efeefe - lisboa http://efeefe.no-ip.org/taxonomy/term/406/0 pt-br Anotações de vôo http://efeefe.no-ip.org/blog/anota%C3%A7%C3%B5es-de-v%C3%B4o <p>Ganhei uma carona de casa at&eacute; o aeroporto de Congonhas, onde ia tomar o fresc&atilde;o at&eacute; Guarulhos. Fui bem cedo, pra evitar problemas. At&eacute; chegar no aeroporto, usava havaianas e carregava as botas com pelos por dentro na m&atilde;o. A previs&atilde;o para Amsterdam era frio (para os nossos padr&otilde;es). Doming&atilde;o paulistano, aquela cidade impessoal, vazia de almas, em boa parte do caminho. A lua me acompanhava, dizendo boa viagem. Tentei fotograf&aacute;-la, mas foto de celular &eacute; lixo.<br /> <br /> O v&ocirc;o para Amsterdam vai fazer uma escala em Lisboa. Check-in muito tranq&uuml;ilo. Uma poltrona F, corredor interno na direita. Sem vizinhos: duas poltronas s&oacute; para mim. Equipe de bordo simp&aacute;tica, e avi&atilde;o aparentemente novo. O sistema de multim&iacute;dia, pessoal, com touchscreen e controle remoto, rodava Linux. Eu sei porque o meu travou, reiniciou o X, travou de novo, deu um reboot at&eacute; funcionar. Engra&ccedil;ado que o fato de ser linux evitou que eu ficasse puto. Se fosse esperar o boot do windows, certamente teria reclamado com o comiss&aacute;rio. Ali&aacute;s, o comiss&aacute;rio veio confirmar que eu queria comida vegetariana. N&atilde;o queria. Mas o senhor pediu. N&atilde;o pedi. Quem comprou minha passagem deve ter pedido. O senhor precisa se descadastrar, sen&atilde;o em todos os v&ocirc;os da TAP vai aparecer como vegetariano. Ok. Menu impresso.<br /> <br /> At&eacute; Lisboa, tudo ok. Cheguei at&eacute; a dormir uns 20 minutos e depois uma horinha (eu nunca durmo em avi&otilde;es, mas fica mais f&aacute;cil ocupando duas poltronas). Passei liso na alf&acirc;ndega. Gosto de ouvir o sotaque portugu&ecirc;s. Aeroportos s&atilde;o n&atilde;o-lugares. Eu costumo gostar das surpresas no hall, mas dentro das salas de embarque tudo &eacute; muito ass&eacute;ptico e frio. <br /> <br /> * * * <br /> <br /> Nuvens brancas se estendem pela Europa continental. Um grande cobertor l&aacute; embaixo, segurando o inverno que eu j&aacute; esqueci. Aqui no avi&atilde;o, estou de camiseta. Estranho pensar como est&atilde;o as coisas l&aacute; debaixo da cobertura de vapor. Encontrar o sol &eacute; f&aacute;cil, basta subir alguns quil&ocirc;metros. <br /> <br /> Na decolagem (descolagem, no mundo luso), percebi que se n&atilde;o gostei muito de Lisboa foi porque estava sozinho. Quem sabe daqui a alguns anos consigo passar uns dias l&aacute; com minha c&uacute;mplice de vida, e vou gostar mais. Pensei nas ruas do centro. Vi um pequeno veleiro navegando e lembrei da escola de Sagres, lembrei de Ubatuba. Lembrei da minha fam&iacute;lia portuguesa, do meu bisav&ocirc; Felisberto Pereira da Fonseca que era inventor e vivia quase na fronteira do Brasil com o Uruguay. Quis partir de Lisboa e ir at&eacute; a Gal&iacute;cia. Passar pela fronteira com a Espa&ntilde;a, visitar a Fonseca, descansar a mente. Mas n&atilde;o vai ser t&atilde;o logo. Planos para os futuros.<br /> <br /> * * * <br /> <br /> Voar costuma ser um inc&ocirc;modo para mim. O ar, as pessoas, o lance de precisar ficar sentado. Mas nesse trecho LIS-AMS estava muito bem. Resgatei aquela parte de mim que gosta muito de viajar. A alma se agita, novidades v&atilde;o aparecer, os lugares sempre t&ecirc;m surpresas. Fico feliz que tamb&eacute;m minha dama sinta essas coisas, essa coceira do movimento, essa ciganeza do esp&iacute;rito.<br /> <br /> * * * <br /> <br /> <strong>Amsterdam</strong><br /> <img src="http://farm4.static.flickr.com/3313/3342506475_9297047166.jpg?v=0" alt="frio" /><br /> Foi uma semana fria para mim. Os holandeses diziam que j&aacute; est&aacute; morno, o pior j&aacute; passou. Verdade, mas continuo achando frio. No fim das contas, eu fiquei bastante enfurnado: o Stayokay Zeeburg, onde ficamos hospedados, era tamb&eacute;m onde com&iacute;amos e onde era realizada grande parte do wintercamp. Virando a esquina (mas tamb&eacute;m com um acesso interno) ficava o caf&eacute; Studio K, onde se realizavam outras atividades e onde beb&iacute;amos nas horas vagas. N&atilde;o sa&iacute;mos muito de l&aacute; (a programa&ccedil;&atilde;o come&ccedil;ava &agrave;s 10h