efeefe - catedral e o bazar http://efeefe.no-ip.org/taxonomy/term/45/0 pt-br A Daslu e o Camelódromo http://efeefe.no-ip.org/textos/daslu-e-o-camelodromo <p><em>Esse artigo foi publicado na revista A Rede, em <a title="A Rede" href="http://www.arede.inf.br/index.php?option=com_content&amp;task=view&amp;id=366&amp;Itemid=99" rel="nofollow">novembro de 2005</a>.</em></p> <p class="western"><br /> <span class="texto_materia">Nos &uacute;ltimos anos, o Brasil se tornou refer&ecirc;ncia mundial em iniciativas que usam o <em>software </em>livre para combater a exclus&atilde;o digital. O modelo de telecentro foi adotado em esferas governamentais e do terceiro setor, e milh&otilde;es de pessoas tiveram a oportunidade de usar as tecnologias da informa&ccedil;&atilde;o e comunica&ccedil;&atilde;o (TIC). Mas para qu&ecirc;? Muitos projetos de inclus&atilde;o digital tratam todo o universo de possibilidades sociais das TIC como mera quest&atilde;o de estar dentro ou fora. Podemos estar nos esquivando da parte mais interessante do debate: entender de que forma essas tecnologias podem ser adaptadas para melhorar a vida das pessoas.<br /> <br /> Um caminho &eacute; a perspectiva de apropria&ccedil;&atilde;o tecnol&oacute;gica. Enquanto as pessoas n&atilde;o tiverem consci&ecirc;ncia de que podem elas mesmas manipular a tecnologia, a transforma&ccedil;&atilde;o proporcionada por essas iniciativas ter&aacute; alcance limitado. Muitos telecentros funcionam como cibercaf&eacute;s gratuitos: ainda existe a dist&acirc;ncia entre o pessoal &quot;de dentro&quot; e o &quot;p&uacute;blico&quot;. A preocupa&ccedil;&atilde;o &eacute; que as comunidades tenham acesso &agrave; internet. Mas pouco se fala que as pessoas n&atilde;o precisam ser apenas usu&aacute;rias, e que podem ser co-autores. Se o que buscamos &eacute; transforma&ccedil;&atilde;o sustent&aacute;vel, gerar autonomia &eacute; fundamental. Aprender a preencher um curr&iacute;culo em um editor do texto n&atilde;o traz vantagem a longo prazo para ningu&eacute;m. Al&eacute;m disso, &eacute; triste ver pessoas que aprendem a digitar, mas n&atilde;o t&ecirc;m nenhuma familiaridade com o ato de escrever. Sabem usar o <em>software</em>, at&eacute; que digitam r&aacute;pido, mas nada do que escrevem tem alma. Instigaram seu desejo de fazer parte do seleto clube dos usu&aacute;rios de computadores, mas n&atilde;o o seu desejo de express&atilde;o e de cria&ccedil;&atilde;o.<br /> <br /> Muitos coordenadores de projetos esquecem que a comunicabilidade &eacute; um tra&ccedil;o marcante da cultura brasileira, com o papo de bar, a fofoca e a mania de dar <em>pitaco</em>. Ali&aacute;s, mesmo dentro dos telecentros, o papo de boteco continua: os brasileiros criaram fama ao usar servi&ccedil;os como o blogger, o fotolog ou o orkut. E eu j&aacute; ouvi coordenadores de projeto perguntando se havia como bloquear o acesso a esses <em>sites</em>. Querem que as pessoas usem a tecnologia para se comunicar, mas proibir o que elas fazem de melhor? Ah, certo: um usu&aacute;rio correto deve acessar um portal de not&iacute;cias para ver o resultado do jogo ou o que vai acontecer na novela, e depois preencher seu curr&iacute;culo. Um camel&ocirc; que tem acesso ao maravilhoso mundo da internet vai deixar de ser camel&ocirc; e virar <em>office-boy</em>, como deve fazer um inclu&iacute;do, certo?<br /> <br /> Errado! Por que n&atilde;o pensar em como a tecnologia pode melhorar a vida do camel&ocirc;? Por que todo mundo precisa querer ser uma Daslu, catedral, modelo excludente e baseado em pura competi&ccedil;&atilde;o? Por que esse pessoal tem tanta vergonha do camel&oacute;dromo da esquina, ao qual todo mundo vai? Ali&aacute;s, a met&aacute;fora de Eric Raymond, que op&otilde;e a catedral aos bazares para demonstrar o <em>software</em> livre, pode muito bem ser tropicalizada como &quot;a Daslu e o camel&oacute;dromo&quot;. A primeira &eacute; baseada na centraliza&ccedil;&atilde;o do poder, na competi&ccedil;&atilde;o e na inatingibilidade. O bazar vira camel&oacute;dromo, din&acirc;mico, org&acirc;nico, vivo e participativo. Como aproveitar as caracter&iacute;sticas culturais brasileiras para obter o m&aacute;ximo das tecnologias? O primeiro passo &eacute; buscar processos voltados &agrave;s din&acirc;micas de mutir&atilde;o, que existem em qualquer canto, do <em>puxadinho</em> &agrave; escola de samba. Uma proposta seria trocar todos os cursos de editor de texto por oficinas de weblogs. E estimular as pessoas a usarem a internet para promover a troca de conhecimentos, a&ccedil;&otilde;es colaborativas e a mobiliza&ccedil;&atilde;o coletiva.<br /> </span></p> <p><span class="texto_materia"> </span></p> artigos camelô camelódromo catedral e o bazar inclusão digital namidia puxadinho software livre Mon, 28 May 2007 03:12:46 +0000 felipefonseca 261 at http://efeefe.no-ip.org