efeefe - mídia tática
http://efeefe.no-ip.org/taxonomy/term/47/0
pt-brUma chamada ao exército do amor e ao exército do software
http://efeefe.no-ip.org/agregando/uma-chamada-ao-exercito-do-amor-e-ao-exercito-do-software
<div class=fonte_feed>
<em>Este post foi agregado por RSS. Link original:<br>
<a href=></a></em></div>
---
<p>12 de Outubro de 2011</p>
<p>Por Franco Berardi e Geert Lovink</p>
<p><a href="http://culturadigital.br/movimento/2011/10/25/uma-chamada-ao-exercito-do-amor-e-o-exercito-de-software/" rel="nofollow" rel="nofollow">Tradução colaborativa</a> por Felipe Cabral, Renato Fabbri, Iuri Guilherme dos Santos Martins, Felipe Fonseca e Naldinho Motoboy.</p>
<p><a href="http://networkcultures.org/wpmu/geert/2011/10/12/franco-berardi-geert-lovink-a-call-to-the-army-of-love-and-to-the-army-of-software/" rel="nofollow" rel="nofollow">Original aqui</a>.</p>
<p>A luta contra a Ditadura Econômica [1] está em erupção.</p>
<p>Os chamados “mercados financeiros” e seus serviços cínicos estão destruindo os fundamentos da civilização social. O legado do compromisso do pós-guerra entre a classe operária e a burguesia progressista está longe de desaparecer. Políticas neoliberais estão cortando custos da educação e do sistema de saúde pública e derrubando o direito a um salário e uma pensão. O resultado será o empobrecimento de grande parte da população, a precariedade das condições de trabalho (freelances em alta, contratos de curto prazo, períodos de desemprego) e a humilhação diária dos trabalhadores. O efeito da crise financeira ainda poderá ser visto através da violência, com pessoas evocando bodes expiatórios [2] e expalhando raiva aos quatro ventos. Limpeza étnica, guerra civil, a obliteração da democracia. Este é um sistema que chamamos o Nazismo Financeiro: FINAZISMO.</p>
<p>Agora mesmo, as pessoas estão lutando em muitos locais e de muitas maneiras. O Occupy Wall Street inspirou uma mobilização em massa em Nova Iorque, que está se expandindo pelos Estados Unidos a cada dia. Na Grécia, trabalhadores e estudantes estão okupando a Praça Syntagma e protestando contra a extorsão do Banco Central Europeu, que está devastando o país. Cairo, Madrid e Tel Aviv: a lista dos movimentos de praças está proliferando. Em 15 de outubro, cidades ao redor do mundo irão [2] lotar com pessoas protestando contra o roubo sistêmico.</p>
<p>Será que nossas demonstrações e ocupações vão parar a máquina Finazista? Não. A resistência não vai resistir, e nossa luta não vai parar os crimes legais. Vamos ser francos, nós não vamos persuadir nossos inimigos a parar seus ataques predatórios (‘vamos lucrar ainda mais com a pŕoxima queda’) pela simples razão de que nossos inimigos não são seres humanos. Eles são máquinas. Sim, seres humanos – gerentes, acionistas, negociadores – estão guardando o dinheiro que nós estamos perdendo, e predam os recursos que os trabalhadores produzem. Políticos assinam leis que entregam as vidas de milhões de pessoas para o Deus Todo-Poderoso do Mercado.</p>
<p>Banqueiros e investidores não são os verdadeiros tomadores de decisões, eles são participantes em uma economia de confusão gestual. O real processo do poder predatório se tornou automatizado. A transferência de recursos e riqueza daqueles que produzem para aqueles que não fazem nada a não ser observar os padrões abstratos de transações financeiras está embutida na máquina, no software que controla a máquina. Esqueça os governos e os partidos políticos. Estes fantoches que fingem ser líderes estão de conversa fiada. A opção paternalista que eles oferecem através de ‘medidas austeras’ enfatiza um cinismo galopante inerente aos partidos políticos: todos eles sabem que perderam o poder para o modelo de capitalismo econômico há anos. Desnecessário dizer que a classe política está ansiosa para controlar e sacrificar os recursos sociais do futuro através de cortes de orçamento para ‘satisfazer os mercados’. Pare de dar ouvidos a eles, pare de votar neles, pare de pular de raiva e amaldiçoá-los. Eles são apenas cafetões, e a política está morta.</p>
