistei uma amiga, algumas fileiras à frente no mesmo avião. A meu lado viajava um estudante de engenharia mineiro, bolsista do programa Ciência sem fronteiras, a caminho de Seattle. Era seu primeiro voo de longa distância. Estávamos cercados (ao lado, na frente e atrás) por mórmons a caráter, o que se repetiria no meu voo de volta ao Brasil. Simpáticos e sorridentes, sempre puxando assunto em um português enrolado. Muito brancos, algo avermelhados pelo sol tropical.</p> <p>Já em solo estadunidense, a fila da alfândega se dobrava em ziguezague. Vários tipos brasileiros por ali: adolescentes a caminho da Disney; a perua reclamando com a amiga da proximidade com o restante do povo; o playboy mineiro carregando a contragosto a volumosa bagagem de mão da namorada, que tentou deixar no meio da fila para coletar na volta mas voltou atrás quando os seguranças do aeroporto demonstraram preocupação. Viajando sozinho, as idas e voltas da fila acabaram me trazendo alguma familiaridade com aquelas pessoas. Dava para ver quem estava nervoso, com medo de chegar no guichê. Achei curioso que eles disponibilizem intérpretes para quem não fala inglês, constantemente chamados pelo alto-falante. Talvez seja prática corrente em outros países, mas confesso que nunca percebi de modo tão explícito. Também chamou minha atenção o altíssimo pé-direito na área da fila, diferente de experiências mais claustrofóbicas em outros aeroportos. O agente da alfândega não me deu maior problema, depois que mostrei os convites, reserva do hotel e passagem de volta.</p> <p>Os terminais do aeroporto são conectados por um trem subterrâneo sem tripulantes, como em Zurich. O trem parece recente. Não queria comer muita coisa, e acabei pegando um pacote de batata frita e um suco artificial que lembrava o brasileiro Tampico. Péssima escolha, deixei os dois pela metade. Em meras três horas esperando o voo seguinte, não tive a oportunidade de conhecer Atlanta, uma cidade da qual a única informação que tenho - também adquirida pela indústria do entretenimento - é ser capital da Georgia, estado que baniu as apresentações de Ray Charles no ápice do apartheid sulista. Sei também que Atlanta sediou as Olimpíadas de 1996. Pensei em Barcelona, a sensação de vazio no bairro olímpico. Pensei no Rio. Percebi muitos negros e negras trabalhando nos serviços básicos do aeroporto. Muito mais do que na média dos aeroportos brasileiros, diga-se de passagem. Por outro lado, também notei a ausência de tonalidades intermediárias de pele. Costuma-se repetir que nos EUA existem menos casamentos interraciais. A paisagem humana dentro do aeroporto parecia uma confirmação disso.</p> <p>Algumas recorrências de clichês eram quase caricaturais. A mulher cheia de penduricalhos dourados falando alto ao telefone com um enrolado sotaque sulista - não era uma sátira, ou pelo menos não intencionalmente. A paranoia de segurança, que já começa antes mesmo do embarque no Brasil com atenção redobrada à identificação do passageiro, além do infame saquinho plástico para separar os líquidos carregados na bagagem de mão, e se estende já em solo americano ao detector de metais de corpo inteiro que evoca aquelas máquinas de Raio X de <a href="http://www.imdb.com/title/tt0100802/?ref_=fn_al_tt_2" rel="nofollow" rel="nofollow">Total Recall</a>. A impressão de que aquelas pessoas sentem-se verdadeiramente no centro de um mundo cuja dimensão ignoram: são o otimista povo superior que habita a terra escolhida, e têm por missão assegurar um futuro próspero para o mundo livre.