e ia at&eacute; &agrave;s 21h30, geralmente). Durante a semana, sa&iacute; duas vezes para andar, uma para comprar meu computador. Finalmente conheci o raquelabe que o broda <a href="http://jaromil.dyne.org" rel="nofollow">Jaromil</a> montou. Parece que n&atilde;o v&atilde;o durar l&aacute;, j&aacute; tem uma carta de despejo, mas o lance t&aacute; bonito, com computadores e poltronas e tudo mais. Fomos uma noite pra l&aacute;, passamos no supermercado ali perto e trouxemos cervejas e frutas e outras coisas. Esse lado de Amsterdam que ainda &eacute; legal est&aacute; desaparecendo. A especula&ccedil;&atilde;o imobili&aacute;ria e a sociedade consumista ocidental est&atilde;o acabando com tudo. Uma merda. No s&aacute;bado, perdi a primeira metade das apresenta&ccedil;&otilde;es (inclusive algumas que queria ter visto) para dar uma volta pela cidade. Nisso, fiz umas <a href="http://www.flickr.com/photos/felipefonseca/tags/amsterdam/" rel="nofollow">fotinhos</a>.<br /> <br /> * * * </p> <p>AMS-LIS. O sono veio me pegar. A noite foi curta. Como precisava estar no aeroporto &agrave;s 4h25, sa&iacute; cedo da festa de encerramento (ok, &quot;festa&quot; &eacute; exagero, mas eles chamavam assim). Antes das 11, j&aacute; estava dormindo. Tinha passado na Centraal Station pra confirmar os trens at&eacute; o aeroporto e j&aacute; comprar o ticket.&nbsp; Acordaria, tomaria um t&aacute;xi at&eacute; o trem e pronto. Levantei &agrave;s 3h, fiz o check-out e fui pegar minha mala no arm&aacute;rio ao lado da recep&ccedil;&atilde;o. Faltavam vinte centavos. Uma moeda de 20. Voltou. Duas moedas de dez. Voltaram. Uma moeda de um Euro. Voltou. Fui at&eacute; a recep&ccedil;&atilde;o: n&atilde;o t&ocirc; conseguindo tirar minha mala. &quot;N&atilde;o, n&atilde;o est&aacute; funcionando&quot;. Como assim? &quot;Est&aacute; quebrado, agora s&oacute; amanh&atilde; de manh&atilde;&quot;. Meu senhor, eu tenho que tomar um trem pro aeroporto daqui a 40 minutos. &quot;N&atilde;o posso fazer nada&quot;. Registrei feliz com o canto do olho que literalmente um bando de amigxs voltavam: alguns da festa ao lado, outros de uma balada eletr&ocirc;nica. <a href="http://conservas.tk" rel="nofollow">Simona</a> chegou perto, expliquei pra ela o que tava rolando. A not&iacute;cia se espalhou. Voltei pro tio da recep&ccedil;&atilde;o: meu senhor, eu tenho que voar pro Brasil, e meu passaporte est&aacute; l&aacute; dentro. Isso &eacute; um crime. Se n&atilde;o tirar minhas coisas de l&aacute;, vou chamar a pol&iacute;cia. Em alguns segundos, um broda j&aacute; estava pedindo o nome dos caras e amea&ccedil;ando: se n&atilde;o resolvessem em vinte minutos, ele ia no squat dos amigos ali perto e voltaria com um p&eacute;-de-cabra. Um recepcionista ligou pra algu&eacute;m e apareceu com uma pasta cheia de c&oacute;digos. Tentou digitar, e nada. As meninas do <a href="http://genderchangers.org" rel="nofollow">genderchangers</a> da &Aacute;ustria ofereceram rachar o t&aacute;xi comigo, direto at&eacute; o aeroporto, pra n&atilde;o perder o tempo que levaria at&eacute; a Centraal Station. O tiozinho continuava digitando o c&oacute;digo. Eu s&oacute; pensava no meu passaporte e no casaco, se fosse pelo resto eles podiam enviar depois. Ele voltou, ligou pro dono do hostel e s&oacute; depois conseguiu. </p> <p>Fiquei feliz de ter amigxs. E amigxs guerreirxs ;)</p> <p>* * * </p> <p><strong>Chega</strong><br /> <img src="http://farm4.static.flickr.com/3413/3343334876_757b72a785.jpg?v=0" alt="" /><br /> No fim, uma conclus&atilde;o: cansei de gringol&acirc;ndia. De ver as mesmas pessoas e aquele urbanismo bonitinho mas previs&iacute;vel. Especialmente em Amsterdam. Gentrificada, segundo locais. J&aacute; sem muito da gra&ccedil;a, pra mim. E a crise como assunto do momento. Concordo com quem diz que essa gente &eacute; destreinada pra lidar com adversidade. Olham pro futuro e s&oacute; v&ecirc;em um muro. O mundo vai mudar mesmo nos pr&oacute;ximos anos. E daquele jeito, quem sobrevive ao temporal &eacute; o junco que tem ginga, n&atilde;o o carvalho que tem for&ccedil;a e estrutura. <br /> <br /> Pr&oacute;ximos anos: desviar, Ubatubar e Brasilizar. Muita coisa pra fazer por aqui.</p> amsterdam lisboa trip wintercamp Fri, 13 Mar 2009 21:37:46 +0000 felipefonseca 4124 at http://efeefe.no-ip.org