<p>O que deveríamos fazer? Viver com a violência Finazista, curvar-nos à arrogância dos algoritmos, aceitar a exploração crescente e o declínio dos salários? Não. Vamos lutar contra o Finazismo, pois nunca é tarde demais. Neste momento, ele está vencendo por duas razões. Primeiro, porque perdemos o prazer de estarmos juntos. Trinta anos de precariedade e competição destruiram nossa solidariedade social. A virtualização das mídias destruiu a empatia entre os corpos, o prazer de tocar o outro e o prazer de viver no espaço urbano. Perdemos o prazer no amar, por muito tempo devotado ao trabalho e às exigências virtuais. [ 3 ] O grande exército do amor tem que acordar. Segundo, porque nossa inteligência tem sido submetida ao poder dos algoritmos em troca de um punhado de dinheiro de merda e de uma vida virtual. Por um salário miserável quando comparado aos lucros dos chefes de corporações, um pequeno exército de softwaristas estão aceitando a tarefa de destruir a dignidade humana e a justiça. O pequeno exército de programadores tem que acordar.</p>
<p>Há apenas uma maneira de acordar o amante que está escondido em nossos paralisados, assustados e frágeis corpos virtualizados. Há apenas uma maneira de acordar o ser humano que está escondido na vida diária miserável do softwarista: tomar as ruas e lutar. Queimar bancos é inútil, pois o poder real não está nas construções físicas, mas na conexão abstrata entre números, algoritmos e informação. Porém, ocupar bancos é bom como um ponto de partida para um processo de longo prazo de desmantelamento e re-escrita dos autômatos tecno-linguísticos que estão escravizando todos nós. Esta é a única política que conta. Alguns dizem que o movimento Occupy Wall Street não tem demandas claras e uma agenda. Esta observação é ridícula. Como no caso de todos os movimentos sociais, os contextos políticos e motivações são diversos, mesmo difusos ou muito frequentemente contraditórios. O movimento de ocupação não seria melhor com demandas mais realistas.</p>
<p>O que é emocionante agora é a multiplicidade de novas conexões e compromissos. Mas ainda mais emocionante é encontrar maneiras que podem pôr em marcha o “êxodo” coletivo da agonia capitalista. Não vamos falar sobre a “sustentabilidade” do movimento. Isto é chato. Tudo é transitório. Estes eventos de combustão rápida não nos ajudam a superar a depressão diária. Ocupar as praças e outros espaços públicos é uma forma de responder à curta duração das manifestações e passeatas. Estamos aqui para ficar.</p>
<p>Não estamos demandando uma reforma do sistema financeiro global ou do Banco Central Europeu. O retorno às moedas nacionais do passado, tal como requisitado pelos direitistas populistas, não irá tornar os cidadãos comuns menos vulneráveis às especulações monetárias. Um retorno à soberania do Estado também não é uma solução, e muitas pessoas já percebem isto. A demanda por mais intervenção, controle e supervisão dos mercados é um gesto desesperado. A verdadeira questão é que os humanos não estão mais no comando. Precisamos desmantelar as próprias máquinas. Isto pode ser feito de uma maneira muito pacífica. Hackear seus sistemas, publicar seus crimes através de iniciativas como o Wikileaks [ 4 ] e então deletar suas redes assassinas de negócios em tempo real, para sempre.</p>