</p> <p>Logo estava embarcando para continuar a viagem. Rumava a Albuquerque, no Novo México, que sediaria a 18a edição do <a href="http://www.isea2012.org/" rel="nofollow" rel="nofollow">Simpósio Internacional de Arte Eletrônica</a> (ISEA). O tema para este ano era "Machine wilderness", algo como "deserto das máquinas". Fui convidado por <a href="http://burbane.org/" rel="nofollow" rel="nofollow">Andres Burbano</a>, que coordenava o Fórum Latinoamericano do ISEA, a participar de um painel sobre mapeamento colaborativo e moderar um debate sobre "laboratórios abertos em tempos pós-digitais". Estava lá com o apoio do <a href="http://www.cultura.gov.br/site/2012/01/27/programa-de-intercambio-e-difusao-cultural-2012/" rel="nofollow" rel="nofollow">Edital de Intercâmbio</a> do Ministério da Cultura brasileiro, e levava comigo algumas cópias do meu <a href="http://efeefe.no-ip.org/livro/laboratorios-pos-digital" rel="nofollow" rel="nofollow">livro</a> e um flyer em inglês, graças à ajuda do coletivo <a href="http://mutgamb.org" rel="nofollow" rel="nofollow">MutGamb</a>.</p><a href="http://ubalab.org/blog/diario-do-ventre-da-besta-parte-1" title="Diário do ventre da besta - parte 1" lang="en_GB" rev="large" class="FlattrButton" rel="nofollow">Primeira parte (de um total ainda n&atilde;o estimado) do relato sobre minha participa&ccedil;&atilde;o no ISEA, setembro passado, em Albuquerque, Estados Unidos. Estava tentando terminar o texto antes de publicar, mas fazem semanas que ele congelou. Envio assim para esquecer esse come&ccedil;o e respirar um pouco. Atualizando: veja a parte 2 e a parte 3.Recostado em uma cadeira pouco confort&aacute;vel do aeroporto de Atlanta, vi o sol nascer alguns minutos ap&oacute;s as sete da manh&atilde;, hor&aacute;rio local. A data, vinte de setembro, me fez pensar na aurora precursora do farol da divindade que abre o hino do Rio Grande do Sul. Um dia me disseram que a cultura gauchesca foi um movimento artificial, articulado por uma classe m&eacute;dia urbana em busca de identidade. Lembrei disso ali naquele aeroporto, olhando para os senhores de meia idade vestindo chap&eacute;us de cowboy como se n&atilde;o os tirassem nem para dormir, mesmo que a pele branca e fina sugira que n&atilde;o tomam sol h&aacute; tempos. At&eacute; que ponto o cinema de faroeste foi uma influ&ecirc;ncia para que os ga&uacute;chos urbanos quisessem buscar a imagem do tipo rude do campo para forjar sua identidade? Qual a profundidade dos tent&aacute;culos do imp&eacute;rio? Era minha primeira vez naquelas terras. Voltei com muito mais perguntas do que respostas. Passados mais de dois meses, fa&ccedil;o aqui um esfor&ccedil;o para documentar a viagem.&quot;Aproveitem a Babil&ocirc;nia e o ventre da fera&hellip; em tempos de elei&ccedil;&atilde;o&hellip;&quot;, dizia a mensagem enviada por um local em meados de setembro &agrave; lista Bricolabs, dirigida a mim e outros comparsas a caminho dos Estados Unidos (um artista indon&eacute;sio, um hacker siciliano, uma produtora chilena, entre outrxs). Acho que &eacute; imposs&iacute;vel chegar aos Estados Unidos sem preconceitos. Minha forma&ccedil;&atilde;o &quot;cultural&quot; apoiada pela ind&uacute;stria de entretenimento carrega