Remixando um texto já publicado antes, trazendo novos insights, etc…
No contexto internacional das novas mídias e da arte eletrônica, os medialabs - laboratórios de mídia - têm um papel essencial – desde o emblemático medialab do norte-americano MIT, passando por iniciativas diversas em países europeus como o Medialab Prado de Madrid e a Tesla de Berlim, até projetos de intercâmbio com países em desenvolvimento como a plataforma Waag/Sarai entre Holanda e Índia.
A posição que tais laboratórios ocupam, sempre se adaptou às características cambiantes do próprio campo em que atuam. Se muitos medialabs funcionaram como espaços de acesso quando as tecnologias não eram tão acessíveis, atualmente eles têm por desafio permanecer relevantes em uma época de disseminação de tecnologias. Mesmo no Brasil, um computador pode ser comprado em prestações baixas em qualquer hipermercado e as conexões de banda larga têm se expandido a cada trimestre.
Em uma época na qual o acesso a tecnologias de produção e publicação de mídias está cada vez mais facilitado, um cenário em que as redes abertas fazem a informação circular diretamente entre as pessoas, qual a razão de existir de um laboratório de mídia? A dinâmica do trabalho criativo tem se transformado de forma cada vez mais rápida, e a estratégia “build it and they’ll come” não faz mais sentido. Para incentivar a produção criativa, é necessária uma sensação de apropriação e de gestão compartilhada, no sentido da reconstrução da própria idéia de espaço público. Isso demanda a reinvenção do próprio imaginário dos laboratórios de mídia. Que tipo de relação uma estratégia para laboratórios de mídia deve manter com o que tem sido construído nos últimos anos como uma cultura digital eminentemente brasileira?
Mais do que oferecer simplesmente uma estrutura, os medialabs mais interessantes de hoje em dia engajam-se em um diálogo cada vez mais aberto e crítico com o meio com o qual se relacionam, e tornam-se espaços de referência e intercâmbio, cabeças de rede, muito mais agenciando conversas do que expressando uma posição própria específica. Esses espaços, em vez de buscar exclusividade, concedem a artistas e coletivos a liberdade de adotar estratégias nômades, impermanentes e autônomas para sua produção, articulação e divulgação. Com isso, encontram relevância mesmo em um mundo de comunicação fragmentada e desestruturada.
A criação e dinamização de redes de articulação, produção e distribuição de cultura digital não pode se limitar à estrutura. Um traço característico das culturas brasileiras é justamente a força que as redes adquirem no dia a dia. Chama a atenção em todo o mundo o nosso nível profundo de apropriação de ambientes sociais online, o recorde mundial de horas conectados, a naturalidade cotidiana da gramática da rede.
Algumas das iniciativas brasileiras mais relevantes no cenário da mídia eletrônica são exatamente aquelas que se configuram como redes abertas. É necessário tratar essa perspectiva não só como ferramenta ou estrutura, mas como eixo conceitual – a construção de novos horizontes sobre espaços experimentais e de produção artística, e entender como isso dialoga com nossa maneira única de negociar os espaços cotidianos. Em outras palavras, não só usar uma rede para falar sobre arte, mas essencialmente tratar a própria rede como um projeto experimental, de arte nos novos meios de comunicação.
A reflexão da plataforma RedeLabs vai no sentido de propor um passo adiante, em que se mesclam os referenciais de laboratórios de mídia e a cultura digital brasileira. Ao longo dos próximos meses, vamos propor estratégias para o estímulo de redes que articulem espaços de produção nesse sentido.
Colaborações serão sempre bem-vindas.