<p>Mercados financeiros são feitos da política de velocidade e desterritorialização. Mas nós conhecemos suas arquiteturas e vulnerabilidades. O mundo financeiro perdeu sua legitimidade. Não há mais consenso global de que o ‘mercado’ está sempre certo. E esta é nossa chance de agir. O movimento deve responder à altura. Desativar e reprogramar o software financeiro não é um sonho de uma sabotagem ludita da máquina. Regulação do mercado não irá fazer o serviço, apenas autonomia e auto-organização dos programadores pode desmantelar os algoritmos predatórios e criar programas de auto-empoderamento para a sociedade.</p>
<p>O intelecto geral e o corpo social erótico devem se encontrar nas ruas e nas praças, e unidos irão quebrar as cadeias do Finazismo.</p>
<h2>Notas de tradução:</h2>
<p>[ 1 ] No texto original o termo usado é “Ditadura Financeira”. No entanto, José Saramago, durante o documentário “Janela da Alma” já havia conceituado esse fenomeno como Ditadura Econômica, portanto acho mais prudente utilizá-lo aqui.</p>
<p>[ 2 ] É sempre importante lembrar a explicação e as implicações do significado do termo Bode Expiatório (com x). O bode expiatório era um animal que era apartado do rebanho e deixado só na natureza selvagem como parte das cerimônias hebraicas do Yom Kippur, o Dia da Expiação, a época do Templo de Jerusalém. Este rito é descrito na Bíblia em Levítico, capítulo 16. Em sentido figurado, um “bode expiatório” é alguém que é escolhido arbitrariamente para levar (sozinho) a culpa de uma calamidade, crime ou qualquer evento negativo (que geralmente não tenha cometido). A busca do bode expiatório é um ato irracional de determinar que uma pessoa ou um grupo de pessoas, ou até mesmo algo, seja responsável de um ou mais problemas sem a constatação real dos fatos. A busca do bode expiatório é um importante instrumento de propaganda. Um clássico exemplo são os judeus durante o período nazista, que eram apontados como culpados pelo colapso político e pelos problemas econômicos da Alemanha. Atualmente, o uso de bodes expiatórios é cada vez mais combatido e, quanto esta tendência é levada ao seu extremo, podem ser criadas regras sociais de controle da linguagem, como no caso do politicamente correto.</p>
<p>[ 3 ] No caso do Brasil, vale destacar a iniciativa do Olimpicleaks ( <a href="http://olimpicleaks.midiatatica.info" title="http://olimpicleaks.midiatatica.info" rel="nofollow" rel="nofollow">http://olimpicleaks.midiatatica.info</a> ), plataforma colaborativa para a publicação de documentos oficiais escondidos e materiais que detalham as reconfigurações do Rio de Janeiro para os mega-eventos globais, focando nos autoritários casos de remoções forçadas e ilegais. Antes escondidos, estes documentos agora estão digitalizados e disponíveis ao público</p>
<p>[ 4 ] Apesar de reconhecer a importância da tecnologia digital para a mobilização social, percebe-se que os autores não se desfazem do mito de que a Internet e comunicação eletrônica por si só afastam as pessoas.</p><a href="/conectaz/Mutir%C3%A3o-da-Gambiarra" rel="nofollow">Mutirão da Gambiarra</a>bifo berardigeert lovinkmetareciclagemmídia táticaTue, 25 Oct 2011 14:18:12 +0000felipefonseca11623 at http://efeefe.no-ip.orgJasmina Tešanović - Arte.mov
http://efeefe.no-ip.org/agregando/jasmina-tesanovic-artemov
<div class=fonte_feed>
<em>Este post foi agregado por RSS. Link original:<br>
<a href=></a></em></div>
---
<p>O pessoal do <a href="http://artemov.net" rel="nofollow">Arte.mov</a> me convidou para ser moderador, junto com Bruna Calegari, de uma conversa com <a href="http://jasminatesanovic.wordpress.com/" rel="nofollow">Jasmina Tešanović</a> na semana passada, no CINUSP. <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Jasmina_Te%C5%A1anovi%C4%87" rel="nofollow">Jasmina</a> é sérvia, ativista de mídia de longa data, que teve um papel importantíssimo durante a guerra do Kosovo (e a perseguição de Slobodan Milosevic contra outros povos da ex-Iugoslávia). Ela é autora de diversos livros, entre eles o Diary of a Political Idiot. Esteve envolvida com a rádio <a href="http://www.b92.net/eng/" rel="nofollow">B92</a> e com a organização pacifista feminista <a href="http://www.zeneucrnom.org/index.php?lang=en" rel="nofollow">Women in Black</a>. É casada com <a href="http://blog.wired.com/sterling" rel="nofollow">Bruce Sterling</a>.</p>