um monte de atitudes, trejeitos e sotaques estadunidenses. E os clich&ecirc;s aparecem de fato. A banca de revistas, naturalmente, s&oacute; tem revistas estadunidenses. Parece at&eacute; rid&iacute;culo esperar revistas de diversos pa&iacute;ses, como em qualquer outro aeroporto do mundo. Para a esmagadora maioria daquela popula&ccedil;&atilde;o, os Estados Unidos n&atilde;o s&atilde;o o centro do mundo: os Estados Unidos s&atilde;o o mundo e ponto. N&atilde;o existe exterior, s&oacute; Paris (um parque tem&aacute;tico) e Londres (museu pr&eacute;-hist&oacute;rico). O resto &eacute; quintal.No dia da partida acordei cedo. Faria calor em sampa (bateu nos 34 graus, e ainda nem tinha virado primavera). Sa&iacute; bem cedo para compensar o p&eacute;ssimo tr&acirc;nsito. O &ocirc;nibus demorou 74 minutos entre o Aeroporto de Congonhas e a sa&iacute;da para a Marginal Tiet&ecirc;. No total, quase duas horas.O trecho entre Guarulhos e Atlanta foi tranquilo. Espa&ccedil;o entre poltronas razo&aacute;vel, comida regular. O fone de ouvido era horr&iacute;vel, acabei usando os do meu celular. Avistei uma amiga, algumas fileiras &agrave; frente no mesmo avi&atilde;o. A meu lado viajava um estudante de engenharia mineiro, bolsista do programa Ci&ecirc;ncia sem fronteiras, a caminho de Seattle. Era seu primeiro voo de longa dist&acirc;ncia. Est&aacute;vamos cercados (ao lado, na frente e atr&aacute;s) por m&oacute;rmons a car&aacute;ter, o que se repetiria no meu voo de volta ao Brasil. Simp&aacute;ticos e sorridentes, sempre puxando assunto em um portugu&ecirc;s enrolado. Muito brancos, algo avermelhados pelo sol tropical.J&aacute; em solo estadunidense, a fila da alf&acirc;ndega se dobrava em ziguezague. V&aacute;rios tipos brasileiros por ali: adolescentes a caminho da Disney; a perua reclamando com a amiga da proximidade com o restante do povo; o playboy mineiro carregando a contragosto a volumosa bagagem de m&atilde;o da namorada, que tentou deixar no meio da fila para coletar na volta mas voltou atr&aacute;s quando os seguran&ccedil;as do aeroporto demonstraram preocupa&ccedil;&atilde;o. Viajando sozinho, as idas e voltas da fila acabaram me trazendo alguma familiaridade com aquelas pessoas. Dava para ver quem estava nervoso, com medo de chegar no guich&ecirc;. Achei curioso que eles disponibilizem int&eacute;rpretes para quem n&atilde;o fala ingl&ecirc;s, constantemente chamados pelo alto-falante. Talvez seja pr&aacute;tica corrente em outros pa&iacute;ses, mas confesso que nunca percebi de modo t&atilde;o expl&iacute;cito. Tamb&eacute;m chamou minha aten&ccedil;&atilde;o o alt&iacute;ssimo p&eacute;-direito na &aacute;rea da fila, diferente de experi&ecirc;ncias mais claustrof&oacute;bicas em outros aeroportos. O agente da alf&acirc;ndega n&atilde;o me deu maior problema, depois que mostrei os convites, reserva do hotel e passagem de volta.Os terminais do aeroporto s&atilde;o conectados por um trem subterr&acirc;neo sem tripulantes, como em Zurich. O trem parece recente. N&atilde;o queria comer muita coisa, e acabei pegando um pacote de batata frita e um suco artificial que lembrava o brasileiro Tampico. P&eacute;ssima escolha, deixei os dois pela metade. Em meras tr&ecirc;s horas esperando o voo seguinte, n&atilde;o tive a oportunidade de conhecer Atlanta, uma cidade da qual a &uacute;nica informa&ccedil;&atilde;o que tenho - tamb&eacute;m adquirida pela ind&uacute;stria do entretenimento - &eacute; ser capital da Georgia, estado que baniu as apresenta&ccedil;&otilde;es de Ray Charles no &aacute;pice do apartheid sulista. Sei tamb&eacute;m que Atlanta sediou as Olimp&iacute;adas de 1996. Pensei em Barcelona, a sensa&ccedil;&atilde;o de vazio no bairro ol&iacute;mpico. Pensei no Rio. Percebi muitos negros e negras trabalhando nos servi&ccedil;os b&aacute;sicos do aeroporto. Muito mais do que na m&eacute;dia dos aeroportos brasileiros, diga-se de passagem. Por outro lado, tamb&eacute;m notei a aus&ecirc;ncia de tonalidades intermedi&aacute;rias de pele. Costuma-se repetir que nos EUA existem menos casamentos interraciais. A paisagem humana dentro do aeroporto parecia uma confirma&ccedil;&atilde;o disso.Algumas recorr&ecirc;ncias de clich&ecirc;s eram quase caricaturais. A mulher cheia de penduricalhos dourados falando alto ao telefone com um enrolado sotaque sulista - n&atilde;o era uma s&aacute;tira, ou pelo menos n&atilde;o intencionalmente. A paranoia de seguran&ccedil;a, que j&aacute; come&ccedil;a antes mesmo do embarque no Brasil com aten&ccedil;&atilde;o redobrada &agrave; identifica&ccedil;&atilde;o do passageiro, al&eacute;m do infame saquinho pl&aacute;stico para separar os l&iacute;quidos carregados na bagagem de m&atilde;o, e se estende j&aacute; em solo americano ao detector de metais de corpo inteiro que evoca aquelas m&aacute;quinas de Raio X de Total Recall. A impress&atilde;o de que aquelas pessoas sentem-se verdadeiramente no centro de um mundo cuja dimens&atilde;o ignoram: s&atilde;o o otimista povo superior que habita a terra escolhida, e t&ecirc;m por miss&atilde;o assegurar um futuro pr&oacute;spero para o mundo livre.Logo estava embarcando para continuar a viagem. Rumava a Albuquerque, no Novo M&eacute;xico, que sediaria a 18a edi&ccedil;&atilde;o do Simp&oacute;sio Internacional de Arte Eletr&ocirc;nica (ISEA). O tema para este ano era &quot;Machine wilderness&quot;, algo como &quot;deserto das m&aacute;quinas&quot;. Fui convidado por Andres Burbano, que coordenava o F&oacute;rum Latinoamericano do ISEA, a participar de um painel sobre mapeamento colaborativo e moderar um debate sobre &quot;laborat&oacute;rios abertos em tempos p&oacute;s-digitais&quot;. Estava l&aacute; com o apoio do Edital de Interc&acirc;mbio do Minist&eacute;rio da Cultura brasileiro, e levava comigo algumas c&oacute;pias do meu livro e um flyer em ingl&ecirc;s, gra&ccedil;as &agrave; ajuda do coletivo MutGamb.</a> atlanta blogs estados unidos feeds isea lifelog mutgamb projetos trip ubalab ubatuba Fri, 30 Nov 2012 19:49:32 +0000 felipefonseca 12890 at http://efeefe.no-ip.org ISEA http://efeefe.no-ip.org/agregando/isea <div class=fonte_feed> <em>Este post foi agregado por RSS. Link original:<br> <a href=></a></em></div> --- <p>Há alguns meses fui convidado por <a href="http://burbane.org/" rel="nofollow" rel="nofollow">Andres Burbano</a>, colombiano que vive nos EUA, a participar do Fórum Latinoamericano dentro do <a href="http://www.isea2012.org/" rel="nofollow" rel="nofollow">ISEA 2012</a>, em <a href="https://en.wikipedia.org/wiki/Albuquerque%2C_New_Mexico" rel="nofollow" rel="nofollow">Albuquerque</a> (tenho sempre o impulso de falar "a" ISEA, mas é "o simpósio"). O convite veio direcionado: ele me indicou para participar de um debate sobre "mapeamento cidadão, balões e pipas" e outro sobre "labs abertos para tempos pós-digitais" (e não é por coincidência que lembra o <a href="http://efeefe.no-ip.org/livro/laboratorios-pos-digital" rel="nofollow" rel="nofollow">título do meu livro</a>). A organização do evento oferecia inscrição no simpósio e algumas noites de hotel. Como meu bolso anda menos que vazio, me inscrevi no <a href="http://www.cultura.gov.br/site/2012/01/27/programa-de-intercambio-e-difusao-cultural-2012/" rel="nofollow" rel="nofollow">programa de intercâmbio</a> do muy contraditório ministério da cultura brasileiro. Semana passada fiquei sabendo que fui selecionado. Agora é correr contra o tempo para vencer a burocracia (enviar documentação complementar para Brasília, esperar o repasse, pedir o visto e enfrentar coleta de dados e entrevista, comprar a passagem a um preço decente). Se tudo der certo, vai ser minha primeira incursão à terra dos comedores de hamburguer. Prometo que conto como foi.</p> <p>E já que esse apoio do ministério ajuda muito mas não resolve a vida e que o país de destino é a raiz do dinheiro do mundo, estou aberto a propostas de patrocínio. A cota mais cara é adesivo no laptop. Camisetas são mais em conta, mas exijo modelos e cores que me caiam bem. Boné, nem pensar só com muita grana.</p><a href="http://ubalab.org/blog/isea" title="ISEA" lang="en_GB" rev="large" class="FlattrButton" rel="nofollow">H&aacute; alguns meses fui convidado por Andres Burbano, colombiano que vive nos EUA, a participar do F&oacute;rum Latinoamericano dentro do ISEA 2012, em Albuquerque (tenho sempre o impulso de falar &quot;a&quot; ISEA, mas &eacute; &quot;o simp&oacute;sio&quot;). O convite veio direcionado: ele me indicou para participar de um debate sobre &quot;mapeamento cidad&atilde;o, bal&otilde;es e pipas&quot; e outro sobre &quot;labs abertos para tempos p&oacute;s-digitais&quot; (e n&atilde;o &eacute; por coincid&ecirc;ncia que lembra o t&iacute;tulo do meu livro). A organiza&ccedil;&atilde;o do evento oferecia inscri&ccedil;&atilde;o no simp&oacute;sio e algumas noites de hotel. Como meu bolso anda menos que vazio, me inscrevi no programa de interc&acirc;mbio do muy contradit&oacute;rio minist&eacute;rio da cultura brasileiro. Semana passada fiquei sabendo que fui selecionado. Agora &eacute; correr contra o tempo para vencer a burocracia (enviar documenta&ccedil;&atilde;o complementar para Bras&iacute;lia, esperar o repasse, pedir o visto e enfrentar coleta de dados e entrevista, comprar a passagem a um pre&ccedil;o decente). Se tudo der certo, vai ser minha primeira incurs&atilde;o &agrave; terra dos comedores de hamburguer. Prometo que conto como foi.E j&aacute; que esse apoio do minist&eacute;rio ajuda muito mas n&atilde;o resolve a vida e que o pa&iacute;s de destino &eacute; a raiz do dinheiro do mundo, estou aberto a propostas de patroc&iacute;nio. A cota mais cara &eacute; adesivo no laptop. Camisetas s&atilde;o mais em conta, mas exijo modelos e cores que me caiam bem. Bon&eacute;, nem pensar s&oacute; com muita grana.