efeefe - systems of learning http://efeefe.no-ip.org/taxonomy/term/320/0 pt-br Sistemas de aprendizado http://efeefe.no-ip.org/blog/sistemas-de-aprendizado <p>Estive semana passada em Londres, a convite de Bronac Ferran, do RCA/Imperial College, para uma apresenta&ccedil;&atilde;o sobre &quot;Brasilian Media Ecologies&quot;, dentro da programa&ccedil;&atilde;o do <a href="http://rcalondon.ning.com/" rel="nofollow">Systems of Learning</a>. Junto comigo, estavam Ricardo Ruiz e <a href="http://www.lixo.org/" rel="nofollow">Carlos Villela</a>. Na verdade eu experimentei uma longa conversa que come&ccedil;ou tarde de segunda-feira no escritorio do CV com Ruiz e a presen&ccedil;a de Tori Holmes, se estendeu para um pub &agrave; noite com a Bronac e continuou no dia seguinte caminhando com o Ruiz pela Portobello Road, depois atrav&eacute;s do Hyde Park e finalmente na sess&atilde;o propriamente dita, no auditorio do RCA, al&eacute;m de continuar em outro pub e depois encerrar em um restaurante indiano. Durante boa parte das conversas o CV ficou desenhando mindmaps no meu caderno, e apareceram algumas boas id&eacute;ias por ali. Imposs&iacute;vel relatar tudo que a gente conversou, mas v&atilde;o abaixo algumas impress&otilde;es baseadas nos rabiscos do meu caderno.<br /> Rapidinho sobre Londres: cidade doida, mas ao mesmo tempo muito atrativa, at&eacute; aconchegante. Tive problemas na entrada, uma hora de alf&acirc;ndega e uma recomenda&ccedil;&atilde;o pra n&atilde;o voltar antes de seis meses. O hotel era estranho, apertado, e a internet deles oscilava tanto que cheguei a pensar que fosse problema do meu cart&atilde;o wi-fi. Mais uma vez tive que recorrer ao ch&aacute; de boldo, porque &eacute; muita fritura naquela terra. Boas cervejas.<br /> ---<br /> A nossa primeira grande quest&atilde;o foi tentar entender o interesse recorrente no Brasil. Uma das hip&oacute;teses mais prov&aacute;veis &eacute; que no mundo &quot;desenvolvido&quot; est&aacute; se come&ccedil;ando a perceber que o &quot;progresso&quot; n&atilde;o &eacute; uma via de m&atilde;o &uacute;nica, e que &eacute; bastante prov&aacute;vel que o mundo inteiro n&atilde;o v&aacute; seguir o modelo de estado ocidental, democr&aacute;tico, previs&iacute;vel e est&aacute;vel. Uma das palavras-chave &eacute; justamente essa: <i>estabilidade</i>. Lembrei da conversa que tive com o James Wallbank em <a href="http://efeefe.no-ip.org/blog/voltando-do-futuresonic" rel="nofollow">Manchester</a>, e acho que d&aacute; pra tentar aplicar uma quest&atilde;o similar &agrave; que ele levanta (sobre as pessoas estarem perdendo <i>habilidades</i> essenciais para a vida em sociedade): se o mundo, do ponto de vista europeu, est&aacute; se tornando cada vez mais inst&aacute;vel (desemprego, &quot;terrorismo&quot;, imigra&ccedil;&atilde;o, etc), como eles podem aprender a lidar com essa situa&ccedil;&atilde;o? Correndo o risco de parecer rom&acirc;ntico, acredito que uma das caracter&iacute;sticas mais tipicamente brasileiras &eacute; exatamente essa habilidade, de n&atilde;o s&oacute; se manter, mas chegar a evoluir na precariedade, driblando a eventual carestia de estrutura ou recursos com uma grande dose de improvisa&ccedil;&atilde;o e sempre recorrendo &agrave; onipresen&ccedil;a das <i>redes</i>.