<p><a href="http://giselad.com" rel="nofollow">Gisela Domschke</a>, que organizou a conversa, chamou também pessoas envolvidas com diversas iniciativas no Brasil: Pajé, Rogério Borovik e outros. Também estavam presentes Almir Almas e Lucas Bambozzi, além de vários convidados internacionais do Arte.mov e do próprio Bruce Sterling.</p>
<p>O vídeo da conversa está incorporado no fim desse post. Eu, particularmente, não gostei da minha participação. Não conhecia muito bem o trabalho dela, e fiquei patinando pra encontrar pontos de contato, sem muito sucesso. Mas posso indicar alguns momentos que achei mais interessantes na fala dela.</p>
<p>Jasmina evoca o conceito grego de idiotia - o idiota como aquele a quem é negada a informação, e consequentemente a cidadania plena - mas em contexto de guerra, em que de repente as pessoas não podiam mais comunicar-se entre si, à medida que as autoridades sonegavam informação. Jasmina conta que, como a Sérvia era a agressora, as pessoas de fora do país não faziam questão de conversar com eles, nem mesmo aqueles que não apoiavam a guerra. Ela recebeu seu primeiro PC contrabandeado dos EUA, através da Women in Black. Diz que precisava correr pela cidade atrás de tomadas para usar o computador. Ela enviava por email um diário que era "um blog antes dos blogs". Não escrevia sobre a política oficial, e sim sobre suas consequências no dia a dia. As pessoas de fora tinham uma imagem errada da Sérvia. Imaginavam camponeses em algum lugar esquecido, quando Belgrado era uma cidade de 3,5 milhões de habitantes - maior do que grande parte das capitais europeias. Ela pôde sentir na pele que, quando se corta a infraestrutura a cidade começa a morrer. A falta de remédios, comida, eletricidade dava a noção da dependência que a vida moderna tem. Ela via a mãe morrer aos poucos no hospital, pela falta de antibióticos.</p>
<p>Conta que tinha mais medo da polícia local do que das bombas estrangeiras. De forma análoga, ela usava os contatos no exterior como uma medida de segurança - quanto maior fosse sua rede fora do país, mais segurança ela teria. Hoje em dia ela continua se relacionando com movimentos na Sérvia, apesar de não viver mais por lá. Virou um hub no twitter, fazendo a conexão entre pessoas e ações. Acredita que a internet transformou a vida cotidiana, que quando as pessoas pegam as ferramentas nas próprias mãos e publicam sem intermediários é possível fazer uma estrutura paralela, com centros de poder alternativos. Ela sempre se considerou uma "usuária fanática", mas que não se importa com o que existe dentro das ferramentas - assim como dirige um carro para chegar a algum lugar, sem precisar saber como ele funciona. Mas que ter nas mãos a própria mídia é uma possibilidade que não podemos deixar que nos tirem.</p>
<p>No debate que se seguiu, acho que minha única contribuição relevante foi questionar, em um contexto de ameaças à neutralidade da rede e privacidade opaca, se não existiria perigo quando novas gerações de ativistas fossem somente usuárias: utilizando-se de plataformas proprietárias como o facebook, que eventualmente pode revelar o IP e hábitos online deles. Perguntei se o desconhecimento total sobre o funcionamento interno dessas ferramentas não consistiria também em outro tipo de idiotia. Ela respondeu que hoje em dia a privacidade absoluta não existe - com o que eu certamente <a href="http://efeefe.no-ip.org/blog/sistemas-de-aprendizado" rel="nofollow">concordo</a> - mas o assunto não vingou.</p>