</a> america latina blogs estados unidos eventos feeds isea projetos trip ubalab ubatuba Sun, 05 Aug 2012 04:33:57 +0000 felipefonseca 12698 at http://efeefe.no-ip.org Fortaleza http://efeefe.no-ip.org/agregando/fortaleza <div class=fonte_feed> <em>Este post foi agregado por RSS. Link original:<br> <a href=></a></em></div> --- <p>Mês passado, fui a Fortaleza a convite da prefeitura de lá para falar sobre "Cultura e Comunicação", em um dos seminários preparatórios para Conferência Municipal de Cultura que acontece agora em novembro. Eles já vão para a quarta edição da conferência, e conseguem assim avançar em discussões e abrir ao público assuntos que usualmente passam longe da sociedade. Deveriam ser um exemplo para todas as cidades.<br /> Fui muito bem recebido, tanto pelo receptivo da prefeitura quanto por amigos. Depois de um almoço no belo <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Pra%C3%A7a_dos_M%C3%A1rtires" rel="nofollow">Passeio Público</a> <a href="http://twitter.com/uira" rel="nofollow">Uirá</a> me levou para conhecer o <a href="http://cucacheguevara.blogspot.com/" rel="nofollow">Cuca Che Guevara</a>, onde <a href="http://vestigios.wordpress.com/" rel="nofollow">Paulo Amoreira</a> é um dos coordenadores (mas não estava lá naquela tarde). O Cuca é uma estrutura enorme - com laboratórios, estúdios, piscina, teatro e tudo mais. Lembra o tipo de coisa que se imaginava fazer com as <a href="http://www.cultura.gov.br/site/2006/02/22/o-impacto-da-sociedade-civil-desorganizada-cultura-digital-os-articuladores-e-software-livre-no-projeto-dos-pontos-de-cultura-do-minc/" rel="nofollow">BACs</a>, antes do começo de tudo. Tem também ares do SESC de São Paulo, oferecendo aquele ar de clube pra quem não tem acesso. O Cuca fica em um lugar fantástico, de frente para a foz de um rio. Fiquei lá pensando qual é o sentido de construir o centro de convenções de Ubatuba tão longe do mar.</p> <p><a href="http://ubalab.org/blog/fortaleza" target="_blank" rel="nofollow">leia mais</a></p> blogs conferência de cultura cultura feeds fortaleza projetos trip ubalab ubatuba Thu, 10 Nov 2011 04:32:21 +0000 felipefonseca 11743 at http://efeefe.no-ip.org Acelerando http://efeefe.no-ip.org/agregando/acelerando <div class=fonte_feed> <em>Este post foi agregado por RSS. Link original:<br> <a href=></a></em></div> --- <p>Além das experiências continuadas com mapeamento - rolês de bicicleta para coletar traçados com o GPS, edição e publicação de mapas para o <a href="http://openstreetmap.org" rel="nofollow" rel="nofollow">OpenStreetMap</a>, e a montagem do site <a href="http://mapas.ubalab.org" rel="nofollow" rel="nofollow">mapas.ubalab</a> que vai receber camadas de conteúdo georreferenciado -, tem mais um monte de coisas acontecendo por esses dias. Anotando aqui para tentar manter a documentação em dia, apesar das maratonas.</p> <p>Semana passada participei em Sâo Paulo do <a href="http://forumdainternet.cgi.br/" rel="nofollow" rel="nofollow">Fórum da Internet</a>, organizado pelo CGI. Evento importante, promovendo o contato direto entre atores que em geral não se encontram. Foi bom também para rever um monte de gente. Na sequência, fizemos um encontrinho da <a href="http://rede.metareciclagem.org" rel="nofollow" rel="nofollow">MetaReciclagem</a> no SESC VIla Mariana (onde estamos participando da exposição <a href="http://desvio.cc/blog/pedacos-da-terra" rel="nofollow" rel="nofollow">Pedaços da Terra</a>), mesmo com a pesada chuva que escorria pelas bordas de São Paulo no sábado.