<br /> Tamb&eacute;m beirando o exagero, adotei uma perspectiva de que as redes est&atilde;o em toda parte: para qualquer tipo de problema que eu possa ter no Brasil, &eacute; bastante prov&aacute;vel que eu recorra em primeiro lugar &agrave; minha rede de contatos. Tem uma coisa que se v&ecirc; nas ruas da Europa, de as pessoas baterem p&eacute; por seus direitos at&eacute; em coisas simples como um &ocirc;nibus atrasar por 10 minutos, porque na cabe&ccedil;a delas <i>&eacute; assim que as coisas deveriam funcionar</i>. E isso vai pra toda parte: em grande parte da Europa ainda se acredita na justi&ccedil;a, no estado, na democracia. Em um cen&aacute;rio de instabilidade, esse tipo de percep&ccedil;&atilde;o &eacute; impratic&aacute;vel.<br /> Minha opini&atilde;o &eacute; que no Brasil a gente aprende a ignorar a maneira como as coisas deveriam funcionar, e ao mesmo tempo aprende que precisa conhecer as pessoas certas se quiser fazer qualquer coisa. Para o bem ou para o mal. De tudo isso decorre uma percep&ccedil;&atilde;o, principalmente na burguesia com refer&ecirc;ncias externas, de que a improvisa&ccedil;&atilde;o e a adaptabilidade ao cotidiano inst&aacute;vel s&atilde;o errados, e que as pessoas deveriam &quot;estudar&quot; para &quot;melhorar de vida&quot;. Engra&ccedil;ado &eacute; ver que na Alemanha est&aacute; se come&ccedil;ando a considerar um problema o fato de o pessoal estudar demais, e o pa&iacute;s precisar de cada vez mais m&atilde;o de obra imigrante para tarefas menos qualificadas. Ouvi mais de uma vez pessoas na Alemanha se referindo ironicamente a si mesmos como um &quot;pa&iacute;s de doutores&quot;. Outra coisa que consegui captar na Europa &eacute; essa sensa&ccedil;&atilde;o do pessoal da minha idade, de terem seguido &agrave; risca o script tra&ccedil;ado pela sociedade: &quot;terminar o col&eacute;gio, viajar por um ano, fazer faculdade, viajar por um ano, mestrado, e agora?&quot; Aqui na Espanha se fala nos &quot;mileuristas&quot;, o pessoal que estudou bastante e continua ganhando a mesma coisa. N&atilde;o que esse tipo de coisa n&atilde;o passe tamb&eacute;m no Brasil - a sociedade-lemingue parece levar todo mundo ao precip&iacute;cio, principalmente a auto-proclamada &quot;classe m&eacute;dia&quot;. Mas no Brasil l&aacute; fora, a verdadeira classe m&eacute;dia - em termos estat&iacute;sticos - tem que improvisar bastante no dia a dia, e isso pode ser um caminho interessante.<br /> Resumindo at&eacute; agora, uma caracter&iacute;stica essencial do ser brasileiro que tem atra&iacute;do interesse na Europa &eacute; a naturalidade com que a gente trata as redes, a colabora&ccedil;&atilde;o e a instabilidade. Encontrei agora uns textos que t&ecirc;m a ver com essa onda:</p> <ul> <li><a href="http://efeefe.no-ip.org/livro/daslu-e-o-camel%C3%B3dromo" rel="nofollow">A Daslu e o Camel&oacute;dromo</a></li> <li><a href="http://mutirao.metareciclagem.org/node/175" rel="nofollow">Anota&ccedil;&otilde;es no coletivo</a></li> <li><a href="http://mutirao.metareciclagem.org/node/177" rel="nofollow">Economia Pirata</a></li> <li><a href="http://mutirao.metareciclagem.org/node/176" rel="nofollow">Brazil Hacker Culture</a></li> </ul> <p>Na sess&atilde;o no RCA, eu comecei falando que n&atilde;o sabia muito bem por onde come&ccedil;ar, porque existem similaridades e diferen&ccedil;as entre o