<p>De qualquer maneira, valeu para conhecer o trabalho da Jasmi</p>
<p>
</p>
<a title="Watch artemov" href="http://www.livestream.com/artemov?utm_source=lsplayer&utm_medium=embed&utm_campaign=footerlinks" rel="nofollow">artemov</a> on livestream.com. <a title="Broadcast Live Free" href="http://www.livestream.com/?utm_source=lsplayer&utm_medium=embed&utm_campaign=footerlinks" rel="nofollow">Broadcast Live Free</a>
<p> </p>artemovativismodebatedesvioeventosjasminakosovomídia táticaserviaTue, 07 Dec 2010 17:52:10 +0000felipefonseca9514 at http://efeefe.no-ip.orgMessage in-a-box
http://efeefe.no-ip.org/blog/message-box
<p>replicando:</p>
<p>Hiya<br />
<br />
I'm pleased to announce that Tactical Tech's new toolkit Message in-a-box: Tools and Tactics for communicating your cause (<a target="_blank" href="http://messageinabox.tacticaltech.org/" rel="nofollow">http://messageinabox.<wbr></wbr>tacticaltech.org/</a>) is now online. The toolkit is available on a website and also available as a booklet and CD to enable those without internet access to make the most of the content. I'd like to take this opportunity to thank you for your contribution to the toolkit.<br />
<br />
Message in-a-box is a set of strategic guides to using communications tools for social change, together with a suite of open source tools to get you making your own media. The toolkit is designed for small and medium-sized NGOs, advocates, and citizen journalists to help them create and distribute content for their advocacy efforts while exploring the constantly evolving world of campaigning and communications.<br />
<br />
The continued success of Tactical Tech's skills building toolkits comes from the partnership we have with the activists and organisations who tell us about the impact of our materials on their work. So we're asking toolkit recipients to provide some evaluation information to help us develop Tactical Tech's programmes. We'll be adding an online questionnaire to the site over the coming weeks.<br />
<br />
I'd love to send you a DVD and booklet of the toolkit so if you want one (or even more!)please send me your address and I'll get one over to you!<br />
<br />
cheers<br />
<font color="#888888"> Becky Faith<br />
Project Leader<br />
<a target="_blank" href="http://tacticaltech.org/" rel="nofollow">http://tacticaltech.org/</a></font></p>articulandomídia táticatactical techTue, 28 Oct 2008 19:10:27 +0000felipefonseca3330 at http://efeefe.no-ip.orginvisibilidade
http://efeefe.no-ip.org/blog/invisibilidade
spooky miller na <a href="http://www.nettime.org/info.html" rel="nofollow">nettime</a>:<br /><blockquote>but this is just daily routine. When G.P.S coordinates can be used in
court, you have an update on how people can think of locative artforms:
when being invisible becomes a strength.<br /></blockquote>sim. <a href="http://rede.metareciclagem.org/conectaz/Oraculismo" rel="nofollow">oraculismo</a> se preocupa com isso.<br />mídia táticamobilidadeoraculismoMon, 01 Sep 2008 20:41:28 +0000felipefonseca3242 at http://efeefe.no-ip.orgSoftware livre e Mídia Tática
http://efeefe.no-ip.org/textos/software-livre-e-midia-tatica
<p><em>Esse artigo foi publicado na revista eletrônica <a title="ComCiência" href="http://www.comciencia.br/200406/reportagens/17.shtml" rel="nofollow">ComCiência, em junho de 2004</a>.</em></p>
