efeefe - gauchismo http://efeefe.no-ip.org/taxonomy/term/287/0 pt-br Expatriado http://efeefe.no-ip.org/blog/expatriado <p>Ser ga&uacute;cho expatriado &eacute; voltar de 10 dias em Porto Alegre pensando &quot;n&atilde;o tenho mais nada em comum com aquele povo l&aacute;&quot;. E depois pensar &quot;n&atilde;o tenho nada em comum com mais ningu&eacute;m&quot;.</p> <p>Mas n&atilde;o deixar de tomar um mate quente a cada dois dias.</p> <p>E reclamar da superficialidade, da falta de consci&ecirc;ncia pol&iacute;tica, do comodismo, do consumismo, da ignor&acirc;ncia e muitas coisas mais de todo mundo que n&atilde;o &eacute; ga&uacute;chx.</p> <p>Ser ga&uacute;cho &eacute; reclamar.</p> <p>?</p> gauchismo lifelog porto alegre Mon, 08 Sep 2008 20:15:49 +0000 felipefonseca 3272 at http://efeefe.no-ip.org Mais gauchismo http://efeefe.no-ip.org/blog/mais-gauchismo E uns dias depois de escrever um pouco sobre o <a href="/blog/gauchismo" rel="nofollow">gauchismo</a>, acabei caindo nesse <a href="http://www.charles.pilger.com.br/blog/manifesto-contra-o-tradicionalismo-sul-rio-grandense/" rel="nofollow">manifesto contra o tradicionalismo sul-riograndense</a>, no blog do Pilger. Algumas coisas ali fazem muito sentido.<br /><div style="margin-left: 40px;">1.. Somos contra o Movimento Tradicionalista Gaúcho, especialmente porque, em sua cruzada unificadora, construiu uma idéia vitoriosa de “rio-grandense autêntico”, pilchado e tradicionalista, criando uma espécie de discriminação, como se a maioria da população tivesse uma cidadania de segunda ordem, como “estrangeira” no “estado templário” produzido fantasiosamente pela ideologia tradicionalista.<br /><p> 2.. Somos contra o Movimento Tradicionalista Gaúcho, por identificá-lo como um movimento ideológico-cultural, com uma visão conservadora e ilusória sobre o Rio Grande, cujo sucesso se deve, em especial, à manipulação e ressignificação de patrimônios genuínos do povo, pertencentes aos seus hábitos e costumes.</p> <p> 3.. Somos contra o Tradicionalismo, porque ele não é a Tradição, mas se arrogou de seu representante e a transformou em elemento de sua construção simbólica, distorcendo-a, manipulando-a, inserindo-a em uma rede gauchesca aculturadora, sem respeito às tradições genuinamente representativas das diversidades dos grupos sociais.</p><p> 4.. Somos contra o Tradicionalismo, porque ele não é Folclore, mas o caducou dentro de invernadas artísticas e retirou dele seus aspectos dinâmicos e pedagógicos; o seu apresilhamento ao espírito e ao sentido do pilchamento do estado está destruindo o Folclore do Rio Grande do Sul.</p> <p> 5.. Somos contra o Tradicionalismo, porque ele é um movimento organizado na sociedade civil, de natureza privada, mas que desenvolveu uma hábil estratégia de ocupação dos órgãos do Estado, da Educação e de controle da programação da mídia, conseguindo produzir a ilusão de que o tradicionalismo é oficialmente a genuína cultura e a identidade do Rio Grande do Sul. A “representação” tomou o lugar da realidade.</p> <p> 6.. Somos contra o Tradicionalismo, porque, insensível à história e à constituição multicultural do Rio Grande do Sul, através de procedimentos normativos, embretou o rio-grandense em uma representação simbólica pilchada.</p> <p> 7.. Somos contra o Tradicionalismo, porque ele criou um calendário de eventos e, através de seus prepostos, aprovou leis que “reconhecem” o próprio tradicionalista como modelo gentílico, apesar de ser, em verdade, um ente contemporâneo, sem enraizamento histórico e cultural.</p><p> 8.. Somos contra o Tradicionalismo porque identificamos nele a criação de instrumentos normativos usurpadores, com a ambição de exercer um controle sobre a população, multiplicando a cultura da “patronagem”, com a reprodução de milhares de caudilhetes que tiranizam os grupos sociais em seu cotidiano. Tiranetes que, com sua truculência, ditam regras “estéticas” e limitam os espaços da arte e da cultura, lançando o preconceito estigmatizador, pejorativo e excludente, sobre formas de comportamento e manifestações artísticas inovadoras ou sobre concepções do regional, diferentes da matriz “cetegista”, mesmo quando essas manifestações surgem no interior do próprio Tradicionalismo.</p> <p> 9.. Somos contra o Tradicionalismo, porque ele instrumentaliza política e culturalmente uma visão unificadora, como se a origem identitária do Rio Grande estivesse no movimento da “minoria farroupilha”, falseando sobre a sua natureza “republicana”, elencando um panteão de “heróis” latifundiários e senhores de escravos, como se fossem entes tutelares a serem venerados pelas gerações atuais e vindouras.