</p> <p>Esta semana vou a Fortaleza como convidado da Conferência Municipal de Cultura de lá (eles estão na quarta edição!). Vou falar sobre "Cultura e Comunicação". No mês que vem quero também tentar participar do Pré-forum de Cultura Digital que deve acontecer junto ao <a href="http://www.contato.ufscar.br" rel="nofollow" rel="nofollow">Festival Contato</a>, em São Carlos - outra cidade cujo Conselho Municipal de Cultura tem trabalhado bastante.</p><p><a href="http://ubalab.org/blog/acelerando" target="_blank" rel="nofollow">leia mais</a></p> blogs conselho municipal de cultura contato culturadigitalbr documentando feeds fortaleza forumcgi forumdainternet laboratórios do pós-digital livro lpd mapas metareciclagem mutgamb openstreetmap projetos sampa são carlos são paulo sescvm trip ubalab ubatuba Tue, 25 Oct 2011 02:25:07 +0000 felipefonseca 11616 at http://efeefe.no-ip.org GamBHiólogos http://efeefe.no-ip.org/agregando/gambhiologos <div class=fonte_feed> <em>Este post foi agregado por RSS. Link original:<br> <a href=></a></em></div> --- <p>No dia seguinte ao encerramento do <a href="http://culturadigital.br/forum2010" rel="nofollow">Fórum da Cultura Digital Brasileira</a> (onde organizei o <a href="http://culturadigital.br/redelabs/2010/11/encontro-redelabs-como-foi/" rel="nofollow">encontro Rede//Labs</a> e um painel internacional sobre <a href="http://culturadigital.br/redelabs/2010/12/painel-internacional-laboratorios-experimentais/" rel="nofollow">laboratórios experimentais e cultura digital</a>), tomei um avião para BH. Fred Paulino e Lucas Mafra da <a href="http://www.gambiologia.net/blog/" rel="nofollow">Gambiologia</a> tinham me convidado para a abertura (e para escrever um <a href="http://desvio.cc/blog/gambiologia-criatividade-que-nos-faz-humanos" rel="nofollow">texto para o catálogo</a>) da mostra <a href="http://www.gambiologos.com/" rel="nofollow">Gambiólogos</a>, que fazia parte do <a href="http://www.artemov.net/belohorizonte/" rel="nofollow">Arte.Mov BH</a>.</p> <p>O dia da viagem foi atribulado: logo de manhã, antes de sair para o aeroporto, tive a notícia de que um grande amigo da família havia falecido em sua casa no interior do RJ. Para completar, era justamente a semana que completaria um ano do falecimento do <a href="http://twitter.com/dpadua" rel="nofollow">@dpadua</a>, e eu estava indo para a cidade onde ele cresceu. Engoli as lágrimas (o que na semana seguinte me trouxe uma típica dor de garganta) e fui. Eu ficaria bem no centro de BH, no hotel Othon - em um quarto que por algum motivo me fez pensar na casa da minha avó, talvez pelos móveis de banheiro dos anos setentas.</p> <p>No fim da tarde, me encaminhei para o espaço <a href="http://www.centoequatro.org/" rel="nofollow">Centoequatro</a>. A mostra gambiólogos ainda estava sendo montada. Fiquei circulando pelo espaço até a hora da abertura. Encontrei <a href="http://www.wired.com/beyond_the_beyond/" rel="nofollow">Bruce Sterling</a> circulando por lá, me apresentei pra ele, ouvi aquele sotaque texano rasgado perguntando onde encontraria um café. Na hora da abertura, dei mais uma passada na sala onde rolava o gambiólogos. Depois eu publico aqui o texto que mandei para o catálogo. Gostei bastante da mostra, com uma boa diversidade de peças - das mais conceituais às mais práticas, e uma linha coerente na seleção e montagem. Dei uma passada pela mostra do Arte.mov no térreo, que tinha algumas coisas bem interessantes. Tive finalmente a oportunidade de conhecer Rita e Linus, que chegaram por lá com <a