<p align="left"><span>O software livre já é uma opção pertinente para o usuário médio, ou seja, aquelas pessoas que utilizam um ambiente gráfico, cliente de email, player MP3, gravador de CD, descompactador de arquivos e aplicativos de escritório. Existe substituto à altura para grande parte do software proprietário necessário para quase todas essas tarefas realizadas cotidianamente. Para falar a verdade, em alguns casos o software livre supera as opções proprietárias em muitos, caso do navegador Firefox, entre tantos outros exemplos. Esse contexto é potencialmente revolucionário: qualquer pessoa pode hoje usar efetivamente um computador sem contribuir com as remessas de lucros enviadas anualmente para o exterior e evitando também a alternativa mais comum: o uso de software pirata. Isso tem impacto direto nas iniciativas públicas de universalização do acesso à tecnologia, como podem atestar os milhares de usuários dos telecentros de São Paulo. </span></p>
<p align="left"><span>A flexibilidade do software livre também é solo fértil para inovação. Com base no GNU/Linux e em soluções abertas, temos feito no MetaReciclagem algumas coisas que seriam impossíveis em software proprietário, não necessariamente pelo custo, mas pela impossibilidade de otimizar o código: um telecentro com 15 estações Pentium 100 Mhz <em>diskless</em> rodando em um servidor que é pouco mais potente do que um <em>desktop</em> doméstico; um <em>videowall</em> interativo com nove monitores, rodando em um servidor e duas estações, todos Pentium MMX 200 Mhz, com não mais do que 40Mb de RAM, e outras brincadeiras. Não são coisas simples de executar. Dalton Martins e nossa equipe de técnicos insanos passaram horas pesquisando essas e outras soluções. Mas os resultados aparecem, principalmente pelo empenho deles em fazer acontecer, e por podermos contar com conhecimento livre, o que expande nosso universo de colaboradores dos pouco mais de dez que estão diretamente envolvidos com o MetaReciclagem para os milhares que já aprimoraram algum pedaço de código. Nós nos valemos da força colaborativa do software livre para alavancar nossa própria criatividade.</span></p>
<p align="left"><span>Temos trabalhado com algumas iniciativas voltadas para o que pode ser chamado de Mídia Tática: <a title="v1" name="v1" rel="nofollow"></a><a href="http://www.comciencia.br/200406/reportagens/17.shtml#o1" rel="nofollow">o uso de ferramentas de comunicação em prol de movimentos sociais</a>. Brigamos algumas vezes pelo uso de software livre nesses projetos: já chegamos a ponto de quase ter que forçar um projeto a adotar software livre. Apesar de haver uma grande coerência entre um esforço para a socialização do uso das mídias e o exemplo de criação colaborativa que é o software livre, sempre acabo sentindo uma certa resistência. Muitos dizem que não existe software para produção midiática. Isso é um engano tremendo. Gosto de mostrar o <a title="v2" name="v2" rel="nofollow"></a><a href="http://www.comciencia.br/200406/reportagens/17.shtml#o2" rel="nofollow">Dyne:bolic</a> para essas pessoas. Alguns, um pouco mais informados, dizem que até existe, mas não dá pra confiar. Outro erro. Afirmam isso aqueles que nunca chegaram a testar o software livre. Poucos são os que realmente saíram da zona de conforto e efetivamente testaram. Esses, sim, podem reclamar, e concordo totalmente com o que eles costumam dizer: a interface dos softwares de produção em multimídia é muito menos intuitiva do que daqueles que são utilizados em ambiente profissional, a instalação é muito complexa, há dificuldades para adequar o material a padrões de mercado (separação de cores para gráfica, ou <em>codecs</em> de vídeo, por exemplo). </span></p>
<p align="left"><span>Acontece que não há maneira de surgir de repente o aplicativo ideal. A maioria dos "artivistas", como alguns deles gostam de ser chamados, tem um verdadeiro fetiche pela ferramenta perfeita. Justamente por isso, não saem da zona de conforto para testar soluções livres. Se os maiores interessados não se prontificam a testar e aprimorar o software, quem vai fazer isso? Essa é a mudança de paradigma. Não existe, como é o caso no software proprietário, uma empresa interessada em desenvolver o melhor para colher mais lucros. </span></p>