</p> <p> 10.. Somos contra o Tradicionalismo, por ele se fazer passar por uma Tradição, desmentida pela própria história de sua origem, ao ser inventado através de uma bucólica reunião de estudantes secundaristas, em 1947, no colégio Júlio de Castilhos, em Porto Alegre.</p> <p> 11.. Somos contra o Tradicionalismo, porque ele se transformou em força institucional e “popular”, em cultura oficial, através dos prepostos da Ditadura Militar no Rio Grande do Sul.</p> <p>a) Na verdade, em 1964, o Tradicionalismo foi incluído no projeto cultural da Ditadura Militar, pois o “Folclore”, como fenômeno que não pensa o presente, serviu de alternativa estatal à contundência do movimento nacional-popular, que colocou o povo e seus problemas reais no centro das preocupações culturais e políticas.</p> <p>b) O Tradicionalismo usurpou, assim mesmo, o lugar do Folclore, e se beneficiou do decreto do general Humberto Castelo Branco, de 1965, que criou o Dia Nacional do Folclore, e suas políticas sucedâneas. A difusão de espaços tradicionalistas no Estado e as multiplicações dos galpões crioulos nos quartéis do Exército e da Brigada Militar são fenômenos dessa aliança.</p> <p>c) A lei que instituiu a “Semana Farroupilha” é de dezembro de 1964, determinando que os festejos e comemorações fossem realizados através da fusão estatal e civil, pela organização de secretarias governamentais (Cultura, Desportos, Turismo, Educação, etc.) e de particulares (CTGs, mídia, comércio, etc.).</p> <p>d) Durante a Ditadura Militar, o Tradicionalismo foi praticamente a única “representação” com origem na sociedade civil que fez desfiles juntamente com as forças da repressão.</p> <p>e) Enquanto as demais esferas da cultura eram perseguidas, seus representantes censurados, presos, torturados e mortos, o Tradicionalismo engrossou os piquetes da ditadura - seus serviçais pilchados animaram as solenidades oficiais, chulearam pelos gabinetes e se responsabilizaram pelas churrasqueadas do poder. Esse processo de oficialização dos tradicionalistas resultou na “federalização” autoritária, com um centro dominador (ao estilo do positivismo), com a fundação do Movimento Tradicionalista Gaúcho, em 1967. Autoritário, ao estilo do espírito de caserna dos donos do poder, nasceu como órgão de coordenação e representação. Enquanto o general Médici, de Bagé, era o patrão da Ditadura e responsável, juntamente com seu grupo, pelos trágicos anos de chumbo que enlutaram o Brasil na tortura, na execução, na submissão à censura, na expulsão de milhares de brasileiros para o exílio, os tradicionalistas bailavam pelos salões do poder. Paradoxalmente, enquanto muitos freqüentadores de CTGs eram perseguidos ou impedidos de transitarem suas idéias políticas no âmbito de suas entidades, o Tradicionalismo oficialista atrelou o movimento ao poder, pervertendo o sentimento de milhares de pessoas que nele ingressaram motivados por autênticos sentimentos lúdicos de pertencimento e identidade fraterna. </p> <p>f) Através da relação de intimidade com a ditadura, o MTG conseguiu “criar” órgãos estatais de invenção, difusão e educação tradicionalista, ao mesmo tempo em que entregou, ou reservou diversos cargos “públicos”, para seus ideólogos, sob os títulos de “folclorista”, “assessor cultural”, etc.</p> <p>g) O auge do processo de colaboração entre a Ditadura e o MTG foi a instituição do IGTF - Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, em 1974, consagrando uma ação que vinha em operação desde 1954. A missão era aparentemente nobre: pesquisar e difundir o folclore e a tradição. Mas do papel para a realidade existe grande diferença. Havia um interesse perverso e não revelado. A constituição do quadro de pessoal, ao contrário da inclusão de antropólogos, historiadores da cultura, pessoas habilitadas para a tarefa (que deveriam ser selecionadas por concurso público), o critério preponderante para assumir os cargos era, antes de tudo, a condição de tradicionalista. Assim, um órgão de pesquisa, mantido pelo dinheiro público, transformou-se em mais uma mangueira do MTG. Com o passar dos anos, os governos que tentaram arejar o IGTF, indicando dirigentes menos dogmáticos, invariavelmente, entraram em tensão com o MTG.</p> <p>h) Essa rede de usurpação do público pelo Tradicionalismo, por fim, atingiu a força de uma imanência incontrolável. Em 1985, já na redemocratização, o MTG conseguiu que a Assembléia Legislativa instituísse o Dia do Gaúcho, adotando como tipo ideal o “modelo” tradicionalista.</p> <p>i) Em 1988, com uma manipulação jamais vista na vida republicana, o MTG se mobilizou pela aprovação da lei estadual que estabeleceu a “obrigatoriedade do Ensino de Folclore”; na regulamentação, a lei determinou que o IGTF exercesse a função de “suporte técnico”, sem capacitá-lo pedagogicamente. De fato, passou a ocorrer uma relação direta entre as escolas e os CTGs. Dessa maneira, o Tradicionalismo entrou no sistema educacional, transgredindo a natureza da escola republicana como lugar de estudo e saber, e não de culto e reprodução de manuais. Hoje, os alunos são adestrados pela pedagogia de aculturação e cultuação tradicionalista.