href="http://dricaveloso.wordpress.com/" rel="nofollow">Drica Veloso</a>, Lu e <a href="http://chgp.info/" rel="nofollow">CHGP</a>. Encontrei de novo alguns amigos que tinha visto na mesma semana durante o encontro Rede//Labs. </p> <p>No dia seguinte, ainda encontrei o Sterling outra vez no café da manhã do hotel. Fui lá tietar um pouco, pedi um autógrafo pra guardar na minha edição de 1990 do Piratas de Dados (sic). Eu não fazia ideia que a simpática dama à sua frente na mesa era <a href="http://jasminatesanovic.wordpress.com/" rel="nofollow">Jasmina Tesanovic</a>, com quem eu estaria em um debate na semana seguinte em sampa. Peguei meu autógrafo e rumei pro aeroporto, feliz com o dia ensolarado.</p> <p> </p> aliadxs artemov bh desvio gambiologia mostras trip Sat, 04 Dec 2010 02:11:56 +0000 felipefonseca 9516 at http://efeefe.no-ip.org Meio post - ciência, DIY, garagem e bairro http://efeefe.no-ip.org/agregando/meio-post-ciencia-diy-garagem-e-bairro <div class=fonte_feed> <em>Este post foi agregado por RSS. Link original:<br> <a href=></a></em></div> --- <p>Na semana que vem, atravesso o Atlântico mais uma vez. Vou participar do <a href="http://www.labtolab.org" rel="nofollow">Labtolab</a> no <a href="http://medialab-prado.es" rel="nofollow">Medialab Prado</a>, em Madrid. Vou estar lá focado principalmente na pesquisa <a href="http://redelabs.org" rel="nofollow">RedeLabs</a>, mas certamente com um olho colado na programação do <a href="http://medialab-prado.es/interactivos" rel="nofollow">Interactivos</a>, que começa na mesma época. Nessa edição, o tema do Interactivos é ciência de bairro - como extensão do campo da "ciência de garagem" que tem aparecido cada vez mais por aí. Mesmo antes de saber do Labtolab, eu já estava querendo escrever alguma coisa sobre essa transição - da garagem para o bairro, da transição entre o espaço privado e o entorno - e a relação que isso pode ter com uma revitalização da própria ideia de comunidade - explorar curiosidades e aprendizados, levantar a indeterminação <a href="/tag/gambiologia" rel="nofollow">gambiológica</a>, criar laços, trazer segurança e troca. Mas não consegui parar pra escrever, e acho que não vou conseguir tão cedo. Então vou colar aqui embaixo alguns links que tinha coletado pra ilustrar o raciocínio. Um dia eu retomo isso e escrevo.</p> <a href="http://www.bbc.co.uk/portuguese/multimedia/2010/03/100326_fotosespacog.shtml" rel="nofollow">Fotos de amador impressionam a Nasa</a> <a href="http://science.slashdot.org/article.pl?sid=09/03/18/1645216" rel="nofollow">DIY Space Photography</a> <a href="http://olaboca.wordpress.com/2010/03/26/sons-do-coracao-estetoscopio-artesanal-pure-data/" rel="nofollow">Sons do Coração (Estetoscópio Artesanal + Pure Data)</a> <a href="http://www.pearlbiotech.com/" rel="nofollow">pearl biotech</a> <a href="http://bioweathermap.org/" rel="nofollow">BioWeatherMap</a> <a href="http://vimeo.com/3454392" rel="nofollow">DIYbio - vídeo</a> <a href="http://diybio.org/2009/11/11/crafting-the-biological/" rel="nofollow">DIYbio - crafting the biological</a> <a href="http://diybio.org/" rel="nofollow">DIYbio - site</a> <a href="http://seedmagazine.com/content/print/the_biohacking_hobbyist/" rel="nofollow">The Biohacking hobbyist</a> <p> </p> ciência desvio DIY eventos gambiologia interactivos madrid trip Fri, 28 May 2010 18:35:32 +0000 felipefonseca 7798 at http://efeefe.no-ip.org