<p align="left"><span>Os casos de sucesso no desenvolvimento aberto foram aqueles em que os usuários eram os próprios desenvolvedores, ou então aqueles em que os usuários se dispunham a uma interação aprofundada com os desenvolvedores, frequentemente sendo questionados sobre cada uma das funcionalidades que queriam. Acontece que a grande maioria dos "artivistas" - com honrosas exceções, deixo claro - não se dispõem a tais sacrifícios. Deve ser algo prejudicial à imagem deles serem vistos conversando com <em>geeks</em> (alguém que gosta de tecnologia). Além disso, é bem mais fácil comprar um CD pirata em qualquer camelô por aí e instalar ao invés de perder duas horas explicando para um magrelo de óculos porque é que tem que ter um <em>preview</em> de efeitos de vídeo, não é mesmo? Alguns deles até se sentem orgulhosos de usar CDs piratas. Propagam que estão subvertendo o sistema. Pura ilusão. Fazer vista grossa às cópias para uso pessoal e depois cobrar pelo uso empresarial é uma das estratégias mais conhecidas de conversão de usuários e manipulação do mercado de software. </span></p>
<p align="left"><span>Usar software pirata, no momento em que estamos, só tem uma justificativa plausível: preguiça.</span></p>
<p align="left"><span>Até aí, tudo bem, um dos impulsos naturais do ser humano. Mas não é só isso. Se é o caso de um artista isolado usando software pirata para editar os vídeos captados na sua câmera comprada na última visita a Nova Iorque, eu não tenho o direito de reclamar muito. A vida é dele, se quer continuar a ser escravo de luxo de multinacionais desde que possa afirmar que está subvertendo o sistema, que fique à vontade. Mas se estamos falando de projetos de cunho social que tratam da capacitação de comunidades periféricas para o uso de mídia e replicação de estruturas de mídia alternativa (uma das possíveis extensões para a chamada <a title="v3" name="v3" rel="nofollow"></a><a href="http://www.comciencia.br/200406/reportagens/17.shtml#o3" rel="nofollow">terceira onda da inclusão digital</a>), usar software proprietário é uma obscenidade. Por trás de toda a aura de responsabilidade social e mídia de protesto, esses artivistas estão agindo como propagandistas da indústria do software, criando mais e mais gerações de dependentes da ferramenta padrão de cada área, que vão precisar recorrer ao pirata se quiserem fazer um estúdio amador de áudio, por exemplo.</span></p>
<p align="left"><span>Como mudar essa situação? Bom, já ficou claro que o Brasil tem uma efervescência na produção de software livre. Talvez o pessoal de produção de mídia tenha que sair um pouco do comodismo e procurar essa moçada que, a cada dia inventa novas maneiras de fazer as máquinas conversarem. Isso é muito diferente de mandar uma cartinha para o SAC de um fabricante de software dizendo o que você quer na próxima versão do produto. O processo é tratar a tecnologia como artesanato. E rever todos os conceitos que você tem sobre o que é necessário para trabalhar com mídia. Garanto que é um processo criativo sensacional, embora não garanta maior reputação no clubinho <em>hype</em> da semana. O software livre continua se movimentando por aí, eventos pipocam para todos os lados. Acho que é o momento de aproveitar e recrutar alguns bons desenvolvedores para ajudar a migrar a produção de mídia também para software livre. Quem está comigo nessa?</span></p>artigosmídia táticasoftware livreMon, 28 May 2007 03:14:38 +0000felipefonseca262 at http://efeefe.no-ip.org