</p> <p>j) Por fim, em 1989, a roupa tradicionalista recebeu o nome de “pilcha gaúcha”, e foi convertida em traje oficial do RS, conforme determinação do MTG.</p><p>E continua. Excelente contextualização.<br /></p></div> gauchismo Wed, 19 Mar 2008 19:01:49 +0000 felipefonseca 3038 at http://efeefe.no-ip.org Gauchismo http://efeefe.no-ip.org/blog/gauchismo Nessas últimas semanas um monte de gente me faz lembrar do Rio Grande do Sul. Por exemplo:<br /><br />* Um trecho de e-mail da <a href="http://elenara.com.br" rel="nofollow">lelex</a> pra uma lista na semana passada:<br /><blockquote> tem um folclore no fsm que as edições realizadas em poa sempre atingiram seus objetivos por ser o Rio Grande do Sul um estado brasileiro onde o mundo se encontra, vive, produz, enfim, coisas do imaginário social mundial, mas de certa forma impressiona, quem já foi a suiça qdo chega em gramado tem a sensação de estar nos alpes, não só pela paisagem como pela gastronomia, clima, hábitos, costumes, assim como tbém na serra pode-se sentir na italia, ou alemanha, enfim... em nossas fronteiras estão os povos árabes, descendentes do mesmo povo que está sendo reprimido e expulso de suas terras na faixa de gaza... por aí já dá prá perceber que o povo gaucho vive da diversidade... nada de bairrismo, constatação... mas, como disse Oiticica "no brasil há fios soltos de possibilidades: por que não explorá-los?"</blockquote> * Uma tuitagem seguida de post do <a href="http://luli.com.br/admin/2008/03/17/despeito-vs-defensividade/" rel="nofollow">Luli</a>.<br />* A mudança do <a href="http://eduf.net/" rel="nofollow">Eduf</a> pra Três Coroas.<br />* Um post do <a href="http://www.idelberavelar.com/archives/2008/03/em_porto_alegre.php" rel="nofollow">Idelber</a>.<br />* A volta à blogagem do <a href="http://qualquer.org/bugio/" rel="nofollow">Cardoso</a>.<br />* Há um pouco mais de tempo, o <a href="http://marceloestraviz.org/" rel="nofollow">Estraviz</a> foi pra tal conferência mundial de cidades em Porto Alegre e voltou elogiando os textos do <a href="http://augustodefranco.locaweb.com.br/" rel="nofollow">Augusto de Franco</a>.<br /> <br />Eu eu aqui pensando... o Luli falou em uma suposta maior civilidade gaúcha. Depende, tem várias perspectivas sobre isso. Porto Alegre é uma cidade pequena, com população relativamente estável - se não me falha a memória, o censo de 1980 indicava uma população de um milhão e pouco, e hoje em dia não passa de um milhão e meio (não acho que a população não cresça, mas tem esse fluxo constante de gaúchxs para o mundo). Gaúchxs têm (e cultivam) uma reputação de trabalhadorxs, competentes, aguerridxs, arrogantes e politizados. Também misto de fato e mito é a tal diversidade. Reza a lenda que uma das conseqüências da libertação de escravxs que lutaram na guerra dos farrapos, algumas décadas antes da abolição, é uma mais numerosa (mesmo que ainda pequena) classe média negra do que em outras capitais. Minha experiência confirma isso, mas de qualquer forma, minha amostragem pode ser viciada - eu cresci em escolas públicas em Porto Alegre. Outra história que li em algum lugar foi que o Rio Grande do Sul foi um dos pólos de desenvolvimento de religiões afro-brasileiras.<br /><br />Mas acho que não dá pra exagerar. Eu lembro de bastante preconceito com sotaques de fora, com gente do interior, com gente de outros bairros, com gente de outros times, com pessoas de outras orientações sexuais. Porto Alegre tem bastante de europa sim, inclusive essa mistura de preconceito com disciplina e auto-elogio - "gaúcho é trabalhador, carioca é malandro, baiano é vagabundo, catarinense é burro, paulista é consumista, paranaense é indeciso, mineiro é preguiçoso" e por aí vai. Isso me incomoda, e bastante. A tal civilidade também não resiste muito pra quem tenta caminhar pelo bom fim à noite (no começo da minha adolescência eu fui assaltado algumas vezes por ali). E, como diz um comentário em algum desses posts, gaúchxs são bons de debate, mas na hora de fazer... tem um ceticismo ferrenho, ou outras prioridades, ou algum tipo de sabotagem, que inviabilizam muita coisa.<br /><br />Na real, nem sei mais. Saí de lá ainda no milênio passado. Quero ver se passo um mês na província no segundo semestre, pra tentar entender de novo como anda aquela terra. Enquanto não rola, vou ouvindo o Vitor Ramil de novo.<br /> gauchismo porto alegre Sun, 16 Mar 2008 16:48:54 +0000 felipefonseca 3029 at http://efeefe.no-ip.org