que a gente faz no Brasil e o que se faz pela Europa. Falei do <a href="http://metareciclagem.org" rel="nofollow">MetaReciclagem</a>, mostrei fotinhos e falei do momento que acho fundamental na transforma&ccedil;&atilde;o de &quot;coletivo&quot; em &quot;meta-jogo&quot;: quando decidimos n&atilde;o propor um centro de m&iacute;dia como resposta &agrave; chamada da plataforma Waag-Sarai, evitando a polariza&ccedil;&atilde;o entre institucionalizar e se manter s&oacute; como uma rede informal. Falei um pouco da experi&ecirc;ncia de mega-escala repentina com os Pontos de Cultura, falei da antropofagia, do tropicalismo, da festa como linguagem, e de algumas descobertas no caminho. Falei de gambiarra, de MetaReciclagem como invas&atilde;o pirata, e por a&iacute; foi. Falei at&eacute; do <a href="http://blogs.metareciclagem.org/manaus/" rel="nofollow">Ian</a> e do <a href="http://bailux.wordpress.com/" rel="nofollow">Regis</a>.<br /> O Ruiz levantou um ponto interessante: em contraste com o multiculturalismo das pol&iacute;ticas p&uacute;blicas corretas europ&eacute;ias, o Brasil opta pelo panculturalismo, hibridizado, e com muitos elementos de cultura oral. Falou sobre os encontros, em especial o <a href="http://pub.descentro.org/livro/relatos_fotos_%C3%A1udios" rel="nofollow">Sub#3</a>. O texto que ele e Balbino prepararam est&aacute; <a href="http://pub.descentro.org/wiki/brazilian_medialogies_system_learnings" rel="nofollow">publicado no pub//descentro</a>.<br /> Alguns coment&aacute;rios dxs presentes (como falou a Bronac, poucxs pessoas mas de qualidade) foram bem interessantes. Um deles comentou sobre como na real a MetaReciclagem tem uma postura de alimentar-se de problemas, o que faz algum sentido. <a href="http://mediashed.org/grahamharwood" rel="nofollow">Graham Harwood</a>, envolvido com o <a href="http://mongrelx.org/" rel="nofollow">Mongrel</a> e o <a href="http://mediashed.org/" rel="nofollow">Mediashed</a>, nos perguntou at&eacute; que ponto n&atilde;o est&aacute;vamos, principalmente com os Pontos de Cultura, facilitando o controle, ao digitalizar e explicitar culturas que at&eacute; ent&atilde;o estavam fora de alcance. A quest&atilde;o &eacute; leg&iacute;tima e me incomodou por alguns minutos, mas quero crer que privacidade absoluta &eacute; outro mito moderno que a gente aprende desde cedo a ignorar. Em se tratando de privacidade dom&eacute;stica, morar com um bando de gente, ou em uma casa com popula&ccedil;&atilde;o vari&aacute;vel, facilita o desenvolvimento de diversos c&oacute;digos negociados para conseguir privacidade tempor&aacute;ria ou contextual. Quanto &agrave; privacidade no espa&ccedil;o p&uacute;blico, &eacute; mais complicado. D&aacute; pra argumentar que nas grandes cidades brasileiras existe o espa&ccedil;o privado, que muitas vezes &eacute; coletivizado, e o espa&ccedil;o de ningu&eacute;m - espa&ccedil;o realmente p&uacute;blico, do qual a sociedade se apropria, &eacute; uma coisa rara. No espa&ccedil;o de ningu&eacute;m, a privacidade depende bastante da capacidade de cada 1 tem de se fazer invis&iacute;vel ou mescladx. N&atilde;o &eacute; uma resposta boa, mas me parece adequada.</p> <p>&nbsp;</p> bricolabs descentro eventos london londres systems of learning Mon, 02 Jun 2008 13:00:06 +0000 felipefonseca 3148 at http